Maria João Matos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Maria João Matos
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Maria João Matos, professora de Português do ensino secundário, licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

A propósito da peça teatral Garrett no Coração, voltou a ouvir-se a pronúncia /Garré/ – como se se tratasse de um nome francês terminado em -t. Nada mais errado: o nome Garrett é inglês, e o -t deve ser pronunciado, tal como acontece no inglês e como o próprio Almeida Garrett fazia questão que se dissesse em português: /Garréte/.

O termo mobile vem actualmente associado a vários serviços relacionados com telemóveis: RTP Mobile, Mobile TV, MEO Mobile, ZON Mobile

Pergunta:

Como poderíamos justificar o uso da vírgula nas orações abaixo?

1) «O Ponto Final a Vírgula e o Ponto de Interrogação tentavam descobrir qual deles era o mais importante.»

2) «Comigo, podem ser apenas três: “Ana Teresa, Maria José, Rita Sofia”. Mas também podem ser quatro: “Ana, Teresa, Maria José, Rita Sofia”. Sem mim, nunca saberão.»

3) «Digamos que valemos todos o mesmo. Sem pontos, vírgulas e pontos de interrogação, as palavras andavam todas perdidas pelo meio das histórias.»

Resposta:

Nas frases apresentadas há duas situações diferentes de uso da vírgula:

— Vírgula a separar os vários elementos de uma enumeração (excepto quando vêm unidos pela conjunção e:

1) «O Ponto Final, a Vírgula e o Ponto de Interrogação tentavam descobrir qual deles era o mais importante.» 

2) «[…] Ana Teresa, Maria José, Rita Sofia[…] Ana, Teresa, Maria José, Rita Sofia.» Ana Teresa, sem vírgula, é o nome de uma única pessoa; se houver vírgula, Ana e Teresa são duas pessoas. 

3) «Sem pontos, vírgulas e pontos de interrogação[…]»

— Vírgula a isolar o complemento adverbial (adjunto adverbial) quando colocado em ordem inversa (em itálico, nos exemplos):

2) «Comigo, podem ser apenas três […] Sem mim, nunca saberão.»

3) «Sem pontos, vírgulas e pontos de interrogação, […]»

Neste exemplo, apenas a última vírgula ilustra a situação referida.

Cf. Saiba usar a vírgula

Pergunta:

Tenho uma pergunta que julgo ser pertinente.

Na realidade o termo homofóbico refere-se, ao contrário do que é dito nos meios de comunicação social, a quem tem fobia ao seu semelhante ou a quem tem fobia à raça humana?

Tal parece ser a lógica etimológica do termo.

Se interpretarmos homo- como sendo o prefixo grego para semelhante ou homo como o étimo latino para homem, percebemos que quem sofre de homofobia tem na realidade aversão ao seu semelhante ou tem aversão à raça humana, e tal não é por certo o caso mais simplista de ter aversão à homossexualidade!

Na minha franca opinião pessoal, o termo homofobia é um termo criado artificialmente por uma literata comunicação social de esquerda apologista da homossexualidade, mas em que este mesmo termo não assenta o significado que quer fazer passar nas suas raízes etimológicas quer grega, quer latina.

Para mim o antónimo de homofobia seria filantropia, e não um indivíduo partidário da homossexualidade.

Gostaria que comentasse.

Agradecido pela atenção concedida.

Resposta:

O termo homofobia significa, como atestam os dicionários, «medo irracional em relação à homossexualidade», «preconceito contra os homossexuais», «ódio em relação aos homossexuais». A palavra é composta por homo-, de homossexual, e -fobia, medo ou aversão.

 

O que acontece é que a acepção da palavra não pode ser deduzida a partir do significado do primeiro elemento de formação, homo-, pois este é, na palavra homofobia, uma forma abreviada do termo homossexual, ao qual se juntou o elemento de formação -fobia.

 

Trata-se de um processo de formação de palavras legítimo em português. É o que acontece, por exemplo, com telemóvel, que significa «telefone móvel», porque o elemento de formação tele- está por telefone.

Estes radicais latinos e gregos que perdem o sentido original e adquirem um sentido próprio na língua têm a designação, segundo a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, de pseudoprefixos.

 

Já agora, o termo filantropia tem como antónimos misantropia e antropofobia.

Apesar do seu uso (quase) generalizado, «há anos atrás» e congéneres são redundâncias que vale a pena repensar.

O verbo haver, associado a uma palavra que designa tempo, indica passado; o advérbio atrás significa, por sua vez, «tempo já passado; antes, anteriormente». Logo, o emprego simultâneo do verbo haver e do advérbio atrás é redundante.