D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Ao redigir um Contrato, assim como não se usa o ordinal para "Artigo", após o 9.º, (Artigo 9.º, Artigo 10, etc.) quero saber se a regra vale igualmente para "Cláusula". Posso usar "Cláusula 9.º, Cláusula 10.º, Cláusula 11.º" ou não se usa o ordinal após o 9, como em "Artigo"??

Obrigado pela resposta.

Resposta:

Desconheço qual a prática jurídica. Posso unicamente afirmar que a Nova Gramática do Português Contemporâneo, obra muito respeitada, indica que se deve aplicar a regra a todas as partes em que se divide uma obra.

Ora a regra, aplicada normalmente para papas, soberanos e séculos, é: usar ordinais até dez inclusive (e não até nove, como escreveu), cardinais depois (ex.: artigo terceiro, cláusula vinte e três).

Sublinho, porém:

1. Se eu digo «décimo artigo do código», digo «capítulo cinco do livro».

2. Se o numeral antecede o substantivo, é usual continuar a usar-se o ordinal, mesmo depois de dez (ex.: «concorrente quinze», «décimo quinto concorrente»).

3. Os ordinais devem-se escrever 9.º (com ponto) e não “9º” ou “9º.”; mas, por outro lado, nos ângulos grafa-se e nas temperaturas 9 ºC (sem ponto).

N.E. – A regra vale igualmente na prática jurídica, segundo o advogado Miguel Faria de Bastos.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Existe a palavra logo-símbolo ou logossímbolo?

Sou director executivo da “INWORDS”, uma empresa de conteúdos para comunicação empresarial com sede no Porto. A empresa possui muitos quadros com formação em publicidade que insistem em usar o vocábulo logo-símbolo ou logossímbolo ou ainda logó-símbolo em detrimento do termo, existente no dicionário, logótipo.

Gostaria de saber a vossa opinião sobre a correcção do uso daquele primeiro termo, cuja grafia varia de acordo com o redactor!!!

Obrigado.

Resposta:

No meu ponto de vista, a grafia correcta do neologismo em causa é: logossímbolo. Os elementos devem aglutinar, duplicando o s, como em termossifão, palavra já há muito no léxico. No completo «Vocabulário» da Academia de Letras do Brasil, estão também registados: logossilabário, logossilábico, logossílabo, o que confirma a afirmação que fiz.

Quanto a logótipo – ou logotipo, mais usual e considerado incorrecto –, este termo na língua portuguesa tem duas acepções principais (DA e Houaiss):

1. Termo de tipografia, representando um grupo de letras reunidas numa só peça.
2. Símbolo que serve à identificação duma empresa, marca, etc.

Ora o elemento de formação `logo-´, do grego `lógos´, exprime a ideia de linguagem, palavra, proposição, razão, estudo, etc. Assim, presumo que logossímbolo será aplicado com o sentido expresso em 2., para logótipo. Terá vindo do inglês, “logosymbol”, para o distinguir de “logotype” (este só com letras).

É preciso, no entanto, cuidado com o facto de que o termo logótipo na língua portuguesa já está consagrado também com a referência a símbolo. As novas palavras podem ter inconvenientes: primeiro, dificultarem a mensagem aos não iniciados (serem esotéricas); depois, não passarem de meras duplicações no léxico, nem sempre com vantagem.

Para completo esclarecimento deste assunto e atendendo às minhas dúvidas sobre a necessidade imperiosa de logossímbolo, agradeço que o companheiro Nelson Soares nos esclareça melhor sobre a utilização que está a ser dada ao termo.

Ao seu dispor, 

Pergunta:

Consulto o Ciberdúvidas de vez em quando e, a propósito de outra coisa, encontrei o seguinte nas respostas anteriores "Expressões latinas e diversos" e "Símbolos, mais uma vez": «... os símbolos das unidades devem ser separados dos algarismos por um espaço (ex.: 68 ºC, 10 s, etc.).»

Num curso de revisão, foi-me ensinado que os símbolos de temperatura não devem ser separados por espaço, como consta também no Código de Redacção Interinstitucional, entre outras referências.

Gostaria de saber qual é, afinal, a maneira correcta de indicar estes símbolos.

Obrigada.

Resposta:

1. O Sistema Internacional de Unidades (SI) recomenda, na sua b), de 2.2:

«Os símbolos das unidades devem ser colocados após o valor numérico completo das grandezas correspondentes, deixando espaço entre o valor numérico e o símbolo da unidade». Logo, deve-se grafar: 10 s (dez segundos), como escreveu.

2. Em nota de rodapé, na obra de Guilherme de Almeida: Sistema Internacional de Unidades, da Plátano, lê-se: «Exceptuam-se os casos do grau ( º ); e de minuto ( ´ ) e segundo ( “ ) unidades de ângulo plano, fora do SI.» Assim, deve-se escrever 68º, 68”.

3. Quanto aos valores de temperatura, eu escrevo 68 ºC, pois considero ºC (sem espaço entre º e C) o símbolo do grau `Celsius´ e, portanto, na regra geral indicada em 1. Nota: o símbolo de temperatura `kelvin´ é simplesmente K (maiúscula).

E atenção, que os símbolos das unidades não levam ponto, ao contrário das abreviaturas.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Apesar de ter encontrado o Ciberdúvidas há uns dias apenas, já me possibilitaram resolver alguns problemas. Em seguida descrevo algumas dúvidas que entretanto não esclareci com a pesquisa.

No dicionário ‘on-line’ da Porto Editora encontro que "estrito" deriva de "strictu". No entanto encontrei nalguns trabalhos "sensu stricto". Não deveríamos usar "sensu strictu"? Na pesquisa à vossa página encontrei "stricto sensu". Não seria também "in vitru" em vez de "in vitro", já que "vidro" deriva de "vitru".

Na frase abaixo apresentada o hífen será necessário? O termo "subóptimo" estará correcto? Deveríamos usar a expressão "entre os 37 ºC e os 55 ºC" (segundo o que parecem ser as indicações do Sistema Internacional: http://physics.nist.gov/Pubs/SP811/sec07.html#7.7) ou está bem a forma simplificada (visto não haver dificuldades em compreender que o primeiro valor é também uma temperatura)?

"A Taq ADN-polimerase inicia a extensão, embora com rendimento subóptimo, a partir do momento em que os "primers" se ligam ao ADN "template", a temperaturas entre os 37 e 55 ºC."

A enzima neste caso diz-se polimerizadora ou polimerizante (ou qualquer uma)?

Se, por exemplo, iguanídeo diz respeito à família Iguanidae, poderemos falar de "gekkonídeos" e escincídeos" quando nos referimos aos elementos das famílias Gekkonidae e Scincidae, respectivamente?

Quando nos referimos à década de 70, por exemplo, agora que estamos num novo século, parece surgir a necessidade de assinalar que aqueles anos faziam parte de 1900. Ficaria então "os anos 1970", "a década de (19)70" ou "a década de 70" simplesmente será por enquanto suficiente?

Quando num parágrafo, com várias frases, juntamos ideias dos mesmos autores, devemos introduzir a referência bibliográfica no final de cada frase ("sobrecarregando" talvez o texto, especialmente se forem muitos autores) ou estará bem...

Resposta:

Agrada-me saber que Ciberdúvidas já lhe resolveu alguns problemas.

Respondo ponto por ponto à sua pergunta:

`Sticto sensu´: É esta a expressão latina consagrada, com o significado de `em sentido estrito´, que aparece em vários dicionários.

`In vitro´: É esta a expressão latina consagrada, com o significado de `na proveta, fora do organismo, etc.´, que aparece em vários dicionários.

Subótimo. Neologismo. Deve ser aglutinado (como subocular).

Entre 37 ºC e 55 ºC: Eu escreveria sem o artigo. Seria até dispensável indicar que se trata de temperatura, porque o símbolo da unidade é elucidativo.

Polimerizadora: Prefiro este termo porque já existe polimerizador.

ADN polimerase: Não tenho conhecimentos para emitir opinião que me satisfaça, mas repugna-me o hífen a ligar uma sigla com uma palavra.

Geconídeos e escincídeos: Na minha opinião, é assim que devem ser escritos (sem o capa e sem palavra a iniciar por sc).

Década de setenta: Eu diria: «década de setenta do século vinte», ou «anos setenta do século vinte».

Frases de autores: Eu agruparia as frases de cada autor num mesmo período (ou parágrafo se forem muitas ou extensas). Exemplo: Fulano disse: «... »; «... ». Sicrano disse: «... »; «... ». Etc. Começaria cada frase com letra maiúscula.

Símbolo de percentagem: Efectivamente, os símbolos das unidades devem ser separados dos algarismos por um espaço (ex.: 68 ºC, 10 s, ...

Pergunta:

Tenho uma dúvida sobre a língua portuguesa. 

No caso de criação de um nome próprio as regras de acentuação estariam incluídas? E no caso de criar um nome unindo várias palavras? Existe uma regra para tal fato de criação? Venho percebendo como fato de nome de várias empresas. 

Suponha: 

carro + arte = "cararte" 

Como seria tratada esta palavra que supondo se tornou um nome? Devem ser aplicadas as regras ortográficas? 

Outra mais duvidosa para mim: 

ilha + coqueiro + serpente = "icoqueser" 

Como seria tratada esta palavra supondo que se tornou um nome? Devem ser aplicadas as regras ortográficas? 

Mas além da pergunta uma outra dúvida, a sílaba "ser" do nome formado "icoqueser" deveria ser pronunciado com som de "z" ou "s" , teria uma regra para se basear de acordo com a palavra de origem. 

Caso tenha alguma experiência em tais fatos de criação eu estaria grato em receber alguma orientação.

Resposta:

Não há verdadeiramente regras para formar siglas.

Como já disse noutra resposta, as siglas são normalmente constituídas pela primeira letra (em maiúsculas e sem pontos) das palavras que constituem o nome da entidade; e, depois, essas letras são soletradas independentemente umas das outras (ex.: PSD, PCP).

Pode, no entanto, a entidade desejar que haja uma ligação silábica entre as letras da sigla e, então, considera mais do que uma letra de cada palavra ou faz um arranjo nesse sentido (ex.: VARIG: Viação Aérea Rio-Grandense).

Em certos casos, o conjunto toma mesmo a forma duma palavra que pode ser aceite no léxico da nossa comum língua (ex.: Petrobrás), e estamos em presença de um acrónimo (siglema). Um acrónimo/acrônimo deve obedecer às regras ortográficas da língua, nomeadamente quanto aos sinais ortográficos.

Claro que o s intervocálico tem o valor de z; logo «icoqueser» deve pronunciar-se ¦zer¦ (é este o motivo por que, por exemplo, na aglutinação de termo e sifão se dobra o s e se escreve termossifão).

Ao seu dispor,