Pergunta:
Antes de qualquer coisa, quero aqui expressar meus agradecimentos aos responsáveis pelo sítio, bem como aos seus colaboradores, pois muitas vezes foi somente aqui que consegui obter esclarecimentos para várias dúvidas acerca do nosso querido português.
A pergunta é em relação ao uso da conjunção pois em início de frase, que em minha vasta pesquisa, inclusive aqui neste sítio, trouxe-me respostas que afirmam não ser possível tal uso. Contudo, transcrevo aqui dois exemplos de Machado de Assis, dentre muitos que encontrei na obra deste autor, os quais atestam esse tipo de uso:
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, capítulo 15:
«Primeira comoção da minha juventude, que doce que me foste! Tal devia ser, na criação bíblica, o efeito do primeiro sol. Imagina tu esse efeito do primeiro sol, a bater de chapa na face de um mundo em flor. Pois foi a mesma coisa, leitor amigo, e se alguma vez contaste dezoito anos, deves lembrar te que foi assim mesmo.»
Quincas Borba, capítulo 6:
«– Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível, — ou, para usar a linguagem do grande Camões: Uma verdade que nas coisas anda, Que mora no visíbil e invisíbil. Pois essa substância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é Humanitas. Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo?»
[O Dicionário Houaiss regista o uso de pois com o valor adversati...
Resposta:
O vocábulo pois empregado após um ponto (final, interrogativo, exclamativo) pode ter diferentes valores semânticos. Seu uso, como já constatado pelo consulente, é encontrado em registro culto (e não só em linguagem literária): uma consulta ao Corpus do Português atestará milhares de exemplos em linguagem jornalística luso-brasileira. Logo, não se pode falar em incorreção gramatical no seu emprego.
No entanto, cabe uma importante ressalva (e este é o ponto!): tal redação não é usual/comum em textos sujeitos a avaliação ou com alto grau de formalidade – em certames ou em textos oficiais, por exemplo –, caso em que a linguagem é naturalmente mais limitada pelo que se espera da prática nesses gêneros textuais.
Cumpre dizer, claro, que as intenções estéticas de um redator rompem qualquer limite para atender à finalidade comunicativa pretendida, de modo que um segmento como «As pretensões do governo federal dificilmente encontrariam adesão entre os deputados, pois, como sabemos, a oposição iria frear os avanços na economia almejados pelo Executivo» pode ter, propositalmente, sua pontuação alterada para ressaltar o conteúdo introduzido pela conjunção causal pois, como se atesta em «As pretensões do governo federal dificilmente encontrariam adesão entre os deputados. Pois, como sabemos, a oposição iria frear os avanços na economia almejados pelo Executivo». O uso de ponto antes da conjunção causal é um recurso estilístico com fins de realce do conteúdo do segmento introduzido por ela.
Para além disso, quando o pois é empregado com valor adversativo, naturalmente é antecedido de ponto finalizando período. Eis um exemplo: «Eles disseram que a explicação não tinha sustentação. Pois estavam errados, desde o princípio!».
Há ainda outro caso apresentado pelo gramático