Filipe Carvalho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Filipe Carvalho
Filipe Carvalho
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Mestre em Teoria da Literatura (2003) e licenciado em Estudos Portugueses (1993). Professor de língua portuguesa, latina, francesa e inglesa em várias escolas oficiais, profissionais e particulares dos ensinos básico, secundário e universitário. Formador de Formadores (1994), organizou e ministrou vários cursos, tanto em regime presencial, como semipresencial (B-learning) e à distância (E-learning). Supervisor de formação e responsável por plataforma contendo 80 cursos profissionais.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Acabo de ler uma frase em que se diz «talvez dois seguiram com os estudos». Não seria mais correto dizer «talvez dois tenham seguido com os estudos»? A pergunta, num sentido mais genérico, prende-se com a questão de saber qual a construção verbal que deve seguir uma hipótese desde género.

Obrigado.

Resposta:

A frase correta é como diz. Ou seja, «talvez os dois tenham seguido com os estudos», porque, depois do advérbio talvez, os verbos passam ao modo conjuntivo.

Celso Cunha e Lindley Cintra, na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, p. 465), observam que o conjuntivo se emprega em orações absolutas (ou seja, em frases simples) que exprimam «uma dúvida (geralmente precedido do advérbio talvez), ilustrando esta situação com os seguintes exemplos: «Paula talvez lhe telefonasse à noite.» (Maria Judite de Carvalho, Paisagem sem Barcos, Lisboa, Arcádia, s.d., 34); «Um cachorro talvez rosnasse ou mordesse» (Adonias Filho, Luanda, Beira, Bahia, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971, p. 101).

Quanto ...

Pergunta:

Na frase «ele disse que me ama», fico confusa sobre a harmonia dos tempos verbais usados. Acredito que o correto deveria ser usar os dois verbos no passado: «Ele disse que me amava.» Mas, neste caso, isso mudaria o sentido da frase. Gostaria de saber se há algum problema em frases como a do meu primeiro exemplo.

Obrigada.

Resposta:

 As duas frases são possíveis, dependendo do que se pretende dizer.

No primeiro caso: «Ele disse que me ama», a intenção do enunciador é que o sentimento que ele nutre permanece, apesar de ele ter proferido a frase no passado. Trata-se de um passado recente que tem ainda consequências no presente - daí a compatibilidade com o presente verbal: «ele disse...» = «está dito...».

No concernente à frase: «Ele disse que me amava», significa que, na altura em que ele expressou este sentimento,tal seria real, mas agora pode não sê-lo. Há a possibilidade que fosse só uma situação do passado. As ideias do passado devem ser expressas por tempos verbais passados. É um passado que já não se relaciona com uma situação presente: «ele disse que amava...».

Pergunta:

Tenho uma dúvida quanto às seguintes frases:

«"Pensei que estavas a falar sobre...»

«"Pensei que era o único...»

«Pensei que era mais simples.»

As frases estão gramaticalmente correctas? Sempre ouvi «pensei que estivesses/fosse», daí os exemplos acima soarem mal.

Que regras gramaticais se aplicam a estes exemplos?

Obrigado.

Resposta:

Depois do verbo pensar, podem registar-se formas quer do conjuntivo quer do indicativo.

É verdade que se recomenda o conjuntivo quando uma ação ou um facto apresentado como duvidoso, condicional, ou remetendo para um pedido ou ordem. Na Gramática da Língua Portuguesa de Vítor Fernando Barros, Âncora Editora/ Edições Colibri, 2011, p. 126, salienta-se que «o modo conjuntivo exprime um facto provável, desejável ou duvidoso». Estas são as condições gerais de uso do conjuntivo, mas acontece que o verbo pensar aceita quer o indicativo quer o conjuntivo. Por exemplo, encontra-se um comentário de Vasco Botelho de Amaral (Grande Dicionário das Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958), que atesta o uso deste verbo com uma subordinada finita de indicativo:

«Pensar. Geralmente, pensar, como transitivo, é sinónimo de imaginar, julgar, afora a acepção de tratar: "penso que deve ser assim". Com a regência em apresenta antes a significação de refletir, meditar: "pensei no que aconteceria".

O Dicionário Sintático de Verbos Portugueses de Winfried Busse, Liivraria Almedina, 1994, regista pensar como verbo que pode selecionar uma oração subordinada finita de indicativo ou conjuntivo, com as seguintes abonações: «Penso que ainda chegue hoje. Pensava qu...

Pergunta:

Na frase «não deixe nada passar para a frente» há um pleonasmo?

Resposta:

Não é um pleonasmo. Este, segundo o Itinerário Gramatical de Eunice Barbieri de Figueiredo e Olívia Maria Figueiredo, Porto, Porto Editora de 1988, p. 167, «consiste na manifestação da redundância. Esta existe quando as manifestações tomam a forma, a nível semântico, da repetição do mesmo significado por dois significantes diferentes na mesma expressão: descer para baixo, prever de antemão».

Se algo passa, pode passar à frente, ao lado, atrás. Não tem de ser obrigatoriamente à frente. Por este motivo, não há repetição de ideias.

Pergunta:

Gostaria de saber se a expressão «para que» corresponde a uma conjunção adverbial final na frase:

«E para que serve originalidade, se você não pode produzir em massa?»

Resposta:

Não é uma conjunção nem uma locução adverbiais.

No contexto em questão, a expressão «para que» é equivalente a «para que coisa», atendendo a que o verbo servir é seguido da preposição para seguida de oração, como em 1, ou de um sintagma nominal, como em 2:

1. «Isto serve para limpar o automóvel.»

2. «Isto serve para limpeza do automóvel.»

Em contexto interrogativo:

3. – Para que serve isto?
    – (Isto serve) para limpeza do automóvel.

Sendo assim, retomando o exemplo em questão, a expressão «para que» é um grupo prepsicional que inclui o pronome interrogativo que, tal como acontece em 3.