Maria João Matos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Maria João Matos
Maria João Matos
25K

Maria João Matos, professora de Português do ensino secundário, licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Deve-se dizer «Não tenho mais assunto de momento», «por momento», «pelo momento», «ao momento», ou «no momento»?

Como saber diferenciar o uso/a utilização destas preposições?! E como explicá-lo a um estrangeiro?

E, também, existe alguma diferença entre escrever uso e utilização? Porque na faculdade dizem-nos que é mais "correcto"/fino escrever utilização?!

Muito obrigada.

Resposta:

Poderá dizer «Não tenho mais assunto de momento» ou «neste momento». 

As outras preposições também poderão ocorrer em determinados contextos. Exemplificamos: 

«No momento [= naquele momento], foi o que me ocorreu.» 

«Por momentos fez-se um silêncio pesado na sala.» 

«Por um momento, todos ficaram em silêncio.» 

«Finalmente chegou-se ao momento por todos esperado, a entrega das prendas.» 

«Aterrorizados, todos esperaram pelo momento seguinte.» 

A palavra momento é um nome masculino que se emprega muitas vezes integrado em determinadas expressões fixas. São as locuções (adverbiais, conjuncionais e prepositivas). Nos três primeiros exemplos, trata-se de locuções adverbiais. Nos dois últimos, é diferente, a preposição é determinada pela regência do verbo («chegar a», «esperar por»). 

Penso que num bom dicionário (neste caso, na entrada momento) poderá esclarecer algumas dúvidas, uma vez que nele encontra o registo dessas estruturas, com o respectivo significado e exemplos. 

Quanto aos termos que refere, eles são si...

Pergunta:

Informação: Câmara de termografia é um equipamento semelhante a uma máquina fotográfica ou de filmar. Em vez de apresentar as imagens ópticas dos objectos, apresenta as imagens da distribuição de temperatura à superfície dos objectos.

Dúvida: como se chama ao operador de uma câmara de termografia?

"Termógrafo", "termografista", ou nenhum dos dois?

"Termógrafo" é um aparelho que regista a temperatura.

O operador de telégrafo é telegrafista, o operador de uma câmara de fotografia é fotógrafo, o operador de teodolitos e taqueómetros é topógrafo, e o operador de uma câmara termográfica ou de termografia?

"Termógrafo", "termografista", ou nenhum dos dois?

Os meus agradecimentos antecipados.

Resposta:

O termo não existe em português, talvez porque não haja pessoas com essa função específica. Pode tratar-se de uma câmara usada por um determinado profissional, como, por exemplo, um meteorologista. Na Wikipédia aparece, de facto, o termo termographer, provavelmente um neologismo no próprio inglês, pois também não encontrei o seu registo em nenhum dos dicionários ingleses consultados.

No entanto, qualquer dos termos, termógrafo ou termografista, está bem formado, com os respectivos elementos de formação, -grafo e -grafista

O elemento -grafo transmite a noção de «pessoa ou coisa que escreve, descreve, convenciona e afins», como geógrafo, dactilógrafo, e pode entrar na formação de novos termos, pois constitui uma «fonte de palavras virtuais ou potenciais» (cf. Dicionário Houaiss). 

Em alternativa a -grafo, existe o elemento grafista, derivado de -grafia, «escrita, registo», com o sufixo -ista, que designa «ocupação, ofício». Segundo o mesmo dicionário, «em profissões muito modernas, há a tendência (por influxo do inglês) de dominar -grafista». 

Resumindo, os termos em apreço ainda não constam dos dicionários portugueses, mas a lí...

Já muito se tem insistido aqui a propósito de um erro, recorrente em cada Natal que passa, o plural de Pai Natal, a personagem imaginária que descia pela chaminé durante a noite de Natal para colocar os presentes nos sapatos das crianças — como fazia também, aliás, o Menino Jesus dos Natais da minha infância…

As tradições vão ficando mais esbatidas no tempo, as rotundas figuras vestidas de vermelho e com barbas brancas vão tomando cada vez mais peso nesta época natalícia: são os pais natais.

Pergunta:

Qual das frases está correcta?

«Não fora os picos cobertos de neve, e diria que estava em...»

«Não foram os picos cobertos de neve, e diria que estava em...»

«Não fossem os picos cobertos de neve, e diria que estava em...»

Obrigada.

Resposta:

O predicado deve concordar com o sujeito, por isso as frases correctas são as que têm o verbo no plural: «Não foram os picos cobertos de neve...» e «Não fossem os picos cobertos de neve...».

Trata-se de um tipo de oração condicional em que a conjunção subordinativa se não está presente: o verbo pode ir para o pretérito-mais-que perfeito do indicativo (foram) ou para o imperfeito do conjuntivo (fossem), o sujeito (os picos cobertos de neve) vem depois do verbo, e a segunda oração pode, ou não, iniciar-se por e.

Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 37.ª edição, pág. 507) chama a este tipo de orações «orações justapostas de valor contextual adverbial», pois, uma vez que a conjunção não está presente, o valor da oração (neste caso, condicional) é dado pelo contexto.

Pergunta:

Gostaria de esclarecer a seguinte dúvida: o verbo visar contempla a forma reflexiva?

Exemplo: «Visando-se a verificação do documento, através do seu registo em catálogo [...].»

Agradeço desde já a atenção dispensada.

Resposta:

O verbo visar, no contexto apresentado, é transitivo directo — ou seja, pede complemento directo — mas não é reflexo. Para ser reflexo, a acção teria de recair no próprio sujeito: «Naquele artigo, o autor visava-se a ele próprio.»

Na frase em apreço, estamos em presença de uma construção passiva com a partícula apassivante se, em que a forma verbal «visando-se» pode ser substituída por «sendo visada», e «a verificação do documento» desempenha a função de sujeito.

Mas a frase está correctamente construída, com o sentido de «tendo em vista a verificação do documento…».