Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
63K

Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A palavra folhar é da família de folha?

Resposta:

Sim, é. Se consultarmos o dicionário da Porto Editora, poderemos ver que, além de ter um sentido associado a folha (cobrir de folha, ornar com folhagem…), a palavra tem como origem folha + ar.

Pergunta:

Qual seria o plural da palavra licença-prêmio?

Resposta:

Consultando o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, podemos verificar que a palavra admite dois plurais: licenças-prêmio e licenças-prêmios.

Pergunta:

Gostaria de saber qual das duas frases está correta e a justificativa:

«Cidadania não é apenas direitos e deveres.»

«Cidadania não são apenas direitos e deveres.»

Resposta:

Enquanto falante de língua portuguesa, aceito as duas frases como corretas.

No caso de «Cidadania não é apenas direitos e deveres», estamos perante a regra geral de concordância do verbo com o sujeito. No caso de «Cidadania não são apenas direitos e deveres», a concordância com o predicativo do sujeito pode ser explicada pelo facto de o verbo significar, na frase, «ser constituído por», situação em que, como refere Maria Helena de Moura Neves, na obra Guia de Uso do Português Confrontando Regras e Usos, p. 206, a concordância pode ocorrer com o predicativo do sujeito.

Pergunta:

Gostaria de saber qual das opções abaixo é a correcta e porquê.

a) «As ferramentas científicas que se sabe fornecidas pela informática.»

b) «As ferramentas científicas que sabem fornecidas pela informática.»

Resposta:

Abstraindo-nos da construção geral, pouco rigorosa e incompleta, das frases, se tivermos em conta que se trata de uma mensagem escrita, poderemos dizer que, relativamente à questão concreta que apresenta e que se prende, creio, com a forma verbal acompanhada da partícula se em a) «se sabe», ou da forma verbal plural sabem em b).

Analisemos, antes de mais, a estrutura global das frases em apreço, que estão, saliente-se, incompletas, ou seja, há parte da mensagem que não está explícita e que contribuiria para a plena compreensão do que se pretende dizer.

a) «As ferramentas científicas que se sabe fornecidas pela informática».

Como analisar esta expressão? Será que a relativa «que se sabe» é importante nesta estrutura?

Será que fornecidas é o verbo principal de uma oração completiva dependente de saber, ou será um adjetivo verbal associado a ferramentas?

a.1) «As ferramentas científicas fornecidas pela informática…»

a.2) «As ferramentas científicas que se sabe (serem) fornecidas pela informática…»

Em qualquer das expressões a) e b) sentimos necessidade de interpretar a expressão «fornecidas pela informática» como sequência e complemento do verbo saber, uma vez que este verbo, sendo transitivo direto, exige a presença do seu complemento direto, que não é expresso por um verbo no particípio, como fornecidas, podendo, todavia, sê-lo por um verbo no infinitivo (no caso em apreço estaríamos perante um infinitivo passivo, em que o auxiliar, não expresso, é o verbo ser…)

As frases...

Pergunta:

Fiz alguma pesquisa mas não encontrei nada que me ajudasse a perceber se a frase «releva o alegado supra para obstar à tomada de decisão final» está correcta e o que significa.

São os argumentos apresentados relevantes para alterar a decisão anterior, ou, pelo contrário, os argumentos não são relevantes e a decisão mantém-se?

Resposta:

O verbo relevar, tal como alguns outros da nossa língua, contém em si sentidos contraditórios. No dicionário em linha da Porto Editora, são-nos indicados como sentidos do verbo, entre outros: «v. tr.: 1 – fazer sobressair, pôr em relevo; 3 – perdoar, desculpar, absolver; 4 – consentir; v. int.: ser conveniente, ser preciso, importar, interessar.»

Além disso, a palavra – ou, melhor, o excerto – parece-me, pelo estilo, retirada de um documento jurídico, o que implica que as palavras possam estar utilizadas não com os sentidos gerais que lhes são atribuídos num contexto comunicacional genérico, mas com um significado específico da gíria profissional correspondente. Essa situação dificulta, para os falantes em geral, a interpretação específica que carece de descodificação, contextualizada, por um profissional, sob pena de se incorrer em leituras inadequadas.

Por esta razão, a interpretação do Ciberdúvidas não se afasta da da consulente, considerando que, à luz da interpretação geral ativada por qualquer falante, a frase é ambígua, podendo ter dois sentidos contraditórios.