D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Sobre as explicações de D’ Silvas Filho quanto ao uso da (/) barra na língua portuguesa, ficou-me uma dúvida acerca da interpretação de uma frase. Diz o seguinte:

«As pontuações previstas nas alíneas "a.1"/ "a.2" e "b" não poderão ser contadas de forma cumulativa.
»

Pergunto ao senhor: Qual o entendimento da frase? O que eu não posso cumular? Apenas "a.1" com "b" e "a.2" com "b" ou também não posso cumular "a.1" com "a.2"?

Na minha interpretação, o uso da (/) barra entre "a.1" e "a.2" permite que elas sejam cumuladas.

É isso mesmo? Estou correto na minha interpretação?

Resposta:

Como refiro na resposta citada, enquanto o hífen tem normalmente função aditiva (cumulativa: e), a barra tem função disjuntiva (ou). Assim:

Numa escrita do tipo “a1”/”a2” eu interpreto: “a1” ou “a2”, em alternativa, e não “a1” mais “a2”. Concluo, da expressão em apreço, que as pontuações “a1” ou ”a2” não poderão ser contadas de forma cumulativa. Por outro lado, escreve-se que as pontuações “b” também (e) não podem ser contadas de forma cumulativa.

A conclusão que tiro da frase é que nenhuma das pontuações indicadas podem ser contadas de forma cumulativa. Com a barra um mero sinal de agrupamento disjuntivo de pontuações semelhantes, a frase seria equivalente a uma do tipo:

«As pontuações previstas nas alíneas “a1”, ”a2” e “b” não poderão ser contadas de forma cumulativa.»

Fica, porém, ainda a dúvida sobre a utilização da barra. Pode ser que o autor tenha querido dizer que “a1” ou ”a2” não podem ser cumulativas com “b”, mas então a frase deveria ter sido:

«As pontuações previstas nas alíneas“a1”/”a2” não poderão ser contadas de forma cumulativa com as pontuações da alínea “b”.»

Para que as pontuações nas alíneas “a1”/”a2” possam, entre si, ser contadas de forma cumulativa, isso terá de estar indicado explicitamente nalgum lado; e tal não se depreende claramente da expressão em apreço.

Nota final:

Esta questão levanta o problema da ambiguidade na escrita, um erro contra a qualidade clássica da linguagem designada por clareza. A menos que se pretenda escrever com ideias subliminares, como acontece na poesia ou nalguma literatura, uma mensagem clara não deve deixar dúvidas naquilo ...

Concordo que o Acordo Ortográfico (AO) de 1990 precisa de ser aperfeiçoado. Na adaptação ao novo AO do Prontuário da Texto em elaboração, concluí que há excesso de incoerências, decisões não suficientemente sedimentadas e, até, erros técnicos no texto.

Pergunta:

A palavra característica tem dupla grafia?

Resposta:

Os vocabulários para o novo Acordo Ortográfico aceitam a dupla característica/caraterística. Num critério de Vocabulário Comum, que permita usar indiferentemente as alternativas numa dupla grafia, pode-se escolher neste caso.

Contudo, no Vocabulário Fundamental para o novo AO, do Prontuário da Texto (5.ª ed., 2010), dirigido ao utente português, não considerei ainda, neste vocábulo, a opção da dupla grafia. A pronúncia aconselhada para Portugal é com a articulação do c (ver Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, edição 2004, e Dicionário do Português Contemporâneo, da Academia das Ciências de Lisboa), o que recomenda característica, para o português europeu, seguindo a tradição etimológica.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Segundo depreendo do AO90, as palavras cujos prefixos terminem na mesma vogal que o segundo elemento devem separar-se com hífen. Exceção feita ao elemento co-. Contudo, em diversas obras consultadas, os prefixos re- e entre- surgem aglutinados ao elemento seguinte. O Portal da Língua Portuguesa faz um belo e vazio jogo de anca e não lista nenhum destes casos. Pergunto, dado que não existe um VOLP, qual é a referência que devo seguir?

Resposta:

De facto, o prefixo co- não oferece dúvidas, mas tem toda a razão nas questões colocadas sobre os outros prefixos. Os prefixos re- e entre- têm dado lugar a interpretações diversas para o novo AO, algumas erradas.

Para se ficar com ideias mais concretas é preciso meditar no que está recomendado no 1.º da XVI do novo AO:

Re-

Os únicos prefixos monofásicos incluídos na lista são: co-, pós-, pré-pró-, sub- e pan-. Ora, co-, pós-, pré-, pró- e pan- estão em particular tratados no texto do AO; e sub- tradicionalmente usa hífen só na duplicação da consoante (ex.: sub-bibliotecário), segundo elemento com h (ex.: sub-hepático) ou quando a aglutinação pode implicar retorno da grafia sobre a fonia (ex.: sub-rogar).

Re- não está mencionado na lista considerada, porque deve aglutinar sempre (ex.: reencontrar, relembrar, etc.). Há também outros prefixos monofásicos que aglutinam sempre, como des-, in-, implicando nalguns casos até a perda do h do segundo elemento (ex.: desumidificar, inumano).

...

Pergunta:

Os nomes das instituições sofrem as alterações do acordo ortográfico? Por exemplo «Direcção Regional da Educação» mantém o c?

Resposta:

A partir de janeiro de 2012 está previsto que todas as entidades do Estado português passem a adotar a novo AO. Portanto, será: Direção.

É facto que a nova norma aceita também que os nomes registados oficialmente possam manter a grafia anterior (Base XXI); mas esta cláusula do novo AO refere-se a nomes de pessoas, firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos, não a entidades do Estado.

Note que há tolerância na coabitação das duas normas até 2015. Além disso, não estou a pensar que irão ser mudadas todas as inscrições (em particular as placas toponímicas) rapidamente, só porque o acordo ortográfico entrou em vigor...

Ao seu dispor,