Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora
Qual o estatuto do inglês nos dias de hoje?
A situação atual da língua inglesa no mundo

«[S]e tivermos em consideração que, atualmente, o inglês é a língua mais usada pelos falantes do mundo inteiro, uma vez que conta com 1,75 milhões de falantes (cerca de ua em quatro pessoas no mundo), de um ponto de vista comunicativo, é lícito utilizar a expressões língua mundial e língua universal para designar a situação atual deste idioma» – escreve Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas, num texto em que reflete sobre a situação atual da língua inglesa, a propósito do texto «Não há língua universal alguma» do advogado e esperantólogo Miguel Faria de Bastos.

 [Sobre esta controvérsia, O inglês, língua universal: sim ou não?, vide os textos: Não há língua universal alguma e Um mundo anglofonizado]

Pergunta:

O que é mais correto, afirmar que a língua inglesa é uma «língua universal» ou uma «língua mundial»?

Resposta:

Se assumirmos que o inglês é uma língua falada internacionalmente, sendo aprendida como língua segunda ou língua estrangeira1 por uma grande parte de falantes, então, podemos considerar que é uma língua universal e/ou mundial.

Na literatura especializada, não se deteta o uso das designações língua universal e língua mundial, todavia, a Wikipédia portuguesa considera que as expressões língua universal e língua mundial são sinónimas, sendo empregadas para descrever situações em que uma determinada língua é falada por «um grande número de falantes (nativos ou como língua estrangeira ou segunda) e usada em organizações internacionais e relações diplomáticas». No passado, línguas como grego clássico ou o latim foram línguas universais dada a relevância dos seus impérios; hoje em dia poder-se-á considerar que o inglês é a língua que assumiu essa importância, resultado da extensão do poder colonial britânico, que teve o seu ápice no final do século XIX, e da hegemonia dos Estados Unidos como potência económica no século XX.

Para se impor como língua global, um idioma deve ter um papel especial e reconhecido em todo o mundo. Segundo Marisa Grigoletto no artigo «O inglês na atualidade: uma língua global», a língua inglesa tem o estatuto de

Futebolês... sem poesia
"Pontapés" na gramática num vídeo da Betclic Portugal

Para celebrar o Dia Mundial da Poesia (21 de março), a Betclic Portugal lançou um vídeo em que a atriz portuguesa Rita Blanco surge a ler um poema feito com algumas das expressões mais risíveis utilizadas no mundo do futebol. A este propóstito, a consultora do Ciberdúvidas, Inês Gama, aproveita para explicar o porquê de algumas das frases referidas nesse vídeo serem consideradas "pontapés" no bom português.

A expressão «resvés Campo de Ourique»
A sua origem e significado

A origem e significado da expressão «resvés Campo de Ourique» é o tema abordado pela consultora Inês Gama no programa Páginas de Português, da Antena 2.

Pergunta:

Regra geral, tenho poucas dúvidas quanto ao português escrito; acredito, porém, que essa segurança advém do facto de ser uma leitora compulsiva, e não de ser especialmente versada nas questões menos comuns da gramática da nossa língua (de gramática, só recordo as distantes lições da instrução primária e do liceu, e uma leitura, também já distante no tempo, da «Nova gramática do Português contemporâneo»*, de Celso Cunha e Lindley Cintra), pelo que, frequentemente, me debato entre a certeza da formulação correta e a falta de base teórica para defender a minha posição. E quando não sei mesmo (nem sequer intuo), recorro ao Ciberdúvidas, claro.

Encontro-me presentemente a rever vários textos [...] e deparei com uma frase que me soa mesmo mal; mas como as alterações que proponho têm de ser discutidas com os autores, gostaria, caso tenha razão, que me proporcionassem o tal fundamento teórico, para poder apresentá-lo se aqueles não aceitarem a correção. A frase é a seguinte:

«Distinguir a diferença entre a perspetiva focal e periférica na relação com si próprio, com o outro, com os objetos e com o espaço.»

Eu sugiro «[...] na relação consigo próprio [...]». Tenho razão?

Obrigada e parabéns pelo vosso trabalho.

Resposta:

A expressão correta é «consigo próprio».

A forma consigo é resultado da contração da preposição «com» com o pronome pessoal da terceira pessoa na forma oblíqua «si». Regra geral, quando a preposição com coocorre com o pronome pessoal oblíquo, tem lugar uma contração que assume as seguintes formas consoante a pessoa: comigo (1.ª pessoa do singular); contigo (2.ª pessoa do singular); consigo (3.ª pessoa do singular); connosco (1.ª pessoa do plural) e convosco (3.ª pessoa do singular).

Na Moderna Gramática do PortuguêsEvanildo Bechara adverte que as formas com mim, com ti, com si, com nós, com vós não são aceites em português. Todavia, este gramático alerta ainda: «empregam-se, entretanto, com nós e com vós, ao lado de conosco [connosco em PE1] e convosco, quando estes pronomes tônicos vêm seguidos ou precedidos de mesmos, próprios, todos, outros, ambos, numeral2 ou oração adjetiva, a fim de evidenciar o antecedente» (pág. 140). Por isso, a expressão «com si próprio» não é correta em português. Podemos, no ent...