Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Quais são os três casos nos quais a vírgula deve ser usada dentro do período simples de uma oração?

Resposta:

Dentro da oração, a vírgula emprega-se:

a) para demarcar uma expressão intercalada, como, por exemplo, o vocativo (“Queres que te conte, Maria, um segredo?”) ou o aposto (“Joaquim, o filho mais velho, não estava presente.”);
b) quando há uma transposição da ordem directa, antepondo-se um elemento circunstancial (“Todos os dias de manhã bem cedinho, o galo cantava e cantava e cantava...”);
c) quando há uma sucessão de elementos, uma enumeração (“O velho, o rapaz e o burro iam pela estrada fora.”).

Pergunta:

Estou escrevendo do Brasil, mais precisamente do Nordeste brasileiro. Gostaria de saber como surgiu esta história de chamar uma moça de "rapariga" aí em Portugal.

Aqui no Brasil isto é um insulto.

Resposta:

Queria lembrar ao estimado consulente que a Língua Portuguesa é o idioma de Portugal, nação que se tornou independente no século XII, e que o Brasil foi descoberto pelos Portugueses em 1500, tendo então esta língua sido levada para esse território pelos colonos que, a partir do séc. XVI, aí se começaram a instalar. As palavras rapariga e moça fazem parte do léxico que “viajou” de Portugal para o Brasil.

A língua sofre evolução, e as palavras podem assumir particularidades semânticas em determinadas regiões da lusofonia, como é o caso.

Ambas as palavras significam “pessoa jovem do sexo feminino, solteira”. A palavra rapariga já aparece no léxico português no séc. XIII, proveniente certamente do leonês. É o feminino de rapaz e usa-se normalmente, sem valor pejorativo. Diz-se em Portugal, por exemplo, “Eles têm três filhos, dois rapazes e uma rapariga.”

A palavra moça, feminino de moço, começou por designar uma serviçal, uma criada. É com esta acepção que surge nos textos medievais e renascentistas como, por exemplo, no Auto da Índia, de Gil Vicente. Por vezes, designa a rapariga do campo ou a de menor classe social. Não é termo muito usado.

Qualquer das palavras, num contexto particular, pode significar meretriz, amásia, mas, para tal, normalmente, vem integrada em expressão mais esclarecedora (“moça da vida”, “casa de raparigas”).

Pergunta:

O final da frase está correto de qual forma?
Primeira alternativa:
Todas as cópias deverão ser tiradas no papel do tipo A4, exceto cópias que exigirem folhas maiores (papel do tipo Ofício II), devendo ser solicitado-me.
Segunda alternativa:
Todas as cópias deverão ser tiradas no papel do tipo A4, exceto cópias que exigirem folhas maiores (papel do tipo Ofício II), devendo ser-me solicitado.
Gostaria de saber se as duas formas estão corretas, ou então qual é a correta e por qual motivo.

Resposta:

A construção correcta é “devendo tal ser-me solicitado”. O pronome pessoal forma de complemento indirecto tem de estar ligado ao auxiliar da voz passiva, e nunca ao particípio passado do verbo.
Alguns exemplos:
a) “Esta resposta foi-me devolvida em correio normal.”
b) “As flores foram-lhe entregues à tarde.”
c) “Ser-te-á enviada uma cópia da acta.”
d) “Neste momento, está a ser-lhe prestada uma homenagem.”

Pergunta:

Gostaria de saber qual das duas possibilidades é a correcta, Góis ou Goes. Sou jornalista e recentemente escrevi um artigo sobre o aniversário do nascimento deste humanista. Nas informações que recebi vinha escrito Góis, assim como em várias pesquisas que efectuei. Mas o meu editor diz que, sendo uma figura do século XVI, nos devemos manter fiéis à língua e escrever Goes. Na minha perspectiva pessoal, acho que é uma questão de opção pessoal. Senão também escreveríamos Luiz Camoes; se não estou em erro, era assim que se escrevia. Como ficamos então, Góis ou Goes?

Resposta:

Deverá escrever Góis, grafia actual. A literatura acerca deste autor assim o faz. Se quisesse utilizar a grafia da época, também o deveria fazer com o nome próprio, Damianus.

Pergunta:

Quanto à questão do plural de social-democrata, devo dizer que concordo inteiramente com o António Jorge Branco na defesa da fórmula "social-democratas". No entanto, o dicionário da Academia das Ciências parece concordar convosco. Quanto a salvo-conduto e livre-trânsito, eu defendo também "salvo-condutos" e "livre-trânsitos", ao contrário do referido dicionário.
E os Srs.? Qual a vossa opinião?
Obrigado.

Resposta:

Como sabe, não há consenso a respeito da formação do plural das palavras compostas.
A palavra salvo-conduto aparece registada com os dois tipos de plural no Dicionário Novo Aurélio Século XXI (1999), na Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara (37.ª ed., 1999) bem como no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001), a que faz alusão. Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, regista-se apenas um plural: salvos-condutos.
No Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, como plural de livre-trânsito, indica-se livres-trânsitos. E as palavras compostas formadas com o adjectivo livre como primeiro elemento surgem, no plural, com esse elemento flexionado.
A formação das palavras compostas coloca dois tipos de problemas: a grafia (justaposição com ou sem hífen e aglutinação) e a formação do plural. Estes problemas surgem porque essas palavras não são simples compostos de dois elementos morfológicos. Segundo Émile Benveniste (Problemas de Linguística Geral), o processo de criação dos compostos provém das construções sintácticas com as suas variedades de predicação, sendo o modelo sintáctico que cria a possibilidade do composto morfológico e que o produz por transformação. A oração, com os seus diferentes tipos, emerge assim na zona nominal, sendo a oração transformada numa palavra composta, decorrendo desse facto as características formais dos compostos e a sua flexão.
Quando a palavra é formada por um adjectivo e um substantivo, como estes dois casos, a tentação é a da atribuição da marca do plural a ambos, visto serem duas classes morfológicas flexionáveis. Como se trata da formação de plural mais simples, é a genericamente utilizada por quem olha para a palavra apenas como um composto de um adjectivo e um substantivo, como se o adjectivo inicial classificasse o substantivo, sem se deter a ap...