Pergunta:
Apesar de direta que é sua transitividade, ouvir ocorre amiúde em locuções como «ouvir a todos».
Gostava de saber se existe norma a legitimar tal uso.
Obrigado.
Resposta:
Existem mais de 10 casos de objeto direto preposicionado*, que é nada mais, nada menos do que um complemento de verbo transitivo direto introduzido por uma preposição não exigida pelo verbo – o emprego de preposição está relacionado à ênfase, à clareza ou à norma culta da língua.
Exemplos:
1. O dinheiro atrai a homens e a mulheres. (ênfase: a preposição é expletiva, pois realça o complemento verbal)
2. Ao homem venceu a mulher. (clareza: visa-se à identificação do sujeito, desfazendo-se a ambiguidade)
3. Não entendo nem a ele nem a ti. (norma culta: por via de regra, não se usa pronome reto na posição de objeto direto, pelo que se usa um pronome oblíquo tônico em substituição, o qual, por sua vezes, é obrigatoriamente preposicionado)
Há também outro caso bastante interessante: o objeto direto é constituído por expressões idiomáticas enfáticas (as preposições aqui são chamadas de posvérbios, termo cunhado por Antenor Nascentes para indicar que tais preposições não mudam a transitividade do verbo, mas atribuem um matiz de sentido ao contexto, tornando a frase mais expressiva): «fazer com que ele estude», «puxar da faca», «arrancar da espada», «sacar do revólver», «pedir por socorro», «pegar pelo braço», «cumprir com o dever»; «beber