Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual a diferença entre estes dois termos?

Resposta:

Transversalidade é um substantivo formado do adjectivo transversal e do sufixo –(i)dade, com o significado de “qualidade de transversal”, sendo transversal algo que passa de través, que segue direcção transversal ou oblíqua, que atravessa.

Transdisciplinaridade não é termo que apareça registado em dicionários. Aparece, sim, o termo interdisciplinaridade, que significa qualidade do que diz respeito, simultaneamente, a duas ou mais disciplinas ou áreas de conhecimento.

A palavra transversalidade em contexto escolar assume uma significação diferente da palavra interdisciplinaridade. Aquela é mais ampla e pretende referir algo que, na essência, percorre várias áreas do saber, independentemente de uma intervenção exterior. Por exemplo, a Língua Portuguesa tem um carácter de transversalidade em relação a todas as disciplinas do currículo dos alunos, visto que a aprendizagem nas diversas disciplinas se faz utilizando a língua, e os próprios saberes são por ela veiculados.

Em contrapartida, o termo interdisciplinaridade assume uma significação mais restrita de conjugação de actividades envolvendo algumas disciplinas que tratam aspectos diferentes de um mesmo assunto, ou assuntos que exigem conhecimentos adquiridos noutras disciplinas.

Pergunta:

Posso dizer relativamente a duas pessoas... “eles estreiam-se?”, sendo este um verbo intransitivo?

Resposta:

Sim, existe o verbo estrear conjugado pronominalmente (estrear-se), com o significado de “fazer algo pela primeira vez”. Não se trata de um verbo intransitivo, mas reflexo.

Pergunta:

Muitos professores consideram o uso do dicionário prejudicial à aprendizagem de uma língua estrangeira por parte dos alunos. Será benéfico ou não?

Resposta:

Como é do conhecimento geral, há diversas teorias a respeito da aprendizagem das línguas estrangeiras. Hoje considera-se que os conhecimentos a respeito da língua materna e o estabelecimento de analogias ou contrastes ente o vocabulário e estruturas desta e os da língua a aprender são aspectos que contribuem para uma melhor aprendizagem. Assim, o uso do dicionário bilingue, juntamente com o do unilingue, é aconselhável na aprendizagem das línguas estrangeiras.
É esta a posição que perfilho, assente também nos resultados da minha prática de leccionação.

Pergunta:

Sou professora de português na Galiza e, é claro, costumo ter muitas dúvidas que, verificando o material ao meu dispor, não consigo resolver.
Por exemplo, nos meus tempos de estudante disseram-me que à expressão espanhola "Tomar la pastilla cada ocho horas" devia corresponder, em português, "Tomar o comprimido de oito em oito horas". Porém, todas as gramáticas portuguesas por mim consultadas aceitam o uso de cada com expressões temporais.
O meu professor estava enganado ou tinha razão?
Muito obrigada pelo trabalho que nos poupam a todos os professores e cordiais saudações.

Resposta:

Considero que o seu professor não estava enganado, nem os meus, que também assim me ensinaram: “tomar o comprimido de oito em oito horas”.
Cada pode juntar-se não só a substantivos como a numerais e a expressões formadas por numeral e substantivo no plural, mas não constituindo uma expressão temporal, não com valor adverbial de tempo decorrido ou a decorrer.
Poderá, por exemplo, dizer-se: “Em cada oito horas de trabalho, deverá haver uma pausa para a refeição.” A expressão “oito horas de trabalho” equivale a um substantivo: o conjunto de oito horas. A frase significa que dentro das oito horas (em cada), haverá uma pausa. Por acaso, o substantivo que se segue ao numeral refere tempo, mas poderia referir espaço, pessoa, etc. (ex.: “Em cada cem homens, trinta são calvos.”). Voltando ao exemplo do início deste parágrafo, se pretender dizer que a pausa só se fará após as oito horas, e novamente após as outras oito, etc., então a frase deverá ser assim redigida: “De oito em oito horas, haverá uma pausa para a refeição.”

Pergunta:

O uso do pronome "deste" abaixo está incorreto?
Conforme informado no aviso do segurado, encontra-se em poder deste:
– Recibo de troca de segredo.
– Nota Fiscal referente ao conserto da fechadura quebrada.
Obrigada pela atenção.

Resposta:

Apesar de a palavra vir integrada numa frase, não tenho a percepção completa do contexto situacional (por exemplo, se a comunicação é feita ao próprio segurado ou a outra pessoa, ou se há outras pessoas referidas anteriormente), o que condiciona a resposta.
Numa situação em que há necessidade de distinguir seres, coisas ou qualidades, o pronome “este” designa o ser ao qual nos referimos por último. Na frase dada, “deste” refere-se a “segurado”, que é o último ser referido, sim, mas também o único na frase, não sendo possível a confusão com outro, pelo que poderia não ser utilizado esse pronome. Mas, em determinado contexto, pode ser necessária essa precisão, pelo que a sua utilização não está incorrecta.