Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber o que entende por «não frase».

Obrigada!

Resposta:

«Não frase» um termo usado em Portugal, no contexto do ensino da língua portuguesa, sobretudo no 1.º ciclo, para designar uma sequência de palavras que não formam uma frase, confundindo-se com as expressões «frase agramatical» ou «frase não aceitável». Assinale-se que o Dicionário Terminológico não acolhe este termo.

Pergunta:

Na expressão «trepar às árvores», pode considerar-se «às árvores» complemento direto, ou é complemento oblíquo?

Resposta:

A expressão «à árvore» não é complemento direto de «trepar», porque aparece introduzida por preposição, não podendo ser substituída pelo pronome pessoal o (o asterisco indica agramaticalidade):

1. «Trepou à arvore.»

2. *«Trepou-a.»

Trata-se, sim, de um complemento oblíquo, visto ser realizado por um grupo preposicional. Note-se que este grupo não é substituível pelo pronome dativo lhe, não se confundindo, portanto, com um complemento indireto (cf. Dicionário Terminológico):

1. «Trepou à árvore.»

2. *«Trepou-lhe.»

Se 2 pressupuser 1, a ocorrência de lhe não é aceitável, dado que este pronome não pode substituir «à árvore», um complemento oblíquo.

Pergunta:

Há alguma incorrecção na frase «Pode-se dizer desta forma»? Ou não há diferença relativamente a «Pode dizer-se desta forma»?

Resposta:

Não há grande diferença entre as duas sequências, dependendo a opção por uma delas de factores ligados à chamada musicalidade da frase. Cabe referir que já Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, pág. 314/316) consideravam que o pronome átono se pode ligar tanto ao verbo principal (por exemplo, «pode dizer-se») como ao verbo auxiliar («pode-se dizer»).

Uma vez que existem várias respostas publicadas sobre este tema, aconselhamos a leitura de: «Quero pronunciar-me»/«quero-me pronunciar»; A colocação dos pronomes átonos.

 

Pergunta:

Tenho visto várias vezes em livros o uso do tratamento tu para a realeza. Gostaria de saber se é errado, ou se é possível utilizar esta forma de tratamento em vez vós.

Resposta:

Sabendo que, para reis e rainhas, a forma de tratamento usada é Vossa Majestade, é de esperar o emprego da 3.ª pessoa (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 292). Vós é também possível, como tratamento de cerimónia (cf. idem, pág. 287), já que o possessivo vossa deixa implícito tal pronome. Quanto a tu, poderá ocorrer em situações ficcionais, mas não está claramente atestado no uso passado ou presente.

Pergunta:

Prezados senhores, gostaria que me esclarecessem as seguintes dúvidas:

Já li: «lançar um olhar restrospectivo para» e «lançar um olhar restrospectivo a». Qual das duas é correta? O mesmo em relação a: «entre o período de 6 a 9 de setembro» ou «entre o período de 6 e 9 de setembro». Qual das duas é a correta?

Por vezes, tenho lido esta expressão para designar o começo de algo: «Dar os primeiros passos de existência.» É correto o emprego desta expressão? Caso o seja, diz-se «da existência», ou «na existência»?

Meu muito sincero obrigado

Resposta:

1. Pode usar o verbo lançar com as duas preposições referidas pelo consulente e até com outras, todas exprimindo a direção do que se lança: a, para, em, contra, por, sobre. Assim o indica o Dicionário Sintático de Verbos Portugueses (Coimbra, Editora Almedina, 1992), de Winfried Busse:

lançar alguém/alguma coisa a — «O Paulo lançou o José ao chão»;

lançar alguém/alguma coisa para — «Lançar os olhos para alguém»;

 

lançar alguém/alguma coisa em — «Já lancei as despesas nos livros»;

lançar alguém/alguma coisa contra — «Lançou pedras contra a parede»;

lançar alguém/alguma coisa por — «Lançou-se pela rua abaixo»;

lançar alguém/alguma coisa sobre — «Lançaram os cavalos sobre os manifestantes».

2. A preposição entre afeta o uso apenas da palavra período, não podendo referir-se à expressão «de 6 a 9 de setembro». A sequência apresentada pelo consulente está, portanto, incorreta, porque, por norma, a preposição entre pressupõe, pelo men...