O Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, na sua edição de 1991 pelo Círculo de Leitores, regista a forma cidadão quer como substantivo quer como adjetivo. Quanto a o uso adjetival ser resultado de empréstimo do espanhol, nada posso afirmar. No entanto, tal hipótese parece-me pouco provável, tendo em conta que o dicionário de José Pedro Machado tem edições anteriores a 1991 e que, nessa altura, a pressão comercial e linguística de Espanha era, em Portugal, menor do que hoje. Além disso, em textos oitocentistas, encontram-se algumas ocorrências adjetivais da forma feminina, cidadã (frases retirados do Corpus do Português de Mark Davies e Michael Ferreira; mantive a ortografia original):
(1) «[S]em advertirmos, que não ha hoje, nem houve nunca nação alguma verdadeiramente polida, que não fizesse, ou faça consistir o ponto fundamental de uma educação liberal, e cidadã, no apurado conhecimento da sua propria linguagem...» (Francisco Freire de Carvalho, Lições)
(2) «Foi uma indiscrição mandar tocar a campainha. Esqueci-me de prevenir que lhe respeitassem a indolência cidadã.» (Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais)
De qualquer modo, não disponho de dados que confirmem ou infirmem uma influência castelhana, que, não sendo impossível, teria de ser confrontada com a maior probabilidade interferência do francês, língua hegemónica no plano cultural até princípios do século XX, ou do inglês, hoje língua franca em diferentes domínios de expressão e atividade.