Segundo a Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003, p. 356), de Mira Mateus et al., em casos semelhantes ao apresentado, um/uns é um quantificador existencial.
A classificação de uns como quantificador é analisada por Ana Maria Brito — na parte (da gramática supracitada) dedicada aos determinantes e aos quantificadores como núcleos funcionais —, razão pela qual nos esclarece que «a natureza de quantificador do indefinido um/uns torna-se evidente nas seguintes frases em que contrasta com o outro, (os) outros:
(i) Um aluno foi aprovado, o outro reprovado.
(ii) Uns alunos foram aprovados, outros reprovados.
(ii) Uns alunos foram aprovados, os outros reprovados.»
No entanto, apercebemo-nos de que o caso de «uns» apresentado pela consulente não é totalmente idêntico ao dos exemplos acima transcritos, pois nestes o quantificador um/uns precede um nome, ocorrendo de modo paralelo ao das expressões com determinantes. Ora, na frase «Dou a uns e a outros», uns é um pronome quantificador — pronome, porque substitui o nome a que se refere —, classificação que nos é prevista pela mesma linguista, quando nos diz que: «A quantificação pode também ser dada por pronomes, no sentido de que têm a mesma distribuição de SD [sintagmas determinantes] ("pronomes indefinidos" na terminologia tradicional), [...] podendo também surgir com elipse nominal, isolados ou combinados com outros elementos» (idem, p. 360), o que se verifica aqui com a presença do pronome indefinido os outros.
Nota: Embora esta classificação seja a indicada pela gramática citada, ela não se encontra no Dicionário Terminológico, que separa os quantificadores dos pronomes (nas classes de palavras). De qualquer modo, é interessante verificar-se a definição que aí dada para pronome indefinido: «Pronome que admite variação em género e número, correspondente ao uso pronominal de um quantificador ou de um determinante indefinido. Exemplos: