Pergunta:
Como classificar morfologicamente «mais que» na seguinte frase: «Mais que um simples participante, ele era um vencedor»?
Obrigado.
Resposta:
A frase em apreço, de grande beleza, não é de fácil análise, até pelo valor avaliativo que veicula e que pode, de algum modo, condicionar a classificação, já por si difícil...
Importa dizer, antes de mais, que as orações comparativas não reúnem consenso entre os investigadores, havendo quem as aproxime quer das estruturas subordinadas em que, tradicionalmente, estão incluídas, quer das estruturas coordenadas.
Para a sua aproximação à coordenação, concorre uma das características que são mais comuns às comparativas e que, se assumirmos que é, de alguma forma, comparativa, a estrutura em apreço não cumpre: a impossibilidade de vir em início absoluto o elemento introduzido pelo conetor…
Gabriela Matos ilustra a proximidade entre coordenadas e comparativas na Gramática da Língua Portuguesa de Mira Mateus e outras, p. 746 (aqui, numerada como 1):
1. «O Luís é mais inteligente do que o João é trabalhador.»
1.1. *«Do que o João é trabalhador o Luís é mais inteligente.»
Note-se que, em 1, a construção contém um elemento correlativo quantificador (advérbio de quantidade na gramática tradicional…), mais, presente no primeiro elemento relacionado (do ponto de vista tradicional, a subordinante).
Ora, o exemplo que estamos a analisar e que numeramos como 2 parece ser uma variante deste e caracteriza-se por ter o quantificador adjacente ao conetor (chamemos-lhe assim, pelo menos por enquanto). Menos relevante é a presença ou não da preposição:
2. «Mais (do) que um simples participante, ele era um vencedor.»
Esta situação parece ser condição necessári...