Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Porque a palavra muito é pronunciada como sendo nasalada?

Resposta:

O ditongo ui de muito é efetivamente nasal. A explicação é dada por Edwin B. Williams, Do Latim ao Português (Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 2001, 73; manteve-se a ortografia original):

«[...] O m inicial por vêzes nasalizava a vogal seguinte: matrem > mãe; mĕam > mĩa > minha; mĭhī > mi > mim; multum > muito [mũjntu]. Êsse fenômeno é muito comum no português dialetal e popular: mensem > mês > mẽs (R[evista] L[usitana], V, 59); mensam > mesa > mensa (R[evista] L[usitana], V, 58); mĭssam > missa > minsa (opúsculos, II, 313); mūlum > muu > (R[evista] L[usitana], XXVI, 249); formas do verbo medir (R[evista] L[usitana], XXVI, 254, s. v. mil) [...].»

Pergunta:

Gostaria de saber qual o nome atribuído aos habitantes de Novais. São "novaenses"?

Obrigada pela atenção.

Resposta:

Considerando que Novais tem origem na substantivo comum noval, «terra deixada em descanso por um ano» (Dicionário Houaiss) e «arroteia» (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), é de aceitar que o respetivo gentílico seja novalense, à semelhança do modelo de Vinhais, cujo gentílico vinhalense se forma com o radical vinhal-, idêntico à própria palavra vinhal («terreno onde há vinhas», idem), no singular.

Pergunta:

Diz-se para as emulsões de «óleo-em-água» (como em inglês), ou «óleo em água»

Resposta:

Recorremos ao sítio Linguee e verificamos que, para traduzir a expressão inglesa oil-in-water testing, se prefere a expressão «pesquisa de hidrocarbonetos na água». Contudo, se pretende empregar a tradução literal, escreva «óleo em água», sem hífenes, porque as locuções com elementos de ligação não têm hífen, a não ser que designem espécies botâncias ou zoológicas (Acordo Ortográfico de 1990, Base XV, 6). Trata-se, de todos os modos, de uma expressão própria de um domínio muito especializado, cuja tradução requer também a identificação dos usos mais generalizados entre os profissionais desse ramo.

 

CfQual é a origem da palavra «água»? + Viagem pelos nomes da água

Pergunta:

Qual a família das palavras especial, simples e expansão?

Resposta:

Seguem-se alguns vocábulos que pertencem à família de cada palavra em questão:

– especial (adjetivo)  especializar, especialmente, especialidade, especialista;

 simples (adjetivo)  simplificar, simplismo, simplicidade, simplesmente, simpleza:

 expansão (susbtantivo)  expansivo, expansionismo, expansível.

Pergunta:

A Junta de Freguesia do Painho vem por este meio solicitar a vossa ajuda para a compreensão e o significado da palavra Chães. A Freguesia do Painho situa-se no extremo norte do distrito de Lisboa, e dispõe de 49 códigos postais, que correspondem aos "casais" existentes na nossa freguesia.

Desde já o nosso agradecimento.

Resposta:

José Pedro Machado regista Chães como topónimo no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, localizando-o apenas em Barcelos e Felgueiras e propondo uma eventual relação com o plural de chão, que, em vez de chãos, passaria a "chães", talvez (sugere-se agora aqui) por analogia com capitão, que pluraliza como capitães. Estes plurais foram frequntes no português popular, como se pode verificar num artigo de Leite de Vasconcelos (1858-1941), que os registou na região de Óbidos, alguns quilómetros mais a norte da zona do Cadaval ("Ementas Gramaticais", Revista Lusitana, vol. XXXVII, 1939, pág. 6):

«[...] Mais pl[urais] em -ães, do concelho de Óbidos: chães "chãos", pinhães [pinhões], malães "melões", piães "peões", coraçães, grães, testães, mas mãos [...].»

Observe-se, no entanto, que uma consulta na Internet permitiu localizar um blogue que faculta alguns pormenores sobre o significado original deste topónimo na região do Sabugal (distrito da Guarda), mais precisamente em Vilar Maior (Memórias de Vilar Maior, minha terra, minha gente; sublinhado meu):

«Quanto aos chães eram, como as tapadas, propriedades muradas, por norma, em altitudes inferiores e de área mais reduzida e com uma terra mais forte, mais abrigados dos ventos prestavam-se à cultura do trigo (nomeadamente o trigo sacho), do milho, do gravanço, do tremoço. Por vezes, serviam rotativamente de nabal, de batata secadal e até de meloal. As paredes com boa exposição solar serviam para amparo a latadas. São tão disseminados que eu penso que mesmo uma pessoa tão versada como o sr Jarmeleiro terá ...