D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Minha profesora de português esta semana disse me que a palavra cópia não teria acento.Houve alguma mudança nas regras de acentuação gráfica ou estaria ela equivocada? Tenho procurado em todas as gramáticas mais recentes e nada encontrei, nem mesmo sobre o trema que também disse ter sido abolido e o acento agudo dos ditongos abertos.

Resposta:

Cópia, substantivo (`a cópia´, porque se escreve também:`ele copia´), tem acento, segundo as normas ortográficas actualmente em vigor no Brasil (e também de acordo com as normas portuguesas). Os ditongos abertos éi, éu, ói (ex.: papéis, chapéu, herói, jibóia, assembléia [a terminação eia não é acentuada em Portugal]), continuam a ser acentuados. O trema não foi ainda completamente abolido no Brasil (ex.: freqüente), mas já foi em Portugal (ex.: frequente; excluindo-se as palavras derivadas de nomes estrangeiros, como mülleriano).

Peço-lhe que converse novamente com a senhora sua professora, pois pode ter-se enganado naquilo que ouviu.

As alterações a que faz referência faziam parte do projecto de acordo ortográfico de 1986, mas este foi abandonado.

Em 1990 foi assinado um novo acordo ortográfico (e já aprovado por Portugal e pelo Brasil), que mantém os acentos nas proparoxítonas (esdrúxulas) e falsas proparoxítonas, logo em cópia (substantivo); que mantém os acentos nos ditongos abertos acima indicados nas palavras oxítonas (agudas); e que, isto sim, estabelece a abolição completa do trema também para o Brasil (nas mesmas condições que já vigora em Portugal). Esclareço, porém, que não se sabe quando este novo acordo poderá entrar em vigor.

Verifique se a forma como escreveu professora e disse-me serão erros de dactilografia.

Pergunta:

Na palavra Baronia (Vila Nova da), onde deve ser feita a acentuação? Porquê?
Obrigado.

Resposta:

Na forma como o consulente escreveu Baronia (sem acento) e que está correcta, a pronúncia só pode ser ¦ía¦. Para ser ¦ó¦, a palavra teria de ser acentuada, segundo as regras ortográficas em vigor (palavras com encontros vocálicos postónicos que são ditongos crescentes, Base XIII da Norma portuguesa e XII da brasileira). Ou seja, teria que escrever «Barónia», grafia que é considerada inexacta por Rebelo Gonçalves.

Não conheço a história da vila, mas presumo que Baronia, neste topónimo, é o vocábulo baronia (do francês «baronnie»), equivalente a baronato, que significa dignidade de barão.

Pergunta:

O termo canópia tem vindo a generalizar-se mas não consta dos dicionários de Língua Portuguesa a que temos tipo acesso. Surge nomeadamente em engenharia (canópia do motor), em arquitectura (a canópia invertida da Praça do Pavilhão de Portugal na Expo'98), em parapente (as asas têm forma de canópia).
Aparece no Dic. de Inglês como "canopy" e é traduzido por baldaquino, pália, cobertura, abóbada, etc. Pretende-se saber:
- pode aplicar-se o termo em português?
- qual é a origem de tal palavra?
Já agora coloco a mesma questão para parapente (como se diz em Portugal) ou paraglider (como se diz no Brasil).

Resposta:

«Canopy» está registada no "Dicionário Inglês-Português Michaelis" com os significados, além dos indicados pelo consulente, também: capota, zimbório, velame de pára-quedas, etc. O "Dicionário Verbo Técnico e Científico de Inglês" indica `canópia´ para «canopy».

«Paraglider ¦glái¦» («glider» = planador) está registada no mesmo dicionário "Verbo", como um planador de pára-quedas.

Não encontrei `parapente´ na bibliografia que possuo. O "Grande Dicionário Francês-Português, de Domingos de Azevedo", regista «parachute» como pára-quedas e «pente ¦pân¦» como declive, encosta, pendor.

`Canópia´, «paraglider» e `parapente´ não foram encontradas nos vocabulário e dicionários da língua portuguesa, que considero de base (incluindo o brasileiro Aurélio). São, portanto, neologismos. `Canópia´ está bem formada. Quanto a `parapente´, foram encontradas várias palavras terminadas com a grafia pente ¦pen¦ no "Dicionário Universal", para utilização informática, da Texto Editora; e, assim, pode considerar-se que também obedece à índole da língua. Já no que se refere a «paraglider», não encontrei nenhuma palavra terminada com a grafia «glider», no mesmo dicionário.

Não me considero uma autoridade para decidir sobre a legitimidade de neologismos; mas, na minha opinião, quando a palavra está `bem formada´ e é de utilização corrente pela comunidade culta especializada (de língua oficial portuguesa), deve considerar-se que o termo enriquece o léxico comum, desde que não exista palavra vernácula com um valor semântico `perfeitamente´ adequado ao conceito pretendido. Ou no caso de não ter sido sugerido um neologismo mais adequado, a tempo de evitar que a nova palavra entrasse definitivamente nos hábitos linguístico...

Complemento da resposta à pergunta do Snr. Francisco Aragão, tema Acordo Ortográfico.

Segundo o artigo 3.º do texto assinado, o último acordo ortográfico deveria, efectivamente/efetivamente, ter entrado em vigor em Janeiro de 1994...

Quando os assuntos ficam bloqueados, é costume dizer-se que não há `vontade política´. Ora talvez a causa do atraso não seja só esta.

a) Vontade política

Pergunta:

Será Urano ou Úrano?

No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, 7ª Edição, chama-se ao 7º planeta do nosso sistema solar Úrano (com acento). Está correcto? Ou é uma gralha?

Resposta:

A grafia Úrano (com acento), planeta, é a correcta/correta para Portugal, segundo Rebelo Gonçalves.

O dicionário Aurélio, contudo, regista Urano (sem acento), planeta, devendo ser esta a grafia oficial no Brasil.

Não confundir com urânio (minúscula), elemento 92 da classificação periódica, grafia válida em Portugal e no Brasil.

N.E. – O nosso consultor D' Silvas Filho defendeu, posteriormente, «a grafia Urano ¦â¦ para o planeta e Úrano para a divindade». Ver a resposta Afinal é Úrano ou Urano?