Pergunta:
Uma professora primária afirma que não existem palavras em português com dois acentos.
Na consulta ao Glossário, encontrei "bênção" com dúpla acentuação.
Algum deles não é acento?
A regra não será verdadeira?
Resposta:
A afirmação da senhora professora não está errada: está incompleta. Quanto à palavra bênção, alguns gramáticos completam a regra dizendo que o til não é um acento gráfico, mas um sinal gráfico de nasalação.
A verdade, porém, é que a afirmação de que o til não é um acento gráfico está também incompleta. Segundo a «Nova Gramática do Português Contemporâneo», o til «vale como acento tónico, se outro acento não figurar no vocábulo» (texto da Reforma Ortográfica de 1911). Indico o seguinte exemplo: na palavra manhã, o til não dá só a nasalação, dá também o acento tónico, pois sem ele a palavra fica paroxítona (grave): manha. As palavras bênção ou órfã são acentuadas com base no preceito, da citada Reforma, que recomendava o acento nos vocábulos em que a `sílaba predominante´ fosse a penúltima, se terminados em ditongo ou vogal nasal. Assim, as palavras acima são acentuadas, não obstante a tendência para a paroxitonia no português e os significantes ¦benção¦ ou ¦orf㦠não existirem na Língua.
Ora a verdade (outra vez…), é que a afirmação citada na «Nova Gramática do Português Contemporâneo» está também já incompleta. Por exemplo, na palavra irmãmente não há mais nenhum sinal gráfico; e o til pode dizer-se, presentemente, que se destina só a manter a nasalação (já não se põem acentos nas sílabas subtónicas das palavras derivadas, mas o til continua obrigatório nestes casos). A palavra acento não pode, na expressão registada nesta gramática, ser interpretada hoje como acento gráfico, e isso não está explícito.
Quem assume a responsabilidade de estabelecer regras na Língua, deveria preocupar-se em descer ao utente, evitando, sobretudo, de fazer confusões.
Mudando ...