Luciano Eduardo de Oliveira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luciano Eduardo de Oliveira
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Luciano Eduardo de Oliveira, poliglota, tradutor, professor de idiomas, formado em Letras na Unifac Faculdades Integradas de Botucatu.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Na questão abaixo, gostaria de saber a predicação de cada um dos verbos. Na primeira oração, o verbo ficar seria intransitivo e «num alto lavado de ventos» seria adjunto adverbial de lugar?

«(Uni-Rio-RJ) Assinale a opção correta quanto à predicação atribuída ao verbo sublinhado na passagem do texto.

a) "A casa fica num alto lavado de ventos." — ligação;

b) "Aqui não há encantos." — intransitivo;

c) "... as zínias e os manjericões que levantavam um muro colorido ao pé dos estacotes." — transitivo direto e indireto;

d) "Sim, só comparo o Nordeste à Terra Santa." — intransitivo;

e) "... em torno do qual gravitam as plantas, os homens e os bichos." — intransitivo.»

Resposta:

Tendo em conta a Nomenclatura Gramatical Brasileira (de 1959):

a) «A casa»: sujeito; «ficava»: verbo intransitivo; «num alto lavado de ventos»: adjunto adverbial de lugar.

b) «Aqui»: adjunto adverbial de lugar; «não»: adjunto adverbial de negação; «há»: objeto direto, «encantos»: objeto direto.

c) «as zínias e os manjericões»: sujeito; «que»: pronome relativo; «levantavam»: objeto direto; «um muro colorido»: objeto direto; «ao pé dos estacotes»: adjunto adverbial de lugar.

d) «Sim»: adjunto adverbial de afirmação; «só»: adjunto adverbial de modo; «comparo»: verbo transitivo direto e indireto; «o Nordeste»: objeto direto; «à Terra Santa»: objeto indireto.

e) «em torno do qual»: adjunto adverbial de lugar; «gravitam»: verbo intransitivo; «as plantas, os homens e os bichos»: sujeito.

Portanto, a resposta correta é a e).

Pergunta:

Aprendi que autoestima é uma palavra composta que significa «estima por si próprio». Aprendi também que nunca se diz "baixa-estima".

Atualmente ouvi duas pessoas cultas dizerem "baixa-estima". Buscando no Google obtive a informação de que é certo e significa: «estima baixa por alguém». Isto procede?

Resposta:

Apesar de aparecer «baixa estima» algumas vezes com o valor de «baixa autoestima» — como, por exemplo, aqui —, o correto é autoestima (escrito sem hífen segundo o novo Acordo Ortográfico por a última vogal do primeiro elemento — auto — e a primeira vogal do segundo — estima — não serem idênticas): ter (elevada/baixa, etc.) autoestima, que, como diz a própria consulente, é estima por si próprio. O auto de autoestima é um radical e significa «referente a si próprio», como o auto de automóvel, de autocombustão, de autofagia, de autocracia, e não tem nada que ver com alto, com l, adjetivo, que significa «grande, elevado».

No entanto, pode-se falar de «baixa estima» (sem hífen) ao nos referimos à estima que alguém tem por outrem: «Ele sofre de baixa estima dentro da comunidade», ou seja, a comunidade não tem grande estima por ele, não o estima muito.

Pergunta:

Colateral em inglês significa «garantia». Em português é uma linha de parentesco. Mas em documentação profissional por vezes traduzida de forma literal aparece a palavra colateral com o primeiro significado, por exemplo, na frase «Juros das permutas de liquidez entre bancos, com ou sem colateral». Gostava de saber se é correta essa utilização.

Resposta:

Não está dicionarizado este uso de colateral e, o que é pior, é bem provável que quem não está acostumado a este tipo de textos (e não saiba um pouco de inglês) não entenda o que se quer dizer com a palavra. Como bem sugere o estimado consulente, neste caso traduz-se por garantia, ou então fiança ou penhor.

Pergunta:

Gosto muito da língua portuguesa, especialmente da gramática, entretanto, tenho algumas dúvidas em relação às vírgulas. Gostaria que me falasse qual é a função das vírgulas nas frases destacadas.

A) «Você, sem fronteira.» O pronome de tratamento, nesse caso, é um vocativo?

B) «O pesquisador James, da Universidade da Califórnia, publicou nos anos 1990 o resultado de seu estudo.»

Isso é um adjunto adnominal de origem, ou é um aposto? Adjunto adnominal parece que não é, porque este não é separado por vírgula.

C) «Café cajubá, é a minha paixão.» Essa vírgula não estaria separando o sujeito e o predicado?

D) «Mandou, chegou.» Qual conectivo fica subentendido nessa frase? Consequência?

Desde já, agradeço pela atenção!

Resposta:

A) «Você, sem fronteira.» — «Você» é interpretável como sujeito de uma oração subordinada adjetiva explicativa: «Você, que é/está sem fronteira,...»; «Você, que não tem fronteira,...».

B) Trata-se de aposto. O aposto explicativo, que sempre vem entre vírgulas, pode ser retirado da frase, e esta não perde o seu sentido.

C) Aqui a vírgula está mal empregada, porque, como bem diz, separa o sujeito do predicado.

D) Depois que/Assim que/Tão logo mandou (algo), (essa coisa) chegou. É uma oração subordinada adverbial temporal, que, como o próprio nome sugere, indica o tempo em que algo é realizado.

Pergunta:

Na frase: «O conjunto de _____ desse programa de computador o torna um dos mais completos do mundo, em sua categoria.»

Posso usar indiferentemente as palavras funcionalidades, funções e ferramentas com o significado da inglesa features para preencher a lacuna?

Resposta:

Características, aspectos distintivos ou funções parecem-me termos mais adequados. Segundo o Dicionário Houaiss, funcionalidade é «qualidade do que é funcional», portanto, não é o mesmo que função. Ferramentas equivale mais a tools em inglês.