Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

«A economia portuguesa ainda funciona de uma forma tradicional (…); são empregos de âmbito tradicional e não vão de encontro às novas licenciaturas».

Fátima Campos Ferreira, a apresentadora do programa “Prós e Contras” da RTP-1 (8 de Janeiro de 2007), ainda confunde o inconfundível: de encontro a significa «contra» («Ele foi de encontro à parede»), enquanto ao encontro de significa «em consonância com», «de acordo com» («a proposta veio ao encontro dos meus desejos (...)

No programa Dança Comigo da RTP1 de Domingo, 31 de Dezembro de 2006, a apresentadora, Catarina Furtado, referiu-se assim à dança espanhola "paso doble": «Embora os mais conhecidos "paso dobles" sejam os de temática tourina, a verdade é que também existem outros tipos de "paso doble": os marcha, os de concerto e os regionais.»

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Pergunta:

Ao ouvir, há dias, o animador de serviço na Rádio Comercial (creio que era o Diogo Beja), ouvi referir qualquer coisa acerca de prendas de Natal, que logo foi corrigida com esta frase, perante a minha estupefacção: «Não, não se diz prendas; presentes.» Daí em diante só se falou em presentes. A minha dúvida é só uma: qual é a regra linguística que determina que não se diz «prendas»? Ou foi o locutor que inventou essa? Ou será uma daquelas parvoíces, tão em voga na sociedade portuguesa, que alguns supostamente bem postos e muito socialmente correctos (tipo Paula Bobone), de vez em quando resolvem lançar como moda para toda a gente ir atrás, como um rebanho, sem sequer saber porque o fazem?

Resposta:

Os termos presente e prenda usam-se indistintamente com o significado de oferta, mas há, efectivamente, uma certa diferença entre eles. Com a palavra presente queremos dizer que a nossa oferta é símbolo da nossa presença. Por meio da oferta dizemos que estamos presentes. E a verdade é que, quando nos ausentamos, o objecto que oferecemos faz com que sejamos lembrados, faz perdurar a nossa presença junto de quem o recebeu. Presente é um substantivo formado do adjectivo presente (do latim ‘praesente-‘). Com a palavra prenda queremos dizer que entregamos à pessoa algo que faz com que ela fique de algum modo mais enriquecida, possuidora de algo com valor (não forçosamente material) e ainda que nos sentimos penhorados, que aquilo que oferecemos é uma garantia do nosso carinho, da nossa amizade, ou mesmo do nosso agradecimento, ou que é uma recompensa, um prémio. Esta palavra provém do latim ‘pignora-’ (= refém).

Pergunta:

Gostava de saber a origem da expressão «do tempo da Maria Cachucha». Muito obrigada.

Resposta:

Quando se diz que algo «é do tempo da Maria Cachucha», significa que é muito antigo. A cachucha era uma dança espanhola a três tempos, em que o dançarino, que se acompanhava com castanholas, começava a dança num movimento moderado, que ia acelerando, até terminar num vivo volteio. Esta dança teve uma certa voga em França, quando uma célebre dançarina, Fanny Elssler, a dançou na Ópera de Paris. Em Portugal, a popular cantiga Maria Cachucha (ao som da qual, no séc. XIX, era usual as pessoas do povo dançarem) era uma adaptação da cachucha espanhola, com uma letra bastante gracejadora, zombeteira.

Outro erro recorrente nos “media” portugueses tem que ver com o Madail. Foi o que voltou a ler-se no jornal “24 Horas” de 20 de Dezembro p.p.: Madaíl, com acento na vogal i.
     A acentuação só deve ocorrer em português quando é necessária, e as palavras agudas terminadas em...