Pergunta:
Sou portuguesa, mas traduzo para o português do Brasil há três anos e fico por vezes baralhada com as palavras que têm "c" antes do "ç". O que pude perceber é que, pelo menos quando é no meio da frase, a pronúncia da vogal passa a um som aberto quando é sucedido do "c" (direcção e relação, por exemplo). No entanto, o mesmo não acontece quando é no início da palavra, como por exemplo "actividade". O mesmo acontece com praticar e prática, onde a pronúncia das palavras obviamente não altera a grafia.
Gostaria de saber qual é a regra para o emprego do "c".
Muito obrigada desde já e parabéns pelo vosso trabalho!
Resposta:
O emprego da consoante “c” seguida de outra consoante (cc, cç e ct) decorre da etimologia e do acordo ortográfico de 1945.
Segundo esse acordo, foi na altura suprimida da grafia das palavras a consoante “c” nos casos em que era invariavelmente muda, quer na pronúncia portuguesa, quer na brasileira, e em que não possuía qualquer valor particular: aflição, aflito, autor, condução, condutor, dicionário, distrito, ditame, equinócio, extinção, extinto, função, funcionar, instinto, praticar, produção, produto, restrição, restrito, satisfação, vítima, vitória.
Ainda segundo o referido acordo, esse “c” conservar-se-ia nos seguintes casos:
1. quando proferido, quer em Portugal, quer no Brasil, como, por exemplo, compacto, convicção, convicto, ficção, fricção, friccionar, pacto, pictural;
2. também, quando articulado em apenas um dos países, como, por exemplo, cacto, caracteres, coarctar, contacto, dicção, facto, jacto, perfunctório, revindicta, tactear, tacto, tecto;
3. após as vogais a, e e o, nos casos em que a tradição ortográfica, a similaridade do português com as outras línguas românicas e o facto de esse “c” exercer influência no timbre das referidas vogais assim o exigia, como, por exemplo, acção, afectuoso, arquitectura, colecção, contracção, correcção, defectivo, direcção, director, electricidade, espectáculo, facção, flectir, fracção, insecticida, inspecção, leccionar, nocturno, objecção, objectivo, Octávio, protecção, selecção, subtracção, transacção;
4. quando, embora mudo, ocorre em formas que devem harmonizar-se graficamente com formas afins em que um “c” se mantém, como, por exemplo, abstracto, acta, afecto, arquitecto, correcto, dialecto, directo, exacto, objecto, olfacto, re...