Pergunta:
Percebi que a tal da linguagem neutra está pegando de vez no Brasil, na Argentina e no Chile... mas quem inventou de colocar a linguagem inclusiva em português e em espanhol?
A linguagem em questão não é acessível a cegos, surdos, mudos, analfabetos e autistas, fora que será preciso que todas as enciclopédias, dicionários e gramáticas se reescrevam se for para se levar a sério realmente essa nova linguagem!
Pois muito bem, qual a opinião de vocês desse assunto todo aí de verdade?
Muitíssimo obrigado e um grande abraço!
Resposta:
Alguns investigadores, como a socióloga Mara Pieri, defendem que desde o século XIX a complexa relação entre sociedade e a linguagem tem sido foco de discussão e reflexão. Entendendo-se a língua como um sistema criado por pessoas e que reflete o modo como estas se organizam, a reivindicação pela utilização de uma linguagem que pretenda incluir minorias e grupos marginalizados é, no fundo, um reflexo do modo como as sociedades pensam e se organizam. Nos dias de hoje, a defesa do uso de linguagem inclusiva está, sobretudo, alinhada com as teorias que refletem sobre o papel sexual e de género.
Relativamente às questões de género e linguagem, estas começaram a ganhar mais amplitude na década de sessenta do século XX com a segunda vaga do feminismo nos Estados Unidos da América, sendo que este tema rapidamente começou a ser discutido em alguns dos círculos mais proeminentes da linguística. Exemplo disto é a publicação da obra Language and Woman’s Place de Robin Lakoff, aluna do reputado linguista Noam Chomsky. Neste texto, a autora denuncia conotações, expressões e construções linguísticas que dão conta da natureza sexista das sociedades. Neste sentido, na dissertação de mestrado «Poderá uma Língua Natural ser Sexista?» (2020), o investigador João de Matos (Universidade Nova de Lisboa) defende que ...