Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Aprendi, e tenho por norma fazer como aprendi, que as iniciais maiúsculas se reservam para os nomes próprios ou por deferência. Porém, no agrupamento onde lecciono costumam devolver actas para correcção quando referimos os encarregados de educação, em iniciais minúsculas, quer nos estejamos a referir ao grupo em geral, quer a um determinado em particular. Eu pergunto: como devemos escrever este nome? «... os encarregados de educação...» ou «... os Encarregados de Educação...»? «... o encarregado de educação do aluno...» ou «... o Encarregado de Educação do aluno...»? (neste caso não teria também de ser «Aluno»?)

Muito obrigada.

Resposta:

Tanto o Acordo Ortográfico de 1990 como o de 1945 prevêem, para o uso das maiúsculas, alguma flexibilidade que permita às instituições utilizarem-nas de forma individualizada.

Em Portugal, em muitas escolas e mesmo em documentos emanados do Ministério da Educação, encarregado de educação ou director de turma surgem com maiúscula, que deve ser entendida como realce ou, se preferir, deferência, no sentido em que se valoriza o papel dessas entidades no espaço escolar ou educativo.

Quanto à opção da escola, ela é possível, desde que divulgada e, eventualmente, fundamentada.

Por outro lado, não há, na tutela, uma indicação clara sobre o procedimento a adoptar, sendo possível encontrar, por exemplo, nas páginas da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC) e da Inspecção-Geral da Educação, quer o uso de maiúscula, quer o uso de minúscula. No caso de aluno, aparece, quase sempre, com minúscula. Já nos relatórios da Inspecção-Geral da Educação, que poderá consultar na página desta instituição, há uma clara opção pelo uso das minúsculas.

Em síntese, o uso de maiúscula nas situações que descreve é uma questão de opção da instituição que, a ser questionado, só o pode ser no seio da própria escola, com recurso aos órgãos competentes para o fazer (departamento, conselho pedagógico).

 

...

Pergunta:

[...] [F]iz [uma] pergunta [sobre o futuro do pretérito] a vocês, mas parece que não há resposta objetiva, convincente e verdadeira a ela. O fato é que há uma maior quantidade de registros nas gramáticas normativas do futuro do pretérito como indicando hipótese (vejam por si, contem); isso não seria um critério para encaixarmos entre os verbos do modo subjuntivo, ora? Os tempos do subjuntivo também podem indicar certezas, fatos, e, ainda assim, não são encaixados entre os indicativos, ora. E então, como fica? Vejo apenas arbitrariedade, e não uma lógica. Podem dar seu parecer sobre minhas considerações?

Resposta:

Se por resposta objectiva se entende uma resposta que rompa com toda a tradição e forma de analisar e descrever os tempos e os modos verbais, efectivamente o Ciberdúvidas não está em condições de dar esse tipo de resposta.

Sendo um espaço de análise da língua, não é um lugar para colocar hipóteses nem defender teorias novas que conduzam a reformulações, eventualmente necessárias. Como estudante interessado e atento, estará o consulente no espaço certo para, de forma adequada, formular as suas próprias teorias e de as defender, provando a sua validade perante um júri avalizado. É esse o repto que o Ciberdúvidas lhe lança. E quando chegar a uma conclusão avalizada, dado que as que existem o não satisfazem, o Ciberdúvidas terá muito prazer em a publicar.

Pergunta:

Gostaria de saber qual será a forma correcta:

«O número de operadoras passa de duas para três.»

ou

«O número de operadoras passa de dois para três.»

Muito obrigada.

Resposta:

A sua questão aborda um problema de concordância pouco habitual e face ao qual não encontrei registo explícito. Com efeito, habitualmente, sempre que se coloca o problema da concordância com expressões do tipo da que apresenta, a concordância foca-se no verbo e na sua relação directa quer com o núcleo do sujeito (singular), quer com o nome encaixado, ou seja, o que é introduzido pela preposição de.

Ora, esse aspecto não é problemático para si, optando sempre pelo singular. O problema coloca-se com a concordância dos numerais variáveis em género, mais concretamente no numeral dois, ou duas. Deve o numeral concordar em género com o núcleo, ou com o nome operadoras?

Pessoalmente, prefiro a hipótese «O número de operadoras passa de duas para três», em que o numeral concorda com operadoras, sem, contudo, poder garantir-lhe que a outra hipótese seja completamente errada. Na verdade, em situações semelhantes, quando o que está em causa é a concordância com o verbo, embora se prefira o singular, o plural é aceite como igualmente adequado, ainda que destacando o segundo nome e não o nuclear. Creio que é isso que acontece quando se opta pelo numeral duas, em detrimento de dois.

Pergunta:

Por que o futuro do pretérito, que indica hipótese, é colocado entre os verbos de modo indicativo? Não seria melhor colocá-lo entre os tempos do subjuntivo?

Obrigado, meus caros!

Resposta:

O futuro do pretérito é um caso específico no âmbito dos verbos portugueses, porque a mesma forma verbal (terminação -ia, etc. acrescentada ao infinitivo dos verbos regulares — andaria) pode veicular uma ideia de tempo com sentido futuro, mas com foco no passado, em exemplos como em «Ao observar o espaço não podia imaginar o que ali se passaria pouco depois», e pode, igualmente, veicular uma ideia de hipótese, em exemplos como «Não sei o que faria se não estivesses presente». Esta duplicidade de sentido faz com que a designação da própria forma verbal seja encarada de formas distintas. No Brasil, regista-se a predominância da ideia de futuro com foco no passado, pelo que se dá à forma verbal, prioritariamente, a designação de «futuro do pretérito». Por seu lado, em Portugal, há uma preferência pela ideia de hipótese, atribuindo-se à forma verbal uma designação que é, simultaneamente, um modo verbal: condicional. Alguns dicionários de verbos e algumas páginas em linha (como, por exemplo, esta) destacam ou registam as duas possibilidades, ainda que dando relevo a uma delas.

Importa referir ainda que o verbo, quando veicula uma ideia de futuro com foco no passado, se situa ou aproxima, efectivamente, do modo indicativo, ao mesmo tempo que, quando veicula uma ideia clara de hipótese, possibilidade, se aproxima do modo condicional.

Pergunta:

Posso ou não escrever, num título, todo em maíúsculas para realce, o h de horas em maiúscula?

Exemplo: «A PROVA TERMINA ÀS 11H» (início de exame, no quadro)? Disseram-me que, mesmo estando o aviso todo em maiúsculas, o h tem de ser minúsculo, por causa de uma norma conhecida em determinado sector da ciência.

Obrigado.

Resposta:

A unidade de grandeza tempo tem um conjunto de símbolos de representação normalizada, como acontece no caso de outras  grandezas e como pode verificar-se na página do Instituto Português da Qualidade.  Entre os símbolos da grandeza tempo, o h representa a hora, devendo registar-se sempre da mesma forma, ou seja, com minúscula, sem ponto e mantendo um espaço entre o número e o símbolo. Nos casos de uma frase toda ela escrita em maiúsculas, poderá optar por escrever 9:00, como se vê com alguma frequência.

 

N. E. (31/03/2023) – A consultora  refere-se à notação do momento em que alguma coisa se verifica. Sem prejuízo da informação dada nesta resposta, deve assinalar-se que, no registo do momento da ocorrência, se recomenda o formato hh:mm:ss, em que os valores da unidades de tempo (horas, minutos e segundos) são separados por dois pontos: «o avião aterrou às 23:30:30 (vinte três horas, trinta minutos e trinta segundos)». Neste tipo de notação, omitem-se frequentemente os segundos: 23:30 («vinte e três horas e trinta minutos»).Quando o valor das horas é inferior a 10, a casa das dezenas é preenchida por um zero: 03:00 («três horas»). Cf. Guilherme de Almeida, "Sobre a escrita dos números, das horas e de outras representações". Note-se, porém, que, no Ciberdúvidas, por convenção editorial se usa h entre o valor das horas e o dos minutos: 23h30, 03h00. Qu...