Helena Ventura - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Helena Ventura
Helena Ventura
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Licenciada em Filologia Germânica, pós-graduação em Linguística. Autora, entre outras obras, do Guia Prático de Verbos com Preposições.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Olá! Por gentileza, na frase «Despertar e incentivar a criança para o novo idioma», está correta a regência com a preposição para, já que os verbos possuem regências diferentes?

Muito obrigada pela atenção.

Resposta:

De facto, a frase não está correctamente formulada, porquanto as regências verbais são diferentes: «despertar para»/«incentivar a». Então deveria a frase ser formulada, do seguinte modo:

«Despertar a criança para o novo idioma e incentivá-la a aprendê-lo [praticá-lo/usá-lo/falá-lo].»

Pergunta:

Qual é a melhor formulação: «assumir-se como seguidor», ou «assumir-se num seguidor»?

Resposta:

O verbo assumir, conjugado reflexamente, significa «identificar-se com determinado estatuto, condição... e agir em conformidade com o mesmo». Nesta circunstância, segue-se o advérbio como, visto que indica como o sujeito se identifica e, consequentemente, o modo como age. Assim: «Ele assume-se publicamente como homossexual.»

Pergunta:

A minha dúvida encontra-se na frase «Passámos para o ponto dois da ordem de trabalhos». O verbo passar não deveria ser regido pela preposição a? Ou seja, não deveria ser «Passámos ao ponto dois da ordem de trabalhos»?

Obrigada pela disponibilidade.

Resposta:

O verbo passar, usado no contexto apresentado pela consulente, significa
«mudar de acção, de actividade» e, neste sentido, rege a preposição a. Quando o verbo significa «mudar de local, de lugar» é que rege a preposição para (Ex.: «passámos para a outra sala»).

Conclusão: a formulação correcta, no contexto apresentado, é «Passámos ao ponto dois da ordem de trabalhos».

Pergunta:

Gostaria de saber se, na frase «Juntando a competência dos investigadores com a incompetência do ladrão, depressa se chegou à detenção de...», o verbo «chegou» é transitivo indirecto.

Obrigada.

Resposta:

O verbo chegar é um verbo que assume muitos significados, de acordo com o contexto em que é utilizado.

De acordo com as regras gramaticais, quando o verbo expressa uma ideia completa, define-se como verbo intransitivo.

O verbo chegar pode ser considerado intransitivo em contextos específicos, por exemplo, com o significado de «atingir o lugar de destino»: «O professor já chegou»; «Ontem a mãe chegou tarde», etc.

Numa frase do tipo: «Chegou as mãos à lareira, para se aquecer», o verbo significa «aproximar» e pode-se aceitar como transitivo directo.

Contudo, no contexto em que é apresentado pela consulente, o verbo é seguido da preposição a, assumindo um significado próximo de «conseguir, atingir».

Nesta circunstância, o verbo chegar, com regência, é considerado transitivo indirecto.

Pergunta:

Em que casos se usa «proteger de» e em que casos «proteger contra»? Ex.: «O jardineiro protegeu as rosas do vento/contra o vento.» No Houaiss só há exemplos com «proteger de», enquanto no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa há exemplos com as duas formas.

Muito obrigada pela resposta.

Resposta:

Ambas as preposições são aceites. Tanto no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa como no Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa (Porto, Lello e Irmão) encontramos ambas as preposições.

Exemplos:

a) «Dois agentes da polícia foram colocados em sua casa, para o protegerem de qualquer acção dos malfeitores.»

b) «... havia a Inglaterra decidido proteger o litoral e marinha mercante da França contra os ataques eventuais da Alemanha...» (Aquilino Ribeiro in É a Guerra, Bertrand, 1997).