Maria João Matos - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Maria João Matos
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Maria João Matos, professora de Português do ensino secundário, licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

"Complexificar", "contemplamento": podem-se utilizar, ou não passam de erros?

Resposta:

O termo complexificar já se encontra dicionarizado:

 

complexificar (de complexo + ficar) — tornar ou tornar-se complexo; causar ou sofrer complexificações (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea).

Quanto ao termo contemplamento, não o encontrei em nenhum dos dicionários de referência consultados, nem em linha nem em suporte de papel. Em seu lugar, temos:

Contemplação s. f. (do lat. contemplatio, -onis) — acção de contemplar (cf. obra citada).

No entanto, o termo contemplamento aparece com relativa frequência, se fizermos uma pesquisa no Google, em blogues de poesia ou arte. Trata-se, possivelmente, de uma liberdade artística, ou poética, não aconselhável no português corrente.

Pergunta:

Não existe nenhum resultado encontrado para "umbreira" na Infopédia, no entanto outros dicionários igualam a "ombreira". Gostaria de saber se "umbreira" é uma palavra que ainda se pode usar.

Resposta:

Os termos umbreira e ombreira são sinónimos. O termo umbreira é usado mais como termo da construção civil, por analogia com umbral, enquanto ombreira se usa mais como termo ligado ao vestuário, por analogia com ombros

O Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Sociedade da Língua Portuguesa, apresenta para umbreira os seguintes significados: «Parte complementar de qualquer espécie de vestuário correspondente aos ombros; ombreira. Cada uma das duas pedras ou peças de madeira compridas, quase sempre de secção quadrada, que postas perpendicularmente sustentam a verga ou os painéis da porta ou portal. Limiar, entrada, átrio.» 

Para além destes significados, o mesmo dicionário atribui ao termo ombreira o seguinte: «Parte da armadura que protegia o ombro e a parte superior do braço de homem de armas, na Idade Média.»

Pergunta:

Que verbo corresponde ao nome sono?

Resposta:

Há alguns verbos em cuja formação entra a palavra sono, embora o seu uso não seja muito comum: 

Sonolearv. int. – «cair em sonolência, dormitar»; 

Sonolentarv. trans. – «tornar longo, maçudo, fastidioso, sonolento»; v. int. – «dormitar, passar pelo sono»; 

Sonambularv. int. – «estar adormecido, mas andar, falar e executar actos habituais de quem está a falar». 

(Cf. Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora.) 

Depois, há um grande número de expressões em que entra a palavra sono

«Cair de sono», «dormir a sono solto», «dormir o sono dos justos», «entregar-se ao sono», «fazer sono», «ferrar no sono», «passar pelo sono», «perder o sono», etc. etc.

Pergunta:

O que dizer da expressão «arrotar a...» sardinhas, por exemplo? É aceitável juntar toda a ideia de que se arrota com aroma e dizer «arrotar a algo», uma vez que tossir, espirrar ou arrotar são por si só acções finais?

Resposta:

Arrotar vem do latim eructare («vomitar», «lançar») e significa:

• «dar arrotos»: «Não se deve arrotar à mesa»;

• «expelir, pela boca, gases de estômago, emitindo, por vezes, um ruído ou um cheiro»: «arrotar os pimentos», «arrotar o almoço»;

•«mostrar-se superior; dar-se ares de grande importância, vangloriar-se»: «arrotar postas de pescada», «arrotar grandeza». 

Na primeira acepção, o verbo é intransitivo, à semelhança de tossir e espirrar. Nas outras duas acepções, é transitivo directo, ou seja, pede um complemento directo. Assim, «arrota-se qualquer coisa» mas não «a qualquer coisa». Arrota-se as sardinhas, não se arrota a sardinha, a menos que se tenha comido apenas uma.

Pergunta:

Poderiam definir o significado da expressão «relacionamento convoluto»?

Resposta:

Convoluto (do latim convulutus, particípio passado de convolvere, «girar», «enrolar») é um adjectivo que significa: «1. Que é enrolado sobre si mesmo ou à roda de qualquer objecto. 2. Bot. Diz-se da prefloração em que cada peça está enrolada longitudinalmente sobre si mesma, em forma de tubo» (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea). 

Talvez se pretenda significar, usando o termo em sentido metafórico, «um relacionamento complicado, confuso, embrulhado, enredado»… Falta o contexto. Mas a expressão apresentada não é habitual em Portugal. Pode tratar-se de uma tradução do inglês convoluted relationship («relacionamento complicado, difícil»).