Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber, se possível, qual a origem da palavra sirigaita.

Resposta:

A palavra sirigaita ou serigaita (que remonta em Portugal a 1813, segundo Morais1), usada para designar «rapariga espevitada, que tem resposta para tudo» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010), é «de origem obscura», segundo José Pedro Machado, que coloca a hipótese de «este vocábulo talvez [estar] relacionado com o castelhano zalagarda, que, conforme Corominas2, também é, por ora, de origem obscura» (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, V, Lisboa, Livros Horizonte, 1987).

Uma outra possibilidade apontada sob a forma de pergunta: «Terá alguma relação com o apelido italiano (antigo ) Sirigatti

1 Dicionário da Língua Portuguesa (1.ª, 2.ª, 8.ª e 10.ª edições), Lisboa, Ed. Confluência/Liv. Horizonte, 1980.

2 Diccionario Crítico Etimológico de la Lengua Castellana, Madrid, 1961.

Pergunta:

Relativamente à regência de resposta, foi dito, e bem, que a forma correta é «resposta a». Contudo, pode também dizer-se «resposta para» ou «responder para», pelo menos neste caso:

«Resposta/Responder para [segue-se endereço].» Ou não?

Resposta:

Embora nos possa parecer lógica a construção proposta pelo consulente, sobretudo porque nos dá ideia de que se refere a uma estrutura que poderá ter ocorrido em formulários para serem preenchidos (cujo objetivo é o de tornar bem explícita a indicação, e não o de obedecer à norma da língua), a realidade é que o emprego da preposição para como regência do nome/substantivo resposta ou do verbo responder não se encontra previsto na bibliografia específica.

Tal como foi dito na resposta anterior, «resposta a» e «responder a» são as estruturas corretas para as construções que designem «dar resposta; dizer ou escrever alguma coisa em resposta; reagir; corresponder». Por exemplo:

«Em resposta aos dois reparos que nela me faz.» 

«Responder a uma saudação/a uma pergunta.»

«Ainda não respondi à carta dele.»

«O ministro respondeu às acusações dos deputados.»

Quando usado com o sentido de «ser ou ficar responsável; responsabilizar-se», utiliza-se a estrutura «responder por»:

«Confio na minha amiga, posso responder por ela.»

«Cada qual que responda pelos seus atos.»

«A gerência não responde pelo desaparecimento de qualquer objeto!»

«Não respondo por mim!»

O Dicionário Sintático dos Verbos Portugueses (Coimbra, Almedina, 1994), de Winfried Busse (coord.), assinala ainda...

Pergunta:

Qual a origem etimológica do nome
Altamir?

Resposta:

O nome próprio Altamir é, segundo o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, uma variante do antropónimo (nome de pessoa) Altamiro, sobre o qual há várias opiniões relativamente à sua origem:

— do «germânico Altamir, de alt, "velho: esperto", e mir, "esplêndido; brilhante"»;

— do «português alta e mira»;

— do «topónimo espanhol Altamira (a serra de Altamira)».

Pergunta:

Na frase: «Dou a uns e a outros», a palavra uns é pronome? Determinante não é, mas não o consigo "encaixar" nas diferentes subclasses dos pronomes que conhecemos. Já pesquisei em várias gramáticas, mas nenhuma me conseguiu resolver esta dúvida.

Resposta:

Segundo a Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003, p. 356), de Mira Mateus et al., em casos semelhantes ao apresentado, um/uns é um quantificador existencial.

A classificação de uns como quantificador é analisada por Ana Maria Brito — na parte (da gramática supracitada) dedicada aos determinantes e aos quantificadores como núcleos funcionais —, razão pela qual nos esclarece que «a natureza de quantificador do indefinido um/uns torna-se evidente nas seguintes frases em que contrasta com o outro, (os) outros:

(i) Um aluno foi aprovado, o outro reprovado. 

(ii) Uns alunos foram aprovados, outros reprovados.

(ii) Uns alunos foram aprovados, os outros reprovados.» 

No entanto, apercebemo-nos de que o caso de «uns» apresentado pela consulente não é totalmente idêntico ao dos exemplos acima transcritos, pois nestes o quantificador um/uns precede um nome, ocorrendo de modo paralelo ao das expressões com determinantes. Ora, na frase «Dou a uns e a outros», uns é um pronome quantificador — pronome, porque substitui o nome a que se refere —, classificação que nos é prevista pela mesma linguista, quando nos diz que: «A quantificação pode também ser dada por pronomes, no sentido de que têm a mesma distribuição de SD [sintagmas determinantes] ("pronomes indefinidos" na terminologia tradicional), [...] podendo também surgir com elipse nominal, isolados ou combinados com outros elementos» (idem, p. 360), o que se verifica aqui com a presença do pronome indefinido os outros.

Nota: Embora esta classificação seja a indicada pela gramática citada, ela ...

Pergunta:

Qual a origem de Merufe, Merim e Merlim?

Resposta:

O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (vol. II, Lisboa, Livros Horizonte, 1987), de José Pedro Machado, dá-nos os seguintes esclarecimentos sobre a origem (e a evolução) dos nomes próprios apresentados pelo consulente:

Merufe (topónimo de Monsão) é uma variante «do topónimo Marufe (de Viana do Castelo) – cuja origem parece remeter para Marulfi (villa), genitivo do antropónimo Marulfo, de origem germânica, de Mahaswulfs», ou de um germânico Mer-ulfus, como propõe Piel.

Em 1258, tem a forma de Meruffi (Inquisitiones, in Portugaliae Monumenta Historica, pp. 372 e 375), mas em Scriptores (in P. M. H.) ocorre já com a forma atual – Merufe.

Merim (topónimo de Monsão, Ponte de Lima; com a forma Merín, na Galiza) deriva «de Merini (villa), genitivo do antropónimo Merinus (em 1028, em Diplomata et Chartae, p. 163)».

— O topónimo Merlim ou Merelim (de Braga; com a forma Merlin, na Galiza) é de origem obscura. Coloca-se a hipótese de derivar de Merlim ou estar mesmo relacionado com o nome Merellus, provavelmente de origem germânica.