Pergunta:
Pensando que poderá arrumar de vez a questão da função de «A homem pobre» na frase «A homem pobre ninguém roube»», gostaria apenas de perguntar à Sr.ª Dr.ª Maria Regina como se deveria então classificar tal sintagma se o provérbio fosse «A homem pobre ninguém tire»...? Arruma a questão, não arruma? Pode ser complemento indirecto e, neste provérbio-variante, é-o mesmo!
Ansioso por um "feed-back" ("retroacção"? Algo obscuro... "resposta"? Algo estreito... Como traduzir aqui?)
Obrigado.
Resposta:
Se a frase fosse «A homem pobre ninguém tire...», estaria incompleta, pois exigiria que se perguntasse «Ninguém tire o quê?», esperando-se que a oração fosse completada com um qualquer complemento directo, visto, neste caso, o termo «a homem pobre» ser o complemento indirecto.
Mas a frase «A homem pobre ninguém tire...» não é equivalente a «A homem pobre ninguém roube», como passo a explicar.
1.º A frase que o consulente apresenta não está completa. Nesta frase, o verbo «tirar» exige um complemento directo expresso na oração. Não estando esse complemento directo expresso, a frase não é sentida como completa. Pelo contrário, a frase «A homem pobre ninguém roube» não exige mais nada; é sentida como completa tal como está.
2.º Isto acontece porque o verbo «tirar» não tem rigorosamente o mesmo significado do verbo «roubar». Na frase que o consulente apresenta, o verbo «tirar» tem o sentido de «privar de», «subtrair fraudulentemente» algo a alguém, enquanto no provérbio o verbo «roubar» significa «despojar», «espoliar», «esbulhar», acepções estas que o verbo «tirar» não contém.
3.º Na primeira resposta que dei a esta pergunta, explicitei que, se o provérbio estivesse construído de outra forma, com dois complementos expressos, então o verbo «roubar» estaria utilizado na simples acepção de «tirar» algo a alguém, podendo o termo «a homem pobre» ser um complemento indirecto, como, por exemplo, na frase «Ninguém roube o pão a um homem pobre», que – esta, sim – é uma frase equivalente a «Ninguém tire o pão a um homem pobre». Mas essa seria uma outra frase, que não está aqui em análise.
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