Filipe Carvalho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Filipe Carvalho
Filipe Carvalho
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Mestre em Teoria da Literatura (2003) e licenciado em Estudos Portugueses (1993). Professor de língua portuguesa, latina, francesa e inglesa em várias escolas oficiais, profissionais e particulares dos ensinos básico, secundário e universitário. Formador de Formadores (1994), organizou e ministrou vários cursos, tanto em regime presencial, como semipresencial (B-learning) e à distância (E-learning). Supervisor de formação e responsável por plataforma contendo 80 cursos profissionais.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Poderiam explicar a diferença entre oferta e promoção?

Muito obrigada.

Resposta:

De uma maneira muito genérica, oferta denomina aquilo que se oferece, uma dádiva (cf. dicionário da Porto Editora, na Infopédia), enquanto promoção se aplica quer, profissionalmente, ao acesso a um cargo ou categoria superior, quer a uma redução de preços (idem); ver também dicionário Priberam: «ato ou efeito de promover; acesso ou elevação a cargo ou categoria superior; conjunto de pessoas promovidas; nomeação para um cargo de importância superior [...].»

Em termos comerciais, a oferta é ainda a «quantidade de um bem ou de um serviço à disposição do mercado ou um conjunto de consumidores e a determinado preço, por oposição à procura» (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa); a promoção são as condições de venda que permitem o aumento das vendas de um dado artigo. Não obstante, tanto oferta como promoção têm outros sentidos, mediante o contexto. Assim, oferta também significa: «doação em ato litúrgico; preço ou valor prometido por um possível comprador; estrofe que encerra um poema e contém o nome a quem o autor o dedica» (idem). Promoção significa igualmente: «[...] ato de promotor; requerimento de proposta, principalmente do Ministério Público» (idem).

N. E. (15/06/2016) – Tendo em conta a comparação do português com o espanhol, convém também assinalar que, em Portugal,

Pergunta:

Nos versos «Eu com um sopro enorme, um sopro imenso/ Apagaria o lume das estrelas», para além de estar presente uma hipérbole, também é possível dizer que há uma metáfora? Pessoalmente, considero apenas existir uma hipérbole. No entanto, o segmento «lume das estrelas» parece uma metáfora.

Muito obrigada pela atenção.

Resposta:

Se se considerar que as estrelas têm lume, então, a expressão «apagaria o lume das estrelas» não contém uma metáfora. A questão prende-se com a química, dizendo os entendidos que as estrelas contêm hélio, sendo este um elemento gasoso que ilumina as estrelas. Se este elemento for considerado “lume”, então não existe metáfora. Caso contrário, estará presente este recurso estilístico, pois considerar-se-ia que haveria uma comparação implícita entre a luz emitida pelas estrelas e o lume.

Pergunta:

O seguinte poema de Camões pode ser considerado como sendo um soneto perfeito?

Como quando do mar tempestuoso
o marinheiro, lasso e trabalhado,
de um naufrágio cruel já salvo a nado,
só o ouvir falar nele o faz medroso,

e jura que, em que veja bonançoso
o violento mar e sossegado,
não entra nele mais, mas vai, forçado
pelo muito interesse cobiçoso;

assi, Senhora, eu, que da tormenta
de vossa vista fujo, por salvar-me,
jurando de não mais em outra ver-me:

minh'alma, que de vós nunca se ausenta,
dá-me por preço ver-vos, faz tornar-me
donde fugi tão perto de perder-me.

Obrigado pela atenção

Resposta:

Trata-se de um soneto perfeito, uma vez que o número de sílabas métricas é o mesmo em todo o poema (decassílabo) e porque há uma sonoridade uniforme, com a acentuação tónica nas mesmas sílabas de cada verso (6.ª e 10.ª sílabas).

O soneto é um subgénero literário constituído por duas quadras e dois tercetos. A variante inglesa é de três quadras e uma parelha. Ou seja, ao todo, o soneto tem 14 versos. Todos os versos devem possuir a mesma métrica. A mais convencional é aquela que tem 10 sílabas métricas (versos decassilábicos ou decassílabos). Os versos decassílabos mais usados são os heroicos (as sílabas tónicas são a 6.ª e a 10.ª), sáficos (as sílabas tónicas são a 4.ª, a 8.ª e a 10.ª) e imperfeitos (as sílabas tónicas são a 4.ª e a 10.ª).

Pergunta:

Acabei de ver numa tradução a palavra bifa, onde o original era "brit" (como na expressão popular inglesa para britânico). Confirma-se que a palavra existe e tem o significado de «[pessoa] britânica»?

Resposta:

Bifa existe na terminologia referente ao calão português, significando pessoa do sexo feminino de origem britânica. A palavra bife, em português, tem origem inglesa (beef, «carne de vaca»). Daí a associação que se fez com um indivíduo de nacionalidade britânica. Se se tratar de alguém do género feminino, o termo, da linguagem popular, utilizado é bifa (o a final é característico da identificação do género feminino em muitos vocábulos portugueses).

Pergunta:

Qual o significado de tragédia, farsa, auto, epopeia e comédia?

Obrigado.

Resposta:

Os géneros literários tradicionais que cita são caracterizados da seguinte forma:

1. A tragédia apresenta um conflito humano, onde a força das paixões se faz sentir, mas em que a intervenção do destino delimita a vontade dos homens. A tragédia clássica é composta por um prólogo e quatro ou cinco atos. Subordinava-se à lei das três unidades, sendo estas a ação, o lugar e o tempo.

2. A farsa é um género teatral com o fito de fazer uma caricatura e crítica à sociedade, geralmente num só ato.

3. O auto é um termo genérico aplicável ao teatro do século XVI; «envolve peças cujo assunto vai do religioso ao profano, do sério ao cómico» (Introdução ao Texto Literário, de Mário Carmo e M. Carlos Dias. Didática Editora. Lisboa, 1978 , p. 163).

4. Epopeia é uma narração em verso de um tema grandiloquente, a que estão ligados feitos heroicos realizados por elementos destacados de um povo, ou pelo próprio povo. A narração começa in media res (no meio da ação), as personagens são humanas, lendárias, deuses e divindades ou fantásticas. A estrutura externa é dividida em cantos, e a métrica pode variar de epopeia para epopeia; porém, na mesma epopeia mantém-se. O número de versos por estrofe varia consoante a epopeia. A estrutura interna apresenta uma proposição (síntese do que vai ser tratado na narração), invocação (apelo a deuses ou divindades para inspirar o poeta para elaborar o poema em estilo grandioso) e narração (relato pormenorizado do acontecimento). Nem todas apresentam a dedicatória (como acontece em Os Lusíadas).

5. A comédia é uma «representação satírica de aç...