Maria João Matos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Maria João Matos
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Maria João Matos, professora de Português do ensino secundário, licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Basta um olhar atento pelos jornais ou pelas legendas do cinema e da televisão, em Portugal, para nos apercebermos de como este modismo proliferou neste lado do Atlântico.

Trata-se de frases começadas pelo advérbio interrogativo porque que, cada vez com mais frequência, aparece separado, como se se tratasse da preposição por e do interrogativo que. Esta é mais uma dife...

Pergunta:

No outro dia, ao ler-se a expressão «No que concerne à expressão escrita», numa acta, alguém que lecciona Francês afirmou que se deveria utilizar a — este faria parte de um complemento directo — e não à, que daria origem a um complemento preposicional. Para ser franca, a explicação não convenceu a maior parte dos professores presentes. Discutimos o assunto mais tarde, mas a dúvida persistiu. Gostaria que me ajudassem a clarificá-la.

Muito obrigada!

Resposta:

A expressão em apreço é «no que concerne a», que significa «quanto a», «no que toca a», «a respeito de», «no que se refere a». Quando a preposição a se contrai com o artigo definido que se lhe segue, toma a forma à, ao, às, aos. Logo, «no que concerne à expressão escrita», «no que concerne ao idioma escrito», etc.

Concerne é uma forma do verbo concernir, que é transitivo indire{#c|}to, e se conjuga apenas na 3.ª pessoa do singular ou do plural. Em francês, o verbo (concerner) é transitivo dire{#c|}to, por isso exige uma construção diferente da do português.

Numa tarde em que me achei mais pachorrenta… dei comigo a ver o programa "As Tardes de Júlia", na TVI. Três elegantes convidados tiravam dos sacos de compras que os acompanhavam sofisticadas peças de vestuário que tinham sido objecto da sua preferência: casacos, camisas, echarpes, cintos…

Pergunta:

O que significa a palavra cuche como substantivo? Assim: «... não era mais que um regato turvo, em nada parecido com o rio caudaloso que [...] se dividia em quatro braços, um que ia regar uma região onde se dizia que o ouro abundava e outro que rodeava a terra de cuche. Os dois restantes...» Caim, José Saramago.

Obrigada.

Resposta:

Saramago inspira-se certamente no Antigo Testamento, no Livro do Génesis, capítulo 2, versículos 10 a 14, que a seguir transcrevemos::

«10 Um rio nascia no Éden para regar o jardim, dividindo-se, a seguir, em quatro braços. 11 O nome do primeiro é Pichon, rio que rodeia toda a região de Havilá, onde se encontra ouro, 12 ouro puro, sem misturas, e também se encontra lá bdélio e ónix. 13 O nome do segundo rio é Guion, o qual rodeia toda a terra de Cuche. 14 O nome do terceiro é Tigre, e corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates.»

Segundo a Wikipédia, a terra de Cuche, ou Reino de Cuche – também grafada como Kush, Cuxe ou Cus — «foi uma civilização que se desenvolveu na região norte-africana da Núbia, localizada no que é hoje o Norte do Sudão, a partir do século XXXII a. C.» e terá sido «uma das primeiras civilizações a surgir no vale do rio Nilo».

Mandado é uma ordem escrita, de carácter imperativo, emitida por uma autoridade competente. Por exemplo, um juiz, ao desejar dar uma ordem, emite um mandado. Pode ser um mandado de prisão, um mandado de busca, um mandado de captura