Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Desejava saber como se chamam os participantes nas Marchas Populares. São marchantes?

Resposta:

Não são marchantes, não, cara consulente. Marchante, genericamente, é o nome dado ao mercador; é o indivíduo que compra gado para o vender abatido, aos açougues; o próprio dono ou empregado de um açougue, e, ainda, aquele que sustenta uma concubina.

Os participantes numa marcha popular constituem um cortejo, um desfile. Os seus membros podem ser referidos de desfilantes ou passantes.

Pergunta:

Gostava de saber qual a palavra que designa um coleccionador de peixes. Pensava que seria aquariofilista (de aquariofilia) mas nem uma nem outra palavra estão representadas nos dicionários consultados.

Agradeço a atenção dispensada.

Resposta:

Não sei bem a que se refere quando emprega o termo “coleccionador de peixes”.

Existem os termos aquariofilia, aquariófilo, aquarista, piscicultura e piscicultor, registados, por exemplo, no Dicionário Aurélio Século XXI, com os seguintes significados:

a) aquariofilia – grande dedicação à piscicultura ornamental;
b) aquariófilo – aquele que se dedica, como especialista, ou como amador, à criação de peixes em aquários; aquarista;
c) aquarista – aquariófilo;
d) piscicultura – arte de criar e multiplicar os peixes;
e) piscicultor – aquele que se entrega à piscicultura.

Pergunta:

Gostaria de saber quais as características de uma antologia e como elaborá-la.

Resposta:

Uma antologia é uma colecção de trechos em prosa ou em verso. Também pode ser designada de analecto, crestomatia, florilégio, espicilégio, selecta ou parnaso. Estas denominações são reveladoras das suas características:

a) trata-se de uma selecção de trechos, feita de um corpo mais extenso;
b) tem um determinado objectivo, uma finalidade, explícita ou implícita; pretende ser útil;
c) esses trechos são notáveis, especiais, representativos;
d) deverá ter simultaneamente unidade (aqueles autores ou trechos têm algo que os liga) e diversidade.
O conteúdo e a estrutura de uma antologia dependem da intenção e gosto do seu autor.

Pergunta:

Freqüentemente ouvimos através da TV que um carro-bomba explodiu em tal lugar...
E se fossem dois carros, como ficaria o plural do substantivo composto carro-bomba?
Sabemos que quando temos substantivo + substantivo, e o segundo elemento indica finalidade ou tipo do primeiro, aquele fica invariável.
Acredito que seja um pouco complicado aplicar esta regra.
Existe uma maneira fácil ou alguma regra mais simples que vocês possam me indicar para verificar se o segundo elemento fica invariável?
Por exemplo: sofá-cama = sofás-camas (Por que o substantivo cama também varia, se me parece que está indicando o tipo do sofá)?

Resposta:

A regra é precisamente a que referiu. Como se trata de uma justificação de natureza semântica, exige precisamente a interpretação do significado de cada um dos membros da palavra. Embora os dicionários registem as duas hipóteses de formação do plural – carros-bomba e carros-bombas – a forma que corresponde à norma gramatical é a primeira.

Pergunta:

Sou portuguesa, mas traduzo para o português do Brasil há três anos e fico por vezes baralhada com as palavras que têm "c" antes do "ç". O que pude perceber é que, pelo menos quando é no meio da frase, a pronúncia da vogal passa a um som aberto quando é sucedido do "c" (direcção e relação, por exemplo). No entanto, o mesmo não acontece quando é no início da palavra, como por exemplo "actividade". O mesmo acontece com praticar e prática, onde a pronúncia das palavras obviamente não altera a grafia.
Gostaria de saber qual é a regra para o emprego do "c".
Muito obrigada desde já e parabéns pelo vosso trabalho!

Resposta:

O emprego da consoante “c” seguida de outra consoante (cc, cç e ct) decorre da etimologia e do acordo ortográfico de 1945.

Segundo esse acordo, foi na altura suprimida da grafia das palavras a consoante “c” nos casos em que era invariavelmente muda, quer na pronúncia portuguesa, quer na brasileira, e em que não possuía qualquer valor particular: aflição, aflito, autor, condução, condutor, dicionário, distrito, ditame, equinócio, extinção, extinto, função, funcionar, instinto, praticar, produção, produto, restrição, restrito, satisfação, vítima, vitória.

Ainda segundo o referido acordo, esse “c” conservar-se-ia nos seguintes casos:

1. quando proferido, quer em Portugal, quer no Brasil, como, por exemplo, compacto, convicção, convicto, ficção, fricção, friccionar, pacto, pictural;

2. também, quando articulado em apenas um dos países, como, por exemplo, cacto, caracteres, coarctar, contacto, dicção, facto, jacto, perfunctório, revindicta, tactear, tacto, tecto;

3. após as vogais a, e e o, nos casos em que a tradição ortográfica, a similaridade do português com as outras línguas românicas e o facto de esse “c” exercer influência no timbre das referidas vogais assim o exigia, como, por exemplo, acção, afectuoso, arquitectura, colecção, contracção, correcção, defectivo, direcção, director, electricidade, espectáculo, facção, flectir, fracção, insecticida, inspecção, leccionar, nocturno, objecção, objectivo, Octávio, protecção, selecção, subtracção, transacção;

4. quando, embora mudo, ocorre em formas que devem harmonizar-se graficamente com formas afins em que um “c” se mantém, como, por exemplo, abstracto, acta, afecto, arquitecto, correcto, dialecto, directo, exacto, objecto, olfacto, re...