Luciano Eduardo de Oliveira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luciano Eduardo de Oliveira
Luciano Eduardo de Oliveira
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Luciano Eduardo de Oliveira, poliglota, tradutor, professor de idiomas, formado em Letras na Unifac Faculdades Integradas de Botucatu.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Existe alguma expressão portuguesa que traduza o verdadeiro significado de «mobilization of bias»?

A expressão surge no contexto político e, em inglês, significa:

«A second dimension to power (so-called "non-decisionmaking") involves the "mobilization of bias", or manipulation of the political agenda by powerful groups, taking decisions which prevent issues from emerging and becoming subject to formal political decision-making.» (GORDON MARSHALL. "Community power". A Dictionary of Sociology. 1998. Retrieved October 09, 2012 from Encyclopedia.com)

Obrigado.

Resposta:

Tem sido usada a tradução literal, «mobilização de viés», pelo menos no Brasil, a julgar pela proveniência das páginas encontradas na Internet.1 No entanto, note-se que na grande maioria das vezes a expressão aparece entre aspas, o que sugere que o autor não está completamente certo da sua aceitabilidade, mas não teme usá-la em documentos académicos, uma vez que se trata de um termo conhecido na área da Ciência Política, ao que parece introduzido pelo sociólogo americano Eric E. Schattschneider (1892-1971), conforme se lê num artigo em linha:

«Schattschneider, citado por Hasenbalg, em um ensaio clássico chamava atenção para o fato de que o problema crucial da política é a administração do conflito e uma das maneiras mais eficientes de controlar um conflito é não providenciar uma arena para o mesmo, nem criar uma agência pública com poder para fazer algo a seu respeito. Chamou a isto de “mobilização do viés»

Outras traduções para bias que possam contribuir para uma solução mais vernácula, generalizável a todo espaço de língua portuguesa, se é que a existente não agrada: parcialidade, parcialismo, inclinação, tendência, ...

Pergunta:

Posso considerar como silepse e concordar no singular? A frase é esta: «Inglês, espanhol, intercâmbio, é no Yázigi.» Advogo a elipse de «Curso de». Procede?

Resposta:

Talvez se possa considerar uma enumeração gradativa:

«A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos.» (Monteiro Lobato, N, 4.)

«O grotesco, o pobre, o sem forças, era triturado agora na pressão dessa grande cidade, ininterrupta de gente, de casos que profundamente a excluíam.» (A. Bessa Luís, AM, 54.)

Fonte: Nova Gramática do Português Contemporâneo (pág. 506), de Celso Cunha e Lindley Cintra.

Ou pode tratar-se de supressão de alguma(s) palavra(s), como «tudo isso»: «Inglês, espanhol, intercâmbio, tudo isso é/se encontra no Yázigi.»

Pergunta:

Como se poderão traduzir em português os termos médicos ingleses intimal thickness e medio-intimal thickness (espessura da íntima, espessura do conjunto da camada média e da íntima), em menos palavras e de maneira mais concisa? Suponho que intimal em português não seja aceitável. Haverá algum vocábulo com esse significado («da íntima», «da média», «da íntimo-média»)?

Resposta:

De facto não encontrei intimal em nenhum dicionário geral da língua portuguesa, mas considerando que é usado, inclusive em espanhol, que a comunidade médica precisa dele por preencher uma lacuna na língua e que o adjetivo é bem formado1, não vejo razão para não usá-lo.

1 Sendo um empréstimo ou tendo por motivação a palavra inglesa, o adjetivo intimal, relativo a íntima, «túnica interna de uma artéria (endartéria) ou uma veia (endoveia), constituída por um endotélio cujas células são alongadas no sentido do eixo do vaso (paralelo ao sentido da corrente sanguínea)» (L. Manuila et al., Dicionário Médico, Lisboa, Climepsi Editores, 2004), tem, no entanto, características que o alinham, em português, com outros adjetivos denominais sufixados com -al, com o significado genérico de «relativo, pertencente, concernente a ou próprio de (ger. base formadora)»: pessoal (< pessoa), teatral (< teatro), comercial (< comércio).

Pergunta:

Estou atualmente morando numa cidade do Rio Grande do Norte e sempre escuto dizer «prefeitura do Natal». No caso, não sei se a preposição com o artigo do está empregada corretamente, porque sempre pensei que seria correto dizer «prefeitura de Natal».

Qual seria o uso certo?

Resposta:

Em português geral, é Natal sem artigo, por ser cidade e a maioria das cidades não fazer uso do artigo, com poucas exceções (Rio de Janeiro, Porto, Cairo e mais algumas poucas). Note que no verbete natalense do Dicionário Houaiss se lê «a Natal», sem artigo definido: «adj. 2 g. s. 2 g. (1599) relativo a Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, ou que é seu natural ou habitante.»

No entanto, acho que se deve agir com tolerância com quem é dessa cidade e a vida toda usou o artigo, que constitui um uso localizado.

Veja a posição deste professor, que parece ser natural de lá. Também é interessante notar a presença do artigo no portal da prefeitura dessa cidade.

Pergunta:

Li numa resposta a outra questão que o mais adequado é usar nietzschiano. Essa regra vale para o português do Brasil também, ou é característica do português de Portugal?

Resposta:

Sim. É como aparece registrada a palavra no Dicionário Houaiss, no Dicionário Aulete digital, ambos brasileiros, e no VOLP da Academia Brasileira de Letras.