por MARIA JOÃO CAETANO
O humorista faz 'stand-up comedy', rádio, televisão, teatro e o que mais aparecer. A partir de amanhã estará em 'A Cid...
Maria João Matos, professora de Português do ensino secundário, licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
O humorista faz 'stand-up comedy', rádio, televisão, teatro e o que mais aparecer. A partir de amanhã estará em 'A Cid...
Li no jornal Público de 7 de Janeiro de 2010 o título de uma notícia que dizia: «Documentos sobre a ditadura argentina foram desclassificados.» No contexto da notícia, o que se queria dizer é que os documentos foram mostrados ao público ou que deixaram de estar em segredo. Eu pergunto se o termo desclassificados está devidamente empregado neste contexto ou se se trata de uma adaptação para o português da palavra inglesa declassified e que é portanto incorrecta.
Obrigado.
O adjectivo (ou particípio passado de desclassificar) desclassificado significa: «1. Que perdeu o prestígio, o crédito, a autoridade… […] 2. Desp. Que foi eliminado antes do fim de determinada prova, concurso ou competição.»
O seu antónimo, o adjectivo ou particípio passado de classificar, classificado, significa: «1. Que se classificou 2. Que se distribuiu por categorias, por classes… 3. Que obteve certa qualificação ou nota, em exame, concurso, prova desportiva… […] 4. Que se divulga em sessões especializadas de jornais, revistas… ou diz respeito a essa divulgação» (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea).
Em nenhum dicionário português de referência encontrei esse significado próprio da língua inglesa. Em português de Portugal usa-se normalmente a expressão documento confidencial (e não classificado) e o seu oposto poderá ser público, não confidencial. O título em causa poderia ficar, por exemplo: «Documentos sobre a ditadura argentina foram tornados públicos.»
Já o dicionário brasileiro Houaiss acrescenta uma nova entrada ao termo classificado, que qualifica como «anglicismo semântico» e define como «defeso de circulação geral por razões de segurança; confidencial, secreto». No entanto, o seu oposto, desclassificado...
Anteanterior significa «anterior ao anterior». Exemplo: «2008 é o ano anteanterior ao atual.»
Anterior significa «passado, pretérito, que vem antes». Exemplo: «2009 é o ano anterior ao atual.»
Posterior significa «próximo, seguinte, que vem depois». Exemplo: «2011 é o ano posterior ao atual.»
Posposterior significa «posterior ao posterior». Exemplo: «2012 é o ano posposterior ao atual.»
E o que vós achais destas palavras?
O ano de 2008 é anterior ao actual, tal como o de 2009. E 2012 é posterior ao corrente ano, exactamente como 2011. Parece não haver necessidade dos termos que emprega, pelo menos nos contextos apresentados. Em nenhum dos dicionários de referência que consultei, confirmei a existência de tais palavras.
Para indicar que algo vem imediatamente antes ou depois de uma data ou de um local, os adjectivos anterior e posterior podem combinar-se, por exemplo, com esse advérbio: «Esse foi o ano imediatamente anterior (ou imediatamente posterior) ao do nascimento do teu pai»; «Para apanhar o comboio, saio na paragem imediatamente anterior (ou imediatamente posterior) à tua.»
Em um dos manuais que tenho, quando referindo à obrigatoriedade de se usar a mesma farda durante determinados períodos de trabalho (tripulante de bordo), diz «... devem estar uniformizados de forma igual».
Gostaria de saber se isto se também considera pleonasmo ou redundância tendo em conta que neste contexto «uniformizados» diz respeito ao uniforme/farda e não no seu sentido lato: «da mesma forma».
Agradeço desde já o eventual esclarecimento.
A frase é, ambígua, pois não fica claro o que se pretende dizer — pelo menos, para quem está de fora e dispõe apenas do curto excerto apresentado.
Se se pretende dizer que as pessoas devem usar uniforme, ou farda, então há redundância, uma vez que uniforme já significa «vestuário padronizado», «que tem uma só forma», «que é sempre igual». Neste caso, basta dizer que «as pessoas devem usar uniforme» ou «devem estar uniformizadas».
Mesmo que se pretenda dizer que todos devem usar o mesmo uniforme, ou seja, o mesmo modelo de uniforme — porque pode haver vários modelos, conforme a situação —, é uma expressão a evitar. Em seu lugar, poderá dizer-se que «todos devem usar o mesmo uniforme», ou «o mesmo modelo de uniforme».
Gostaria de saber se a primeira das seguintes frases (que se ouve com pouca, mas alguma, frequência) está correcta e, em caso afirmativo, se tem o mesmo significado que a segunda. Caso esteja correcta e não tenha o mesmo significado, existe alguma diferença?
1 – «Se tenho ido lá, nada disto teria acontecido.»
2 – «Se tivesse ido lá, nada disto teria acontecido.»
Muito obrigado.
A construção clássica é a segunda. A primeira, normalmente com o verbo da oração subordinante também no indicativo, em vez de no condicional: («Se tenho ido lá nada disto tinha acontecido») também é aceitável. É uma construção de cariz popular ou familiar, e vem atestada como tal nalgumas obras mais antigas, cujos excertos se transcrevem:
– Estudos da Língua Portuguesa, 1.ª série, Subsídios para a Sintaxe Histórica e Popular, de Júlio Moreira (1922), Lisboa, Livraria Clássica Editora, 2.ª edição, pág. 89: «Muitas vezes aparece o indicativo tanto na oração condicional como na condicionada, e em diferentes formas temporais, v. g.: “Se você vem mais cedo, via coisas bonitas!” ou “se você tem vindo mais cedo, via coisas bonitas!” ou ainda “se você tinha vindo mais cedo, via ou tinha visto ou havia de ver coisas bonitas!»
– Sintaxe Histórica do Português, de Augusto Epifânio da Silva Dias, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 4.ª edição, pág. 208: «Este conjuntivo [o da oração condicional] pode ser enfaticamente substituído (sobretudo no estilo familiar) pelo pret. indefinido, e pelo presente do indicativo, v. g.: "se Júlio tem sido encarregado, não acontecia este desastre"; "se estou agora em casa, assistia a um espectáculo muito triste".»
O sentido das frases apresentadas pelo consulente é o mesmo. Mas a primeira é mais expressiva, pois integra-se num registo popular e familiar. Na linguagem corrente, deverá dar-se preferência à segunda construção.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações