D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A palavra "juros" (ref. a finanças) pode ser usada no singular?
O certo é dizer que ganhei 1% de juro ou de juros?
Um professor doutor falou-me que só deveria ser utilizado no singular. Entretanto, o dicionário Aurélio, que tem lá os seus errinhos..., traz a palavra "juro" referindo-se a finanças.
Agradeço e parabenizo novamente a equipe do Ciberduvidas, que muito tem ajudado aos estudiosos da língua portuguesa.

Resposta:

Em primeiro lugar, uma precisão. Eu não me considero normativista nos meus trabalhos ou nos pareceres que dou em Ciberdúvidas. Aquilo que escrevo representa unicamente uma opinião pessoal, com respeito por outras fundamentadas.
Vem isto a propósito de na sua pergunta ter escrito que já tem uma opinião de um senhor professor doutor, o que me colocou numa situação desconfortável, pois essa opinião é certamente idónea e deve ser respeitada.
Por sorte, acontece, porém, que em parte sou da mesma opinião.
De facto, se considerarmos o termo juro como equivalente a rendimento, podemos escrever, sempre no singular, por exemplo: `o juro destas acções´, `o juro está agora baixo´, `taxa de juro´, `empréstimo a juro´, etc. Assim, podemos também escrever: `o juro que obtivemos nesta aplicação foi de 1% do capital investido´, ou, nas suas palavras: `ganhei 1% de juro´.
No entanto, eu já usaria o plural se considerasse mais do que um rendimento simultaneamente, como, por exemplo: `na minha carteira de acções tenho juros variáveis´.
Termino, agradecendo as suas gentis palavras, de irmão na língua e companheiro de estudo.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Diz-se «porta a porta» ou porta-a-porta? «Casa a casa» ou casa-a-casa? É como dia-a-dia? Quais as regras a aplicar?

Obrigada pela atenção dispensada.

Resposta:

A utilização ou não do hífen varia se for substantivo ou locução. Passa-se como no caso de dia-a-dia ou de dia a dia, tal como regista Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa.

Assim, eu escreveria:

1. «Faço no dia-a-dia»; mas: «Faz-se dia a dia».
2. «Será um casa-a-casa»; mas: «Vamos casa a casa».
3. «Recomenda-se o porta-a-porta»; mas: «Visita-se porta a porta».

 

N.E. – (15/03/2017) Depois do Acordo Ortográfico de 1990, e à luz da sua Base XV, no ponto 6, não têm hífen as locuções cujos elementos estejam ligados por preposição, sejam elas locuções substantivas*, adjetivas**,  pronominais***, adverbiais****, prepositivas***** ou conjuncionais******.  Os exemplos acima referidos passaram, portanto, a escrever-se sem hífen, mesmo que se empreguem como substantivos: «faço no dia a dia»; «será um

Na rubrica “Dia a Dia” da revista “Actual” do “Expresso” publicado em 2004-10-30, lê-se, com data de sexta, 22: «Brasília anunciou estar pronta para adoptar o acordo ortográfico da língua portuguesa.»

De facto, dispondo já do seu actualizado Vocabulário, com 350 000 entradas (1998), é agora fácil para o Brasil avançar com o novo acordo. ...

Pergunta:

Está correcta a utilização da expressão "bons dias"? Ou devemos usar "bom dia"? Se ambas estiverem correctas em que condições se usa uma ou outra?

Resposta:

Há um certo desnorteamento na utilização do hífen, a todos os níveis, como resultado da excessiva regulamentação obrigatória e da relativa arbitrariedade com que é usado mesmo quando não obrigatório.

Ora no caso de se tratar da saudação bom dia! (desejo-lhe um bom dia!), o que nós temos é uma estrutura que, no sentido directo, é equivalente a dia bom! (desejo-lhe um dia bom); e, nesta forma, ninguém tem dúvidas de que o hífen é desnecessário.

Sabe-se que nas locuções (ex.: à vontade) se convencionou que não há necessidade de hífen. No entanto, uma coisa é a atitude, outra o nome que se lhe dá (ex.: ele ficou também à vontade com o à-vontade dela); uma coisa é a acção, outra a designação (ex.: `esta cola tapa buracos´; ele é um tapa-buracos). O nome (o substantivo) fica caracterizado pelo artigo que antecede o composto.

Com as saudações acontece coisa semelhante. Dum lado, temos as saudações bom dia!, boa tarde!, boa noite!, do outro temos o nome dessas saudações: o bom-dia, a boa-tarde, a boa-noite´, sempre com hífen (ex.: `quando lhe digo bom dia! [dia bom!] estou a ser sincero no meu bom-dia´). E o mesmo se passa para `boas festas!´ e `envio as boas-festas´, etc.

Sublinho que com este parecer não estou a estabelecer doutrina, pois me limito a seguir Rebelo Gonçalves.


P.S. — Esta resposta foi elaborada ante uma dúvida sobre o hífen na saudação bom dia! Só depois de colocado em linha este meu parecer, reparei que a dúvida do consulente Paulo Azevedo era outra. Respondo agora especificamente à sua questão.

1. Bons dias! — Na opinião expressa por Sá Nogueira e por

Os méritos do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa

A propósito da resposta As dúvidas de um «sportinguista com status e stique», onde se transcrevia um anterior texto sobre o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, aqui fica este aditamento do seu autor, o nosso prezado consultor D' Silvas Filho.