Maria Eugénia Alves - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Maria Eugénia Alves
Maria Eugénia Alves
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Professora portuguesa, licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com tese de mestrado sobre Eugénio de Andrade, na Universidade de Toulouse; classificadora das provas de exame nacional de Português, no Ensino Secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Será que me poderiam ajudar a classificar a oração subordinada não finita que está presente nas seguintes frases: "Sinto-me incapaz de pensar" e "O poema era fácil de analisar". Ambas as orações exercem a função sintática de complemento do adjetivo, mas não consigo classificar qual a oração. Grata pela vossa ajuda.

Resposta:

      Estas orações designam-se por orações subordinadas substantivas completivas, e podem ser finitas ou não finitas, consoante o verbo se encontre numa forma verbal finita ou não finita (Dicionário Terminológico).

        Também na Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus et al., p.621, se designam por completivas não finitas: quer sejam selecionadas por verbos, nomes ou adjetivos, apresentam o verbo no infinitivo, flexionado ou não flexionado. Ex.: «Os contribuintes estão ansiosos por receber a informação a tempo.»

     Na Gramática do Português, de Eduardo Paiva Raposo et al., FCG, estas orações são designadas por completivas infinitivas, e podem também ser complemento de um adjetivo, sendo, nesse caso, parte integrante do sintagma adjetival que tem esse adjetivo como núcleo. 

   São necessariamente introduzidas por uma preposição. («O poema era fácil de analisar») ...

Napoleão Bonaparte com tratamento por… «você» (?!)

A nada protocolar forma de tratamento do «você» inadequadamente usada na tradução-legendagem da série televisiva "Napoleão", que passou no primeiro canal da televisão pública portuguesa, aos sábados à noite.

Pergunta:

Qual a frase correta: «Deixe aqui a sua questão a um dos cantores mais querido dos portugueses...» ou «Deixe aqui a sua questão a um dos cantores mais queridos dos portugueses...»

Resposta:

Sobre esta questão, já o Ciberdúvidas respondeu várias vezes: aquiaquiaqui e aqui.*

A frase correta é «Deixe aqui a sua questão a um dos cantores mais queridos dos portugueses...»

Se invertermos os termos da frase, mais facilmente se verifica a sua correção: «Dos cantores  mais queridos dos portugueses [ele é um deles].»

 

* N.E. – Voltamos a pedir a quantos acedem ao consultório do Ciberdúvidas: antes da colocação da pergunta, confirme-se na pesquisa do arquivo [ Como (melhor) navegar e pesquisar no Ciberdúvidas. ] se o tema já não se encontra esclarecido.

Pergunta:

Tenho dificuldade de fazer a conversão do seguinte discurso:

«Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase...quase!»

Resposta:

«Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase...quase!»

Este é um exemplo de discurso indireto livre, modalidade intermédia entre o direto e indireto, livre da subordinação, em que a enunciação do locutor-relator se funde com  a enunciação do primeiro locutor. A voz do narrador  confunde-se com a da personagem, havendo uma espécie de intersecção entre o discurso direto e o discurso indireto.

Distingue-se do direto, porque omite as marcas que assinalam a introdução do discurso relatado; e do indireto, porque, ao contrário deste, omite o verbo declarativo e as conjunções subordinativas que integram o discurso relatado.

Tendo em conta o que foi dito, a conversão do texto do consulente vai incidir sobre as marcas que fazem parte do discurso direto e que passarão, pois, para o discurso indireto:  

«Ele (ou ela) afirmou que naquele momento (ou naquele dia, ou então...) sentira uma grande vontade de voar. Correra outra vez com a respiração presa e já nem podia mais. Estava desanimado e exclamou que era uma pena, porque houve um momento  em que estivera perto disso.»

 

Fontes: 

Pergunta:

Na frase «A curiosidade humana acerca do desconhecido e a sua incapacidade de explicá-lo através da razão fez com que (...)», o verbo deve vir no plural ou no singular?

Obrigada.

Resposta:

Quando os núcleos do sujeito são equivalentes e estão no singular, o verbo deve ir para o plural, obedecendo à regra geral.

Exemplo :«Tu por um lado e eu por outro o acautelaremos das horas más» (Aquilino Ribeiro, Volfrâmio *)

 

No entanto, existe a concordância com o sujeito mais próximo, em várias situações:

1. Quando os sujeitos vêm depois do verbo: 

         Ex: « Que te seja propício o astro e a flor,

                   que a teus pés se incline a Terra e o Mar. » (Florbela Espanca, Sonetos)

 

 2. Quando os sujeitos são sinónimos ou quase:

           Ex : «A conciliação, a harmonia entre uns e outros é possível.» (Augusto Abelaira, O Nariz de Cleópatra)

                  « Todo o seu comentário, toda a sua exegese e todo o seu exame artístico vinha insuflado dessa virtude elucidativa em que a sua contribuição pessoa...