A afirmação da senhora professora não está errada: está incompleta. Quanto à palavra bênção, alguns gramáticos completam a regra dizendo que o til não é um acento gráfico, mas um sinal gráfico de nasalação.
A verdade, porém, é que a afirmação de que o til não é um acento gráfico está também incompleta. Segundo a «Nova Gramática do Português Contemporâneo», o til «vale como acento tónico, se outro acento não figurar no vocábulo» (texto da Reforma Ortográfica de 1911). Indico o seguinte exemplo: na palavra manhã, o til não dá só a nasalação, dá também o acento tónico, pois sem ele a palavra fica paroxítona (grave): manha. As palavras bênção ou órfã são acentuadas com base no preceito, da citada Reforma, que recomendava o acento nos vocábulos em que a `sílaba predominante´ fosse a penúltima, se terminados em ditongo ou vogal nasal. Assim, as palavras acima são acentuadas, não obstante a tendência para a paroxitonia no português e os significantes ¦benção¦ ou ¦orf㦠não existirem na Língua.
Ora a verdade (outra vez…), é que a afirmação citada na «Nova Gramática do Português Contemporâneo» está também já incompleta. Por exemplo, na palavra irmãmente não há mais nenhum sinal gráfico; e o til pode dizer-se, presentemente, que se destina só a manter a nasalação (já não se põem acentos nas sílabas subtónicas das palavras derivadas, mas o til continua obrigatório nestes casos). A palavra acento não pode, na expressão registada nesta gramática, ser interpretada hoje como acento gráfico, e isso não está explícito.
Quem assume a responsabilidade de estabelecer regras na Língua, deveria preocupar-se em descer ao utente, evitando, sobretudo, de fazer confusões.
Mudando de assunto, verifique se terá havido um erro de dactilografia na palavra «dúpla», que escreveu. Dupla não tem acento. E continuo a lembrar que um corrector/corretor ortográfico é muito útil para este tipo de distracções (o meu mostra que ignora essa palavra com o acento e sugere dupla). Não se dispondo de corrector/corretor na máquina, é um erro mais grosseiro grafar com um acento indevido, do que `esquecer´ um acento cuja falta seja irrelevante no sentido pretendido (ex.: na frase «O padre deu a benção», a falta do acento circunflexo não impede que a mensagem seja recebida com exactidão, sem ambiguidades).
Claro que recomendo que se respeitem as regras em vigor, mas não consigo esquecer-me de que, se o projecto/projeto de acordo de 1986 (que foi depois substituído pelo Acordo de 1990, conservador nos acentos) tivesse entrado em vigor, estaríamos hoje livres da obrigatoriedade de muitos dos actuais/atuais acentos. Nomeadamente do acento circunflexo em bênção, vindo sem alterações da Reforma de 1911, que, aliás, aceitava: «Na escrita comum, parte desta acentuação rigorosa e sistemática poderá, em algumas das suas minúcias, ser dispensada; não em livros didácticos, …..». A norma ortográfica é uma convenção, e a nossa tem mais de meio século (com os conhecimentos da humanidade entretanto a crescerem em exponencial…). Citando Fernando Pessoa, «A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela».