Na análise gramatical anterior à que atualmente decorre da elaboração e fixação do Dicionário Terminológico (DT) em Portugal, existia alguma dificuldade em classificar o constituinte sintático em questão, o que poderia levar, em contexto escolar, a classificar o caso de «muito triste» como complemento circunstancial de modo.1 No entanto, mesmo na perspetiva tradicional, embora já aceitando alguns contributos da linguística, Celso Cunha e Lindley Cintra mostram que os predicativos do sujeito não ocorrem apenas com os verbos copulativos, podendo também aparecer associados a verbos significativos, formando com estes aquilo a que esses gramáticos apelidam de «predicado verbo-nominal» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 138).2
Em relação à análise feita na perspetiva do DT, embora este apenas relacione explicitamente o predicativo do sujeito com os verbos copulativos, não é descabido reconhecer que eles também ocorrem com verbos não copulativos.
1 No âmbito da análise escolar mais tradicional, não se trata de um atributo, porque este «se junta imediatamente ao substantivo para o qualificar», conforme estipulam J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira (Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto Editora, 1976, pág. 68). O mais que se poderia dizer nessa perspetiva é que «muito triste» era um adjetivo em aposição, desde que na escrita ficasse assinalado ente vírgulas, adjacente ao sujeito: «Ela, muito triste, foi pelo mundo» (cf. ibidem). Mas, na verdade, a gramática de Figueiredo e Ferreira não permitia descrever adequadamente o constituinte «muito triste» no contexto em questão.
2 Evanildo Bechara fala em «anexo predicativo» na sua Moderna Gramática Portuguesa (37.ª edição, págs. 428-431).