D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Caro Ciberdúvidas, gostaria de solicitar a vossa ajuda nas seguintes questões: Como é que se pronuncia 1,2 mi? Há diferenças entre o PTP e o PTB?

a) uma vírgula duas milha; b) uma vírgula duas milhas; c) um vírgula dois milha d) um vírgula dois milhas

Obrigada pela vossa ajuda.

Resposta:

1. Nota inicial: O Comité Internacional de Pesos e Medidas (CIPM) não indica nenhuma abreviatura para milha. Há discrepâncias quanto à sua representação. A Academia Brasileira de Letras (ABL) recomenda mi, o VOLP da Porto Editora e a Wikipédia recomendam M. Sigo a ABL.

2. Segundo o Bureau International des Poids et Mesures (BIPM), o nome de uma unidade (extenso) só passa a plural a partir de dois (inclusive). Exemplo no livro de Guilherme de Almeida; 1,99 joule. Logo, deve escrever-se 1,2 milha.

3. Mas uma coisa é a representação do valor da grandeza em algarismos com a sua unidade por extenso, obedecendo à norma que se convencionou no BIPM; outra a descrição da grafia que se vê. Nessa descrição, atende-se a que devemos ser exatos naquilo que se indica. Descrevendo 1,2 milha, devemos dizer uma milha mais duas décimas de milha ou uma milha, vírgula, duas milhas decimais, ou, ainda, citando os algarismos, “um, vírgula, dois” de milha.  Assim, segundo as normas, é incorreto escrever-se simplesmente: *uma milha, vírgula, duas milhas. A concordância gramatical (numeral e unidade: “duas milhas”) implica ambiguidade entre milhas inteiras e decimais e contraria o BIPM.

4. Repare-se agora no exemplo de 1,2 Km, que me foi sugerido para estudo p...

Pergunta:

Eu já vida tinha enviado esta pergunta, mas na altura não obtive uma resposta esclarecedora. Gostava de saber se existe alguma regra topográfica segundo a qual o ponto de abreviatura antes do indicador ordinal (ex.: 1.º) deve ou não ser omitido, dependendo se — na fonte de letras em questão — o símbolo estiver sublinhado. O Correio da Manhã usa o ponto nas situações em que o símbolo não é sublinhado, mas não quando, nos artigos, aparece sublinhado. Também o Expresso segue este conceito. Sei que, tradicionalmente, o ª/º deve ser sublinhado, e só também que s deve usar um ponto neste tipo de abreviatura. Porém, nunca vi os dois a serem usados ao mesmo tempo.

Resposta:

O que transparece na sua pergunta é a questão fundamental se o ponto é ou não dispensável na abreviatura em causa. Ora esta questão é frequente nas dúvidas sobre as abreviaturas e causa de vários erros nos órgãos de comunicação social.

Assim, antes de responder diretamente à sua pergunta final, vamos repetir e atualizar as regras quanto ao ponto (vide Textos Relacionados, em baixo):

Numa abreviatura, o ponto significa que houve supressão de letras, na escrita abreviada (ex.: abr., Eng.). Quando, além das primeiras letras é necessário usar outras (normalmente de fim da palavra) para identificar melhor a abreviatura, tem sido usual escrevê-las sobrescritas (ex.: P.ᵈᵉ, Ld.ª); mas está a generalizar-se o hábito de já nem se usar o sobrescrito (ex.: Dr., Exma., e repare-se que o ponto é indispensável, até depois da última letra da palavra, sempre com o mesmo significado convencional).

Situando-nos agora no seu exemplo, os ordinais têm sido tradicionalmente representados pelos números romanos (II Parte, Pio X, dispensando pontos).

Quando se usam os cardinais para representar ordinais, os algarismos são obrigatoriamente seguidos de ponto para evitar confusões (por exemplo, podia ser interpretado como 5 elevado a zero, ou seja, a unidade). Nesta caso, é usual indicar o género e o número do ordinal sobrescritos (ex.: Art. 1.°, 3.ᵃˢ), ficando o ponto também sempre indispensável, pelos motivos atrás indicados.

Vejamos agora a sua questão.

Recomenda-se que as regras acima para o ponto nos ordinais, quando se usam cardinais, sejam válidas...

Pergunta:

Venho perguntar como nos devemos referir ao ordinal [correspondente a] mil milhões (1 000 000 000.º)? Uma pesquisa no Google levou-me a "bilionésimo". Contudo, esse termo está de acordo com a escala brasileira/anglo-saxónica, que utiliza o bilião (bilhão/billion) nos casos em que se recorre ao milhar de milhões, em Portugal. A minha pesquisa no Ciberdúvidas levou-me a uma [resposta] que faz referência ao "dois milésimo" e "bimilionésimo", quando relativo ao ordinal de dois mil. Poder-se-á usar essa regra para um ordinal da ordem de mil milhões ficando "mil milésimo"?

Agradeço antecipadamente as vossas respostas.

Resposta:

Respondo separando as suas dúvidas em cada um dos termos.

Ordinal de mil milhões.

Na pág. 184 da 3.ª edição do livro de Guilherme de Almeida: Sistema Internacional de Unidades, considera-se para Portugal: o milhão (106), o mil milhões (109) e o bilião (1012).

Observemos agora os seguintes factos: É costume a última posição dum conjunto cujo total é um dado número cardinal ser representado pela mesma designação que uma das partes em que o total é dividido pelo mesmo número (ex.: «o clube está na décima posição», «pagou uma décima do valor»). Repare que o determinante caracteriza a diferença («a décima», «uma décima»).

Ora para representarmos o ordinal de mil milhões basta-nos pensar como representar a fração resultante de um total que foi dividido em mil milhões. Consideremos uma unidade dividida num milhão de partes: 1/106; se agora dividirmos uma dessas partes mil vezes: 1/103 x 1/106, teremos um milésimo de um milionésimo; ou, simplificando: um milésimo milionésimo: 1/109. Então, o ordinal de 109 será, no raciocínio acima, o milésimo milionésimo no conjunto (o último de um conjunto de mil milhões).

Bilionésimo: Na convenção que adotamos em Portugal, será o ordinal de 1012.

Bimilionésimo: Na convenção que adotamos em Portugal será o o...

Em texto originalmente publicado em página pessoal, D´Silvas Filho explica por que razão não concorda com alguns dos critérios seguidos pelos vocabulários ortográficos atualmente disponíveis em Portugal (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e Vocabulário Ortográfico do Português, do Instituto de Linguística Teórica e Computacional – ILTEC), na aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 (AO).

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