José Neves Henriques (1916-2008) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Neves Henriques (1916-2008)
José Neves Henriques (1916-2008)
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Professor de Português. Consultor e membro do Conselho Consultivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Antigo professor do Colégio Militar, de Lisboa; foi membro do Conselho Científico e diretor do boletim da Sociedade da Língua Portuguesa; licenciado, com tese, em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra; foi autor de várias obras de referência (alguns deles em parceria com a sua colega e amiga Cristina de Mello), tais como Gramática de hojeA Regra, a Língua e a Norma A Regra, Comunicação e Língua PortuguesaMinha Terra e Minha Gente e A Língua e a Norma, entre outrosFaleceu no dia 4 de março de 2008.

CfMorreu consultor do Ciberdúvidas

 
Textos publicados pelo autor

Concordo com a doutrina expendida pelo dr. Peixoto da Fonseca no texto aqui ao lado, mas há aqui um pequeno pormenor que é conveniente levar em conta: em "a maioria" / "a maior parte", está presente o artigo definido no singular, o que nos obriga a pôr o verbo no singular. Em 25% dos alunos ficaram em casa, não está presente o artigo definido. Se estivesse, o verbo teria de ir para o plural: "Os 25% dos alunos ficaram em casa".

Como não está presente podemos dizer "25% dos alunos ficou".

Pergunta:

Deverá dizer-se "Dormir de consciência tranquila" ou "Dormir com a consciência tranquila", tomando, nesta última, a consciência como um elemento exógeno à pessoa? Agradecimento: Agradeço a manutenção desta página para o bem desta língua tão bela e tão pontapeada.

Resposta:

Consideremos:

(a) Dormir de consciência tranquila.

(b) Dormir com a consciência tranquila.

Tanto na frase (a) como na (b), não podemos considerar a "consciência como um elemento exógeno à pessoa" - pelo menos, é o que parece, porque a consciência é como que a essência do homem; e se ela pode fazer a sua miséria, pode também fazer a sua grandeza. Em relação ao homem, a consciência nunca pode ser exógena , porque está nele próprio, uma vez que ela é o conhecimento que o homem tem de si próprio: dos seus pensamentos, conhecimentos e acções. Se o nosso prezado consulente concordar com isto, tanto está correcta a frase (a) como a frase (b).

Pergunta:

Frequentemente, os médicos dizem acalásia, quando se confrontam com esta doença do esófago. Contudo, outros referem Acalasia. Qual a forma correcta?

Resposta:

Conforme o "Dicionário Enciclopédico de Medicina" de A. Céu Coutinho, 3ª. edição, o correcto é acalasia (sí). É formada de "a + calas + (do grego "chálasis", relaxamento) + "ia (sufixo).

Pergunta:

Mesmo ao nível dos nossos governantes, ouve-se com frequência falar na "quadruplicação da Linha de Sintra".
Penso que está incorrecto, é apenas uma duplicação.

Resposta:

Parece-me que nada há que objectar. Quadruplicar significa "multiplicar por quatro". Se havia uma só linha para Sintra e agora há (ou haverá) quatro, temos, de facto, uma quadruplicação. Mas se havia duas linhas e agora há (ou haverá) quatro, não temos quadruplicação, porque a quadruplicação seriam oito. O que temos é duplicação.

Não sei se é esta a explicação que pretende, porque não a especifica.

Quanto ao que se segue não sei se pretende alguma coisa, visto que nada pede.

Pergunta:

Ultimamente, dou comigo a ouvir a expressão de que como nesta frase: "já se chegou à conclusão de que há algo que merece a nossa atenção."
Tenho a vaga sensação (de) que isto não está certo. Apesar disto, ouço ministros, locutores, políticos desde o Freitas do Amaral até ao líder do PP a repetir a expressão.
Por favor esclareçam-me se está correcto ou errado.

Resposta:

Está inteiramente correcto o de que na frase apresentada: "Já se chegou à conclusão de que há algo ..."

Está inteiramente certo, porque, quando chegamos à conclusão, chegamos à conclusão de alguma coisa; à conclusão disto, daquilo, etc. Cá está a preposição de, porque disto é igual a de isto e daquilo é igual a de aquilo. Dizemos, por exemplo, frases como esta:

(1) Ele chegou, finalmente, à conclusão da obra que tinha prometido.

Cá está a preposição de depois da palavra "conclusão" (de a obra).

Se, em vez de "chegar à conclusão", dissermos concluir, então já não há a preposição de. Um exemplo:

(2) Ele concluiu que o primo era boa pessoa.

É claro que é grande asneira dizer assim:

(3) Ele disse "de que" ia passear.

Compreende-se: com o verbo dizer nunca empregarmos a preposição de. Alguns exemplos:

(4) O João disse coisas bonitas (e não "de coisas bonitas").

(5) A Maria disse palavras agradáveis.

(6) O padre já disse a missa.