Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Hetero-avaliação ou heteroavaliação?
A segunda forma parece-me mais correcta mas gostaria de ter a certeza e a fundamentação.

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001), da Academia das Ciências de Lisboa, regista a forma “hetero-avaliação”.

Segundo o Acordo Ortográfico em vigor, base XXIX, ponto 2.º (decreto n.º 35 228, de 8 de Dezembro de 1945), emprega-se o hífen nos compostos formados com os elementos de origem grega “auto”, “neo”, “proto” e “pseudo”, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal, h, r ou s. O elemento de origem grega “hetero” deve seguir a mesma orientação, dada a analogia formal.

Este assunto, no entanto, é um dos que foram tratados, com alterações, na proposta de Acordo Ortográfico assinada em 1990, que não entrou em vigor. Aí se propõe que, nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, se elimine o hífen, juntando-se os dois elementos na formação da nova palavra.

Pergunta:

Apesar de ter verificado alguns comentários a respeito dessa sintaxe, os conteúdos não me foram suficientes. Nos períodos simples, em que há verbo de ligação mais verbo no particípio passado, a sintaxe do verbo no particípio será de predicativo?
Muito obrigada por esse apoio.

Resposta:

“Verbos de ligação”, conectivos ou de significação indefinida são os verbos de predicação incompleta, que precisam de um substantivo, de um adjectivo ou de um pronome para lhes completar o sentido. São verbos de ligação, por exemplo, ser, estar, ficar, parecer, permanecer. O substantivo, adjectivo ou pronome que lhes completa o sentido e caracteriza o sujeito desempenha a função de nome predicativo do sujeito.
O facto de um eventual adjectivo que constitua o predicativo do sujeito ser um adjectivo verbal não lhe altera a função de predicativo. Ex.: “O trabalho está bem feito.”

Pergunta:

Há dias enviei uma mensagem pedindo ajuda sobre o termo "beto". Hoje o meu problema é:
Onde ficam registadas as fontes da elaboração de dicionários e seus sinónimos?
A questão ainda se prende com o “jogo do beto”. É que em certos dicionários aparece o significado de beto como um jogo do “tipo” ou “género” ou “parecido” ou “semelhante” ao jogo do ‘cricket’. No entanto, os jogos do beto conhecidos não têm nada de parecido com o jogo do ‘cricket’. A minha dúvida talvez pareça muito confusa, mas o certo é que o jogo que eu estou a estudar tem possivelmente mais de 70 anos e é mesmo parecido com um jogo semelhante ao ‘cricket’.
Peço desculpa pela maçada, mas se fosse possível esclarecerem-me a dúvida talvez conseguisse dar mais fio à meada e, quiçá, trazer para o momento actual esse tão belo jogo. Fico a aguardar.

Resposta:

Nos próprios dicionários são referidas as fontes. É normalmente o prestígio dos seus autores e colaboradores, normalmente estudiosos, com obra publicada, e o valor das abonações que credibilizam um dicionário.

Pergunta:

Sou estudante e gostava que me explicasse as figuras de estilo presentes nos seguintes versos do episódio d'Os Lusíadas Inês de Castro (Canto III, vv. 118 -137):
a) Estrofe 118, verso 6: "Que do sepulcro os homens desenterra,"
b) Estrofe 120. verso 2: "De teus anos colhendo doce fruito,"
c) Estrofe 122, verso 3: "que tudo, enfim, tu, puro amor, deprezas,"
d) Estrofe 123, verso 1: "Tirar Inês ao mundo detremina,"
e) Estrofe 126, verso 7: "como co a mãe de Nino já mostraram,"
f) Estrofe 127, verso 3: "Fraca e sem força, só por ter sujeito"
g) Estrofe 129, verso 7: "Estas relíquias suas que aqui viste,"
h)Estrofe 131, verso 6: "(Bem como paciente e mansa ovelha),"
i) Estrofe 134, verso 7: "Secas do rosto as rosas, e perdida"
j) Estrofe 137, verso 2: "De latrocínios, mortes e adultérios;".
Julgo saber as figuras de estilo presentes nas alíneas:
a) Hipérbole; emprego do termo exagerado para acentuar a gravidade do assassínio de Inês de Castro.
c) Apóstrofe
d) Eufemismo; utilizado para suavizar a realidade, neste caso a decisão do assassínio de D. Inês.
e) Comparação
g) Metáfora
h) Parêntese e Comparação; interposição da frase num período onde forma sentido á parte. Comparação de Inês com uma ovelha que se entrega em sacríficio.
Agradecia que me respondessem.

Resposta:

Os recursos de natureza estilística presentes nos versos transcritos são os seguintes:
a) Hipérbole: ao dizer que aquele acontecimento desenterra os homens do sepulcro, pretende o poeta acentuar o grande impacto provocado pelo mesmo em todas as pessoas, até nos mortos (exagero, algo impossível de acontecer).
Personificação: um acontecimento que tem características de um ser vivo (desenterra homens).
b) Metáfora, presente na expressão “colher o fruto dos anos”. Inês era jovem e estava a usufruir desse estado, vivendo docemente a sua vida.
c) Apóstrofe: interrupção do discurso para invocar o amor, responsabilizando-o o poeta pela atitude de Pedro.
Personificação: o amor age (despreza), como se fosse uma pessoa.
d) Eufemismo: o negativo da decisão de mandar matar é atenuado com o emprego da expressão “tirar ao mundo”.
e) Não se trata de uma comparação, mas apenas de uma exemplificação.
Perífrase, utilizada na expressão “mãe de Nino”, em vez do nome de Semíramis. A utilização da palavra “mãe” interessava no contexto em causa, pois aqui temos uma mãe (Inês) que ama os seus filhos e se preocupa com a sorte deles, diferentemente do que acontecera com Semíramis, abandonada pela mãe e alimentada pelas pombas.
f) Pleonasmo, na repetição da mesma ideia (fraca e sem força).
g) Metáfora, na identificação dos filhos a relíquias do pai.
h) Parêntese: interposição de uma frase ou expressão no período, com sentido à parte.
Comparação da linda Polycena a uma ovelha, paciente e mansa.
i) Metáfora, na identificação das faces a rosas; na identificação da palidez da morte a algo seco.
Anástrofe: inversão da ordem natural das palavras na oração (as rosas do rosto).
j) Enumeração de elementos ou gradação crescente, se...

Pergunta:

Gostaria de saber se é possível utilizar o verbo convergir sem complemento:
"... à medida que as atitudes e os objetivos convergem."

Resposta:

Embora o verbo convergir se construa normalmente com preposição (“para”, “em” ou “sobre”) e respectivo complemento, pode ocorrer a supressão deste, porque perceptível pelo contexto, ou pode o verbo não apresentar complemento, se os elementos do sujeito (plural ou composto) convergirem um no outro, como, por exemplo, "Os nossos interesses convergem. ( = são convergentes)."