Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Tenho visto várias vezes em livros o uso do tratamento tu para a realeza. Gostaria de saber se é errado, ou se é possível utilizar esta forma de tratamento em vez vós.

Resposta:

Sabendo que, para reis e rainhas, a forma de tratamento usada é Vossa Majestade, é de esperar o emprego da 3.ª pessoa (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 292). Vós é também possível, como tratamento de cerimónia (cf. idem, pág. 287), já que o possessivo vossa deixa implícito tal pronome. Quanto a tu, poderá ocorrer em situações ficcionais, mas não está claramente atestado no uso passado ou presente.

Pergunta:

Prezados senhores, gostaria que me esclarecessem as seguintes dúvidas:

Já li: «lançar um olhar restrospectivo para» e «lançar um olhar restrospectivo a». Qual das duas é correta? O mesmo em relação a: «entre o período de 6 a 9 de setembro» ou «entre o período de 6 e 9 de setembro». Qual das duas é a correta?

Por vezes, tenho lido esta expressão para designar o começo de algo: «Dar os primeiros passos de existência.» É correto o emprego desta expressão? Caso o seja, diz-se «da existência», ou «na existência»?

Meu muito sincero obrigado

Resposta:

1. Pode usar o verbo lançar com as duas preposições referidas pelo consulente e até com outras, todas exprimindo a direção do que se lança: a, para, em, contra, por, sobre. Assim o indica o Dicionário Sintático de Verbos Portugueses (Coimbra, Editora Almedina, 1992), de Winfried Busse:

lançar alguém/alguma coisa a — «O Paulo lançou o José ao chão»;

lançar alguém/alguma coisa para — «Lançar os olhos para alguém»;

 

lançar alguém/alguma coisa em — «Já lancei as despesas nos livros»;

lançar alguém/alguma coisa contra — «Lançou pedras contra a parede»;

lançar alguém/alguma coisa por — «Lançou-se pela rua abaixo»;

lançar alguém/alguma coisa sobre — «Lançaram os cavalos sobre os manifestantes».

2. A preposição entre afeta o uso apenas da palavra período, não podendo referir-se à expressão «de 6 a 9 de setembro». A sequência apresentada pelo consulente está, portanto, incorreta, porque, por norma, a preposição entre pressupõe, pelo men...

Pergunta:

Gostaria que me ajudassem a ajudar os meus filhos (estudantes de tenra idade)... Como se separam (em sílabas) as palavras sítio, pedaço, histórias e até?

Resposta:

Assim:

sí.ti.o

pe.da.ço

his.tó.ri.as

a.té

Como sempre, convém lembrar que divisão silábica não é o mesmo que translineação. Se for este o caso, deve-se ter o cuidado de não deixar letras isoladas na mudança de linha. Sendo assim, entre os exemplos em apreço, são de assinalar:

a) até, que não se separa;

b) sítio, que se separa como adiante se mostra:

sí-
tio

 

c) histórias, que graficamente deve observar o preceito de não se separar vogais:

histó-
rias
 
ou 
 
his-
tórias 

Pergunta:

Segundo as normas do novo Acordo Ortográfico, os nomes das disciplinas e dos meses do ano passam a escrever-se com minúscula. Passarão a classificar-se como nomes comuns, ou manterão a classificação de nomes próprios?

Obrigada.

Resposta:

Considera-se que passam a ser classificados como nomes comuns, tal como acontece com os nomes dos dias da semana. Note-se, contudo, que o novo Acordo Ortográfico é omisso sobre esta questão, como aliás apontam uma resposta do Ciberdúvidas (ver Textos Relacionados) e um comentário disponível numa página da Porto Editora.

Pergunta:

A resposta à pergunta sobre o plural de «a priori» diz que a expressão é invariável. Eu pergunto: mesmo quando ela sofre substantivação, ou seja, é tomada como substantivo? Por exemplo: «Os a priori genético e social.» É assim mesmo?

Resposta:

Em caso de substantivação, três possibilidades se oferecem relativamente a «a priori»:

1. A locução fica invariável, devido ao seu valor adverbial em latim, aparecendo em itálico ou entre aspas: «os a priori» ou «os "a priori"».

2. À semelhança de casos como ex-líbris (do latim ex libris), igualmente usado no plural1, fac-símile (do latim «fac simile»), que tem o plural fac-símiles2 (cf. o Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora), e pró-forma («baseado na expressão latina pro forma», segundo Rebelo Gonçalves, op. cit.), procede-se a um aportuguesamento não atestado, "a-prióri", o qual, dada a sua configuração, aceita o plural ("a-prióris"), se convertido em substantivo: «os a-prióris».

3. Tendo em conta a existência de formas como aprioridade (cf. Dicionário Houaiss), apriorismo, apriorista, aprioristicamente e apriorístico (cf.