«Mas não: Balsemão (que antes preferia o Porto de Santa Maria nessa zona) jantou noutra mesa.»
semanário Sol, 20/08/2016
Interessante a análise de enunciados que, por vezes, podem levar a uma ambiguidade interpretativa. É o que acontece na frase acima ilustrada a amarelo, com a construção «antes preferia».
Por regra, trata-se de uma construção redundante e pleonástica* muito comum – e assim se poderia considerar, também, na frase em causa, uma vez que o verbo preferir pede a preposição a e o prefixo pre- já remete para a ideia de «antes»**. Logo, o que devia ter sido escrito era, por exemplo: «Balsemão (que preferia o Porto de Santa Maria ao Monte Mar, na zona do Guincho) jantou noutra mesa». Ou, noutra formulação: «Balsemão (que antes queria o Porto de Santa Maria do que o Monte Mar, na zona do Guincho) jantou noutra mesa».
A verdade é que antes é também um advérbio com o sentido de «em tempo anterior». Nesse caso, então, o enunciado deixaria de ser considerado um pleonasmo. Mas, para tal, teria mesmo de ficar entre vírgulas: «Balsemão (que, antes, preferia o Porto de Santa Maria ao Monte Mar, na zona do Guincho) jantou noutra mesa».
*«Figura de construção que consiste em empregar num enunciado termos do mesmo sentido (logo redundante) ou repetir uma mesma ideia», Prontuário Atual da Língua Portuguesa de Olívia Maria Figueiredo e Eunice Barbieri de Figueiredo, Edições ASA, 2005, 1ª edição, p. 171.
** Vasco Botelho de Amaral, no seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa (Editorial Domingos Barreira, Porto, 1947) fala sobre esta questão.