Pergunta:
Num livro que lia, encontrei o verbo "ociar". Fácil de compreender o seu respectivo significado, principalmente para quem conhece as palavras; ócio s.m., ocioso (ô) ociosa (ó) ociosos (ó) ociosas (ó), ociosidade s.f., ociosamente . (Do verbo lat. , otiāri) = Repousar Além de eu ter uma pequeníssima memória da sua existência nos meus tempos idos, a dúvida foi mais forte e pensei que fosse um neologismo.
Pesquisando na net, encontrei-a no espanhol (ociar) e no italiano (oziare), nada no português ou galego. Pesquisando em dicionários do século XIX, encontrei o verbo ociar. Como já tivemos este verbo, não é um neologismo, mas um arcaísmo, mas, como parece que o verbo está a ser reintegrado no nosso dia a dia, poder-se-á dizer que é um paleologismo? Neologismo = é o emprego de uma nova unidade lexical. Arcaísmo = emprega de modo passivo uma palavra que já não pertence ao âmbito lexicográfico. Paleologismo = é o reemprego de uma palavra que já existiu na língua, entrou em desuso e foi reincorporada.
O sentido mais antigo da palavra ócio (com origem, na língua portuguesa, do latim otiu-, repouso) vem desde a Antiguidade Clássica (Epicuro, Séneca), podendo definir-se nos nossos tempos como: ausência de trabalho necessário, para, assim, se poder apreciar os prazeres da vida, uma atividade lúdica; ou para se meditar; ou, ainda, ter afazeres que deem satisfação, como: o ócio criativo na música, na literatura, no desporto, etc. Claro que para quem considera o trabalho útil como o valor fundamental na sociedade, o ócio só pode ser um desfrute de privilegiados e um escândalo para quem passa necessidades. Mas então caímos na ideologia.
A palavra ociar não está mal formada: antepositivo oci-, tempo de repouso mais terminação –ar dos verbos da primeira conjugação. No entanto, não está registada nem em Rebelo Gonçalves (R.G.), nem na Academia Brasileira de Letras. Talvez porque ocioso e ociosidade adquiriram um sentido pejorativo, relacionado com preguiça, falta de empenho, moleza. Assim, ociar pode presentemente deixar esse sentimento, o que contrasta com o sentido elevado de ócio, como valor de vivência, acima indicado.