Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Muito obrigado pela sua resposta; ajudou-me, mas tenho mais dúvidas.

Aqui vão:

Meu problema é: ainda não compreendo porque se usa modo conjuntivo nestas orações. O problema não é o verbo mesmo nem o tempo futuro, passado, presente, etc., mas saber em que circunstâncias se usa o modo conjuntivo em geral.

1. Na frase “Há, porém, mais que dizer, mas melhor seria enviar frases em que tivesse dúvidas, para ser devidamente esclarecida.”, usa o conjuntivo "tivesse" por causa de ser uma oração hipotética, quase como: "se tivesse dúvidas..."?
2. Na frase “Há duzentos anos, não havia ninguém que julgasse ser possível demorar apenas uma hora para irmos de Portugal ao Brasil.”, usa o conjuntivo "julgasse" por causa de "ninguém" não ser uma pessoa específica?
3. Na frase “Não conheço ninguém que tivesse dito isso.”, usa o conjuntivo "tivesse" por causa de "ninguém" não ser uma pessoa específica?
4. Na frase “Ajuda sempre aqueles que/os que precisarem de ti.”, usa o conjuntivo "precisarem" por causa de "aqueles" não ser uma pessoa específica?

Compreende o meu problema?

Resposta:

O emprego do conjuntivo em geral, ou de qualquer outro modo, depende da intenção do falante e não tem nada que ver com o tipo de pessoa a quem ele se refere ou escolhe para sujeito, mas com o modo como concebe a acção, com a natureza dessa acção, desse facto.

Quem constrói a frase é que sabe em que tempo quer colocar a acção (tempo verbal) e de que maneira, de que modo, a quer enunciar (modo verbal).

Ao utilizarmos o modo conjuntivo, consideramos a existência do facto a que nos vamos referir como algo de incerto, duvidoso, hipotético, eventual, ou, mesmo irreal, absurdo. Por outro lado, o conjuntivo é o modo exigido em orações que dependem de outras cujos verbos contêm a ideia de desejo, pedido, súplica, vontade, ordem, conselho, proibição, dúvida, lamento, negação, rejeição, condição, ou similares.

Naturalmente que o tempo verbal é importante, porque a utilização de um determinado tempo/modo (par indissociável) utilizado na oração principal vai condicionar na frase os outros tempos e modos.

Na 1.ª frase que transcreve, foi utilizado o pretérito imperfeito do conjuntivo, porque se pôs a hipótese de a consulente ter dúvidas. Essa hipótese foi colocada na sequência do condicional “seria”, daí o uso do imperfeito do conjuntivo. Se, por exemplo, em vez desse condicional “seria”, tivesse sido utilizado o futuro do indicativo (“será”), já o tempo a empregar a seguir seria o presente do conjuntivo: “...o melhor será enviar frases em que tenha dúvidas.”

Na 2.ª frase, esse imperfeito do conjuntivo (“julgasse”) também exprime uma hipótese, hipótese essa colocada no passado.

Na 3.ª frase, com o pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo (“tivesse dito”), pretende o autor da frase indicar...

Pergunta:

Parabéns pelo vosso útil ‘site’ que muito ajuda a compreensão do português.

Tenho encontrado o termo "massa crítica" em vários artigos de revistas e jornais. Normalmente escreve-se "estão a criar massa crítica", ou "a criação de massa crítica". Pelos vistos a massa crítica é uma coisa que se cria. Não consigo entender o termo e, por muito que tente integrar todo o contexto em que normalmente se insere, continuo a não perceber.

Será que me podem ajudar.

Um grande abraço e continuação do excelente trabalho que prestam aos portugueses.

Resposta:

Como me apresenta a expressão descontextualizada, não sei se irei ao encontro da sua dúvida. Creio que com essa expressão se pretende dizer que se está a criar nas pessoas um pensamento próprio, se está a tentar desenvolver um espírito crítico, capaz de reflectir sobre os acontecimentos, a realidade ou o eu e tomar uma posição própria, e não de adopção acrítica de ideias concebidas por outros. Dependendo do contexto, essa palavra “massa” referir-se-á à massa cinzenta, à inteligência, à capacidade cognitiva, ou a um conjunto de pessoas.

Obrigada pelas suas amáveis palavras.

Pergunta:

Há pouco, numa emissão de um noticiário, eu e a minha mulher reparámos na utilização de uma expressão comum, acerca do caso do cliente agredido na discoteca Kremlin e que terá, segundo relatado, sido agressor.

Falava-se que a Empresa iria iniciar uma acção judicial contra o sujeito e que (passo a citar):

"... a família também prepara-se para processar o estabelecimento..."

A minha mulher subitamente assustou-se (ou se assustou?) referindo-se àquilo como uma "barbaridade". Por mim, penso não estar de todo incorrecto, mesmo porque não sei bem que regra utilizar no caso. Que soa melhor o termo "a família também se prepara", verdade é que o reflexo destina-se ao verbo preparar e não tão somente à família, sujeito nesta expressão.

No entanto, se substituída a palavra "também" por uma expressão como "de igual forma" e fazendo as necessárias pausas, o reflexo mantém-se após o verbo:

"... a família, de igual forma, prepara-se para..." e não "... a família, de igual forma, se prepara para..."

Assim, gostaria de ter uma ideia sobre a atitude a tomar: Lavo a louça o resto da semana ou lava ela?

Obrigado.

Resposta:

Mesmo sem ter o início da frase, poderei dizer que a construção correcta é “A família também se prepara para processar o estabelecimento.”
As regras essenciais são as seguintes:
1. O pronome fica em posição enclítica (depois do verbo) em orações independentes, principais e coordenadas, na afirmativa: “A família prepara-se para processar...”; “A minha mulher, subitamente, assustou-se, referindo-se àquilo...”
2. O pronome é colocado em posição proclítica (antes do verbo):
a) em orações subordinadas: “Penso que a família se prepara para processar...”;
b) nas orações que contêm uma negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada): “A família não se prepara para processar...”;
c) nas orações iniciadas por pronomes e advérbios interrogativos: “Quem se prepara para processar o estabelecimento?”;
d) nas orações iniciadas por expressões exclamativas: “Que a família se prepare!”;
e) com o gerúndio construído com a preposição “em”: “Em a família se preparando para processar o estabelecimento, ...”;
f) quando o sujeito da oração, estando anteposto ao verbo, contém um pronome indefinido (alguém, outro, qualquer, todo, tudo) ou o numeral ambos: “Toda a família se prepara para...”;
g) quando o verbo está precedido de certos advérbios e expressões adverbiais (ainda, já, bem, mal, sempre, só, talvez, também): “A família também se prepara para...”

Pergunta:

Gostaria que, se possível, me informassem acerca da forma correcta de fazer citações, no caso de estas serem retiradas de textos em língua estrangeira. Actualmente estou a realizar um trabalho de seminário, para o qual disponho de bibliografia, maioritariamente em inglês e francês. Como devo proceder para fazer citações? Na língua original ou traduzindo-as, referenciando, em rodapé, que se trata de uma tradução.

Resposta:

Como esta questão não é consensual, sugeriria que seguisse a indicação do seu orientador ou as normas em uso no estabelecimento de ensino superior ao qual pertence.

Defendo, no entanto que, se se tratar de um trabalho académico, científico, deverá fazer as citações na língua de origem. O motivo fundamental é o do respeito pelo rigor da informação original, por vezes deturpada na tradução, por muito boa que ela seja. Naturalmente que os professores que vão apreciar o trabalho dominarão o francês e o inglês.

Se se tratar de um trabalho de grande divulgação, destinado a um público diversificado, deverá fazer a tradução.

Num caso ou no outro, a indicação da fonte é indispensável.

Pergunta:

Sou professora de inglês do ensino básico e secundário. Moro em S. João da Madeira e uma colega minha, que é proprietária de um ATL e dá explicações aos miúdos que o frequentam, gostaria de saber que técnicas de escrita poderia utilizar para os auxiliar na realização de composições e outros trabalhos em português.

Resposta:

Como não refere o nível de ensino e aprendizagem dos alunos do A.T.L., não sei se as sugestões que apresento irão ao encontro do pretendido. Por outro lado, não conheço, naturalmente, tudo o que se tem publicado sobre este assunto, pelo que receio omitir alguma obra importante.

Com esta reserva, refiro o seguinte:

1. Este assunto é objecto de uma publicação do Ministério da Educação – Direcção Geral dos Ensinos Básico e Secundário, intitulada Materiais de Apoio aos Novos Programas de Língua Portuguesa – 2.º e 3.º Ciclos - Ficheiros de Jogos, Técnicas e Exercícios de Comunicação Oral, Escrita Lúdica, Escrita por Modelo e Funcionamento da Língua, 1993, publicação esta distribuída nas escolas e constituída por sugestões práticas muito claras e interessantes.
2. As editoras portuguesas de livro didáctico têm, nesta área, publicações de cariz teórico e prático, que poderão ser úteis.
3. Algumas obras diversas:
– AFONSO, Fernanda - Aprender a Dominar a Escrita. Lisboa: Texto, 1998.
– CONTENTE, Madalena – A Leitura e a Escrita: estratégias de ensino para todas as disciplinas. Lisboa: Editorial Presença, 1995.
– FAYOL, M. – Le récit et sa construction. Neuchâtel-Paris : Delachax et Niestlé, 1985.
– FAYOL, Michel – “Pour une didactique de la rédaction: faire progresser le savoir psychologique et la pratique pédagogique.”, in Repères, 63. Paris, 1984.
– FERREIRO, Emília e PALACIO, Margarita G. (coord.) – Os Processos da Leitura e da Escrita, novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
– GARCIA-DEBANC, Claudine - “Processus rédactionnels et pédagogie de l’écriture.”, in Pratiques, 49. Metz: CRESEF, 1986.
– JOLIBERT, Josette (coord.) – Former des enfants producteurs de textes. Paris: H...