Helena Ventura - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Helena Ventura
Helena Ventura
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Licenciada em Filologia Germânica, pós-graduação em Linguística. Autora, entre outras obras, do Guia Prático de Verbos com Preposições.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber se devemos dizer «passei a Matemática com 13 valores», ou «passei em Matemática com 13 valores».

Obrigado.

Resposta:

O verbo passar, com o significado de «dar ou obter aprovação num exame», pode utilizar-se com a preposição a e também com a preposição em, dependendo do modo como a frase é formulada.

Em relação ao exemplo apresentado:

1— «Passei a Matemática com 13 valores.»
2— «Passei no exame de Matemática com 13 valores.»
 
Conclusão: passamos a uma cadeira, a uma disciplina; passamos no/num exame.

(De acordo com as indicações do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa.)

Pergunta:

Gostaria de saber se a forma correcta do verbo notificar (como em «notificar alguém...») será «notificar alguém "que"...» ou «notificar alguém "de que"...».

Grata pela atenção e esclarecimento.

Resposta:

O verbo notificar, «dar conhecimento, participar alguma coisa a alguém, informar», deve usar-se com preposição, quando se segue ao verbo um objecto directo, o que normalmente acontece: «notificar alguém de que» (ex.: «o director notificou os alunos de que era proibido fumar nas aulas»).

O mesmo se passa com o verbo informar (ex.: «informaram os passageiros de que o comboio estava atrasado). Mas atenção: se não há objecto directo após o verbo, então não se usa de (ex.: «informo que amanhã não há reunião»).

Pergunta:

Gostaria de saber a regência dos verbos destruir e roubar nestes dois exemplos:

«O fogo destruiu a plantação do fazendeiro.»

«Ninguém deve roubar a infância de um ser humano.»

Muito grata.

Resposta:

São ambos transitivos directos, isto é, não necessitam de uma preposição intermédia, pois o complemento é objecto directo (nos transitivos indirectos há o emprego de uma preposição e o complemento é objecto indirecto).

No exemplo com o verbo destruir, estamos perante um objecto directo concreto («a plantação»). No exemplo com roubar, o objecto directo é abstracto («a infância»); a expressão está a ser usada em sentido figurado.

Pergunta:

Minha dúvida é: «as pessoas se manifestam com seu gestor», ou «ao seu gestor»?

Resposta:

O verbo manifestar conjugado na forma reflexa, manifestar-se, surge frequentemente associado à preposição contra (Ex.: «os estudantes manifestaram-se contra as más condições das salas de aula...»; «os trabalhadores manifestaram-se contra os patrões...»).
 
No caso da pergunta apresentada, parece-nos que o sentido da frase é:

«As pessoas manifestaram o seu sentimento junto do gestor.»

Daí que, o modo mais correcto de formular será:

«As pessoas se manifestam ao seu gestor.»1

1 «As pessoas manifestam-se ao seu gestor», em português europeu. 

Pergunta:

Com relação ao emprego do verbo prover, gostaria de saber se a frase a seguir está correta, e, caso contrário, se há outra opção melhor, apesar de já ter consultado as respostas anteriores e não ter ficado suficientemente esclarecido:

«O objetivo da empresa é prover aos consumidores da Grande São Paulo benefícios reais, bem como gerar crescimento sustentável e lucrativo.»

Por breve resposta, obrigado.

Resposta:

O verbo prover, no sentido em que é utilizado na frase («abastecer, fornecer, munir»), deve ser utilizado com objecto directo, seguindo-se a preposição de, ou a preposição com. Assim:
«O objectivo da empresa é prover os consumidores da Grande São Paulo de (com) benefícios reais, bem como...»
Outro exemplo: «Os marinheiros proveram o barco de (com) mantimentos para um mês.»
O verbo também pode apresentar-se na forma reflexa.
Nessa situação, também pode ser utilizado com as preposições de ou com.
Exemplos:
a) «Demorou algum tempo, para se prover de tudo aquilo de que necessitava.»
b) «Proveu-se com cobertores e outros agasalhos.»
 
O verbo também pode significar «conceder dotes ou qualidades».
Exemplo: «A natureza provê os animais do instinto conservador da espécie.»

Finalmente, quando significa «atender, acudir» e «providenciar», pode ser usado com um complemento sem preposição ou começado pelas preposições a ou para, integrando um nome abstracto designativo de necessidade ou carência (cf. Maria Helena de Moura Neves, Guia de Uso do Português, São Paulo Unesp, 2003, e Francisco da Silva Borba, Dicionário Gramatical de Verbos,  São Paulo, Unesp, 2001); exemplos: «Ele é incapaz de prover ao próprio sustento/à próprias necessidades.»