Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Que palavras são de origem celta, na actual língua portuguesa?

Resposta:

São poucos os vestígios da língua celta no português:

   a) o elemento briga, que significa “fortaleza”, “castelo”, e aparece em vários topónimos, como Conimbriga, Arcóbriga (antigo nome de Arcos de Valdevez – Minho), Lacóbriga (antigo nome da cidade algarvia de Lagos) e Bragança (Brigantia);
   b) o elemento dunum, que significa “cidade” e surge no topónimo Caladunum (cidade antiga em Trás-os-Montes);
   c) o elemento seg-, presente no topónimo Segóvia (Espanha);
   d) as palavras manteiga e tona (galaico-português: pele, odre);
   e) por via latina, mas de origem céltica: carro, caminho, bétula, bragas, camisa, cerveja.

Pergunta:

Podemos dizer que "a aposta feita por ele de que tal time venceria..."? É aposta de que, mesmo?
Obrigada.

Resposta:

Sugiro sempre aos consulentes o envio de uma frase completa, para poder estar totalmente certa da dúvida que apresentam. A expressão descontextualizada pode suscitar uma resposta que não vá ao encontro da dúvida do consulente.
Com os elementos fornecidos, respondo-lhe que sim, que pode dizer “fazer a aposta de que”. Quem aposta, faz a aposta de alguma coisa ou algo.
Esclarecendo, o verbo apostar e a expressão fazer a aposta podem ter as seguintes construções:
1. Verbo apostar:
a) Apostar alguma coisa em algo:
Aposto um escudo em como ele vai ficar admirado.”
Apostei uma boa quantia na vitória daquele cavalo.”
b) Apostar em algo:
Apostou no cavalo errado.”
c) Apostar algo:
Aposto que ele vai ficar admirado.”
2. Expressão fazer a aposta:
a) Fazer a aposta de alguma coisa em algo.
Faço a aposta de um escudo em como ele vai ficar admirado.”
b) Fazer a aposta em algo.
Fiz a minha aposta neste negócio.”
c) Fazer a aposta de + infinitivo.
Fiz a aposta de lhe oferecer um jantar, se...”
d) Fazer a aposta de que.
Fiz a aposta de que a equipa x venceria o campeonato, e ganhei-a.”
“A aposta feita por ele de que tal equipa venceria foi ouvida com surpresa.” 

Pergunta:

   Sou assistente parlamentar e faço faculdade de Administração de Empresas. Tenho uma matéria que se chama: Comunicação Empresarial Oral e preciso fazer um trabalho sobre "A comunicação humana: o processo e seus elementos". Já fiz diversas pesquisas, mas com esse título eu não consegui encontrar nada. Preciso de esclarecimentos. Se vocês puderem me ajudar ficarei muito agradecida. O único probleminha é que é urgente.

   Muito obrigada.

Resposta:

   Este assunto é muito vasto, e desconheço a especificidade dos seus estudos, pelo que qualquer indicação bibliográfica dificilmente irá ao encontro do que pretende. Por outro lado, não tenho conhecimento de tudo o que se tem publicado sobre o assunto, pelo que receio omitir alguma obra importante.
   Com estas reservas, refiro alguns títulos:
   1. ARANGUREN, J. L. – Comunicação Humana: uma sociologia da informação. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
   2. CARREIRA, Augusto et alii – “Comunicação: essência da relação humana”, separata de Jornal do Médico, 1986.
   3. CASCAIS, António Fernando – Bioética e Comunicação: a mediação dos saberes na experimentação humana, Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, 1999.
   4. CHIARELLI, Brunetto – Origem da Sociabilidade e da Cultura Humana: introdução a uma etnologia naturalista. Coimbra: Instituto de Antropologia, 1990.
   5. CHOMSKY, N. – Reflections on Language. New York: Pantheon Books, 1975.
   6. CORREIA, Luís Carlos M. – 20 Perguntas sobre Comunicação Social. Lisboa: Diel, 1997.
   7. ECO, U. – O Signo. Lisboa: Ed. Presença, 1981.
   8. ECO, U. – Semiotica e filosofia del linguaggio. Torino: Einaudi, 1984.
   9. ECO, U. – Trattato di semiotica generale. Milano: Bompiani, 1978.
   10. LITTLEJOHN, Stephan W. – Fundamentos Teóricos da Comunicação Humana. Rio de Janeiro: Zahan Editores, 1982.
   11. Enciclopédia Einaudi, vol. 2 - Linguagem-Enunciação. Lisboa. ...

Pergunta:

Deparei-me com uma questão de prova e por eliminação sobraram duas alternativas das quais uma está incorreta. Gostaria de uma ajuda.
Questão:
Assinale a proposição em que a frase não seja considerada apropriada ao padrão culto da língua:
a) Vários amigos a quem sempre lhe falo virão aqui hoje.
b) É um candidato sobre cujo passado pouco se sabe.
Agradeço antecipadamente.

Resposta:

A frase incorrecta é a primeira, a da alínea a).
Semelhantes a essa, estariam correctas as seguintes frases:
1 – Vários amigos, a quem sempre falo, virão aqui hoje.
2 – Vários amigos, de quem sempre falo, virão aqui hoje.
3 – Vários amigos, de quem sempre lhe falo, virão aqui hoje.
4 – Vários amigos, com quem sempre falo, virão aqui hoje.
O verbo falar pode ser regido da preposição de (falar de alguém), com (falar com alguém), em, sobre (falar em ou sobre algum assunto), ou ter complemento indirecto, sendo, assim, usada a preposição a (falar a alguém).
A primeira frase que apresentou está, pois, incorrecta, porque na oração relativa se utilizam simultaneamente dois complementos indirectos diferentes “a quem” e “lhe”. A pessoa ou está a falar aos amigos (a quem) ou a uma 3.ª pessoa (lhe).
A segunda frase que apresentou – a da alínea b) – está certa. Cujo significa “do qual”, “de que”: “É um candidato sobre o passado do qual (candidato) pouco se sabe.”

Pergunta:

O que são concheiros?

Contexto: concheiros pré-históricos de Muge.

Resposta:

Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, são conhecidas com o nome de concheiros e também com o de ostreiras, sambaquis (no Brasil), casqueiros (id.), paraderos (Argentina e Patagónia), kioekkenmoeddinger (Dinamarca), etc., jazidas, formadas sobretudo de conchas de moluscos, que constituem restos de alimentação humana. Os concheiros são também constituídos por ossos de animais, carvões, cinzas, instrumentos de pedra, de osso e de chifre, e, alguns, por fragmentos de cerâmica, surgindo igualmente nalguns concheiros esqueletos humanos que aí foram inumados. Os concheiros são de diferentes idades e têm vasta distribuição geográfica, encontrando-se sobretudo nas costas marítimas e nas margens de lagos, pântanos, estuários e rios. Os mais antigos são os do período mesolítico, como os de Muge (Portugal) e de Téviec (Bretanha), mas são da mesma natureza as jazidas do paleolítico superior conhecidas no Norte de África pelo nome de escargotières, por serem constituídas sobretudo por conchas de caracóis.