D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Num livro que lia, encontrei o verbo "ociar". Fácil de compreender o seu respectivo significado, principalmente para quem conhece as palavras; ócio s.m., ocioso (ô) ociosa (ó) ociosos (ó) ociosas (ó), ociosidade s.f., ociosamente . (Do verbo lat. , otiāri) = Repousar Além de eu ter uma pequeníssima memória da sua existência nos meus tempos idos, a dúvida foi mais forte e pensei que fosse um neologismo.

 Pesquisando na net, encontrei-a no espanhol (ociar) e no italiano (oziare), nada no português ou galego. Pesquisando em dicionários do século XIX, encontrei o verbo ociar. Como já tivemos este verbo, não é um neologismo, mas um arcaísmo, mas, como parece que o verbo está a ser reintegrado no nosso dia a dia, poder-se-á dizer que é um paleologismo? Neologismo = é o emprego de uma nova unidade lexical. Arcaísmo = emprega de modo passivo uma palavra que já não pertence ao âmbito lexicográfico. Paleologismo = é o reemprego de uma palavra que já existiu na língua, entrou em desuso e foi reincorporada.

O sentido mais antigo da palavra ócio (com origem, na língua portuguesa, do latim otiu-, repouso) vem desde a Antiguidade Clássica (Epicuro, Séneca), podendo definir-se nos nossos tempos como: ausência de trabalho necessário, para, assim, se poder apreciar os prazeres da vida, uma atividade lúdica; ou para se meditar; ou, ainda, ter afazeres que deem satisfação, como: o ócio criativo na música, na literatura, no desporto, etc. Claro que para quem considera o trabalho útil como o valor fundamental na sociedade, o ócio só pode ser um desfrute de privilegiados e um escândalo para quem passa necessidades. Mas então caímos na ideologia.

    A palavra ociar não está mal formada: antepositivo oci-, tempo de repouso mais terminação ar dos verbos da primeira conjugação. No entanto, não está registada nem em Rebelo Gonçalves (R.G.), nem na Academia Brasileira de Letras. Talvez porque ocioso e ociosidade adquiriram um sentido pejorativo, relacionado com preguiça, falta de empenho, moleza. Assim, ociar pode presentemente deixar esse sentimento, o que contrasta com o sentido elevado de ócio, como valor de vivência, acima indicado.

Pergunta:

Qual o termo correcto a empregar: tsunami ou maremoto?

   Partindo do princípio de que as duas palavras têm o mesmo significado, presumo que o correcto será maremoto, mas surgiram-me dúvidas em relação aos significados das mesmas (maremoto = tremor de terra no mar, e tsunami = onda de água consequência do maremoto?).

   No entanto, creio que o efeito (onda) será sempre o maremoto, apesar de se utilizar frequentemente o "tsunami", dependendo das zonas geográficas do globo onde os mesmos acontecem (p.ex. Japão)...

   Ciberdúvidas, quem as não tem?...  

Resposta:

Definições:

Tsunami: Vaga marinha volumosa provocada por movimento de terra submarino ou erupção vulcânica. Do jap. tsunami: tsu → porto; nami → onda.

Maremoto: Tinha a mesma definição de tsunâmi. De facto, etimologicamente é: mare → mar; motu- → movimento. Mas motu- também significava abalo e, modernamente, prefere-se distinguir maremoto como um sismo no mar, em similitude com terramoto, um sismo na terra firme.

Questões técnicas:

  Tsunâmi:

1. Repare-se que se usou o acento circunflexo diferentemente da forma registada no Houaiss. Considerou-se que o vocábulo na sua estrutura obedece à índole da língua e que, assim, pode entrar no léxico. Só que, nas regras ortográficas em vigor, como as palavras terminadas em i são agudas quando precedidas de consoante (ex.: aqui), o acento gráfico é indispensável para que a pronúncia seja de paroxítona.

       2. A definição do dicionário Houaiss não tem precisão: 

•  Várias causas podem dar origem a um tsunâmi, como uma explosão atómica submarina, um ciclone, movimentos das placas tectónicas (o mais frequente). 

Coabitar (ainda) a norma de 1945 e do AO90
Diferenças do vocabulário proposto pelo autor com os critérios de antes e de depois do Acordo Ortográfico

Mais um contributo de D'Silvas Filho sobre  as alterações ao Acordo Ortográfico de 1990, na esteira da proposta da atual direção da Academia das Ciências Lisboa, comparando, neste texto, o que ele próprio propõe no vocabulário que elaborou e se encontra acessível na sua página pessoal. Propósito explícito: uma «moratória da fase de coabitação entre o critério da ortografia da norma de 1945 e o do AO90», no pressuposto de  uma «nova fase mais prolongada de tolerância» na aplicação da atual reforma, «que permitam aos dois critérios se irem adaptando na escrita, até que os falantes façam a sua escolha definitiva.»

Norma e tolerância
Sobre o papel histórico da Academia das Ciências de Lisboa em matéria linguística

Apelando à tradição normativa e à tolerância que deve observar-se num processo de mudança ortográfica, D'Silvas Filho avalia o papel que a Academia das Ciências de Lisboa tem tido na história da ortografia do português e, em especial, na aplicação do Acordo Ortográfico de 1990.

O Acordo Ortográfico de 1990<br> e as sugestões da Academia das Ciências de Lisboa

Texto em que D´Silvas Filho resume e comenta dois documentos – Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, publicação da Academia, e a "Base IV do AO 90", artigo de Ana Salgado, publicado no Pórtico da Língua – que sistematizam as propostas da Academia das Ciências de Lisboa para a aplicação, em Portugal, do Acordo Ortográfico de 1990.