D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Diz-se no texto do Acordo Ortográfico – Base IV:

1. O c [...] e o p [...] ora se conservam, ora se eliminam. Assim [...]

c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente [...]: aspecto e aspeto, [...] dicção e dição, [...] sector e setor, ceptro e cetro [...].

No entanto, no Vocabulário de Mudança – lista da MorDebe das palavras cuja grafia muda com o Acordo de 1990, diz-se:

Ortografia Nova – Notas

aspecto, aspeto – aspecto não é aconselhável em Portugal [...)

dicção, dição – na prática, a situação anterior não muda [...]

sector, setor

cetro.

Pergunto:

1. Aspecto não é aconselhável em Portugal, ou é errado?

2. As palavras dicção e sector têm as mesmas variações da palavra aspecto e, no entanto, de aspecto diz-se que não é aconselhável em Portugal, de dicção diz-se que a situação não muda e de sector não há nenhuma nota. Qual a diferença? Penso não se perceber a coerência nestas notas...

3. Em relação a ceptro, aparece uma única forma na ortografia nova, enquanto o texto do Acordo, conforme acima, aceita as duas form...

Resposta:

A questão que levanta é muito pertinente. Resulta de uma falta de clareza do texto do novo AO, como noutros assuntos, nos quais temos de usar o bom senso ou socorrer-nos da tradição vernácula. O objetivo do AO foi tentar obter uma língua comum. De outra forma, só por umas quantas uniformizações (algumas controversas), não se justificava sermos obrigados à violência de alteração de hábitos de escrita.

Assim, o próprio texto do Acordo de 1990 é já um vocabulário comum nos seus exemplos. Ou seja, no caso das duplas grafias, o que se prescreve é que as duas variantes passam a ser legais no universo da língua. Podemos interpretar esta legalidade das duas grafias como simplesmente a existência num dicionário comum, e não que se aceite o uso para qualquer delas, num dado país, no qual uma das formas é a preferível.

Nesta interpretação, e colocando à esquerda os termos recomendados para Portugal, e à direita, em itálico, os recomendados para o Brasil, como faço no “Vocabulário Fundamental para o novo AO” do Prontuário da Texto, podemos estudar cada uma das duplas grafias que apresenta:

Aspeto/aspecto: Porque não articulamos o c em Portugal (que é articulado no Brasil).

Cetro/ceptro: Porque não articulamos o p em Portugal (que é articulado no Brasil1).

Dição ou dicção, sector ou setor, porque em Portugal o c oscil...

Pergunta:

Gostaria de saber se, com a introdução do novo AO, palavras como Homem (Humanidade), Natureza (conjunto de todos os seres vivos), Sistema Solar e Via Láctea mantêm a inicial maiúscula.

Resposta:

No novo AO os nomes próprios continuam obrigatoriamente a ter inicial maiúscula, quaisquer que eles sejam.

Pode dizer-se que esta determinação não aparece especificamente nas regras do Acordo de 1990, mas depreende-se dos a) e b) do 2.º da Base XIX: topónimos e antropónimos. Depreende-se também do c) do 1.º da mesma base, que exige nos bibliónimos os nomes próprios sempre escritos com inicial maiúscula, mesmo que no interior do título.

A questão está em avaliar bem, sempre, se se trata ou não de um nome próprio. Exemplos: Considerar a palavra Homem para representar toda a humanidade é já controverso. Eu escrevo sistema solar ou natureza com inicial minúscula, seguindo Rebelo Gonçalves (autor de Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, 1947, e de Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966).

Via Láctea é de facto o nome (próprio) da nossa galáxia, obrigatoriamente grafado com iniciais maiúsculas.

Ao seu dispor.

Pergunta:

Diz o Vocabulário Ortográfico do Português – Critérios de aplicação das normas ortográficas ao Vocabulário Ortográfico do Português: «Mantém-se o hífen nas seguintes situações…: quando o prefixo ou radical termina com a mesma letra (vogal ou consoante) com que se inicia a palavra a que se junta…» Diz o Acordo Ortográfico, Base XVI – 1: «só se emprega o hífen nos seguintes casos: (…) b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento…»

Assim, a regra aplica-se quando são iguais (terminação do prefixo e início da 2.ª palavra) as vogais, ou as letras (vogal ou consoante)?

Resposta:

O novo AO não refere explicitamente que, como para vogais iguais, seja obrigatório o hífen quando as consoantes são iguais na união dos elementos de um composto. Contudo, essa separação por hífen é tradicional: circum-murado, hiper-resistente, sub-bibliotecário, super-requintado (termos todos registados no VOLP para o novo AO da Academia Brasileira de Letras).

Ao seu dispor.

Pergunta:

Na ortografia atual, o uso do hífen mantém-se quando nos referimos a posições específicas de futebolistas? Na resposta à pergunta 22 017José Mário Costa considera que médio-centro (ou médio-central), médio-ala, lateral-direito, lateral-esquerdo, defesa-central e médio-ofensivo são hifenizados, mas vejo cada vez mais órgãos de comunicação social, em Portugal e no Brasil, a escrever estes termos sem hífen. Terá sido a resposta 22 017 dada à luz da ortografia anterior, ou a forma errada de escrever estes termos está a espalhar-se?

Resposta:

O hífen nestas palavra obedece ao ponto 1 da Base XV do Acordo Ortográfico de 1990: «... elementos que constituem uma unidade sintagmática e semântica (...): arcebispo-bispo, médico-cirurgião

Qualquer um dos compostos representa um sentido único (são aqueles atletas que no futebol desempenham determinadas funções).

No caso dos compostos NA (nome e adjetivo), como em «defesa central» e «médio ofensivo», o hífen tem sido controverso. No entanto, sem hífen, podemos considerar um defesa ou um médio que ocupem aquelas posições numa modalidade qualquer; mas com hífen têm o sentido único de se referirem àqueles determinados atletas no futebol. O mesmo se passa com guarda-noturno (termo também do AO): não se trata só de um guarda que trabalhe de noite; mas é um guarda especial, que, de noite, cuida especialmente dos residentes duma zona.

Ao seu dispor.

Pergunta:

Gostaria de saber se, no trecho abaixo, onde aparece o termo «cultura negra-baiana», esta formação está correta, inclusive quanto ao hífen. «O candomblé alargou seus laços territoriais, se expandindo da Bahia para todo o Brasil, além de somar a si uma classe intelectualizada do Rio de Janeiro e São Paulo, que valorizava a cultura negra-baiana.»

Resposta:

À semelhança da expressão «cultura negro-brasileira», deve escrever «cultura negro-baiana». Neste caso, o hífen é obrigatório, segundo o que se depreende do 1.º da Base XV do novo AO, no seguimento do Tratado de Ortografia de Rebelo Gonçalves.

NOTA: Negro-brasileiro está registado no VOLP para o novo AO da sua reputada Academia Brasileira de Letras.

 

N.E. – Sobre os critérios de hifenização depois do Acordo Ortográfico de 1990, acompanhe-se a explicação do gramático brasileiro Sérgio Nogueira em registo de vídeo:

 

 

 

Ao seu dispor,