Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Lembro-me de o meu professor de Português ter ensinado durante uma aula que os habitantes da Finlândia eram designados como "finos". Acontece que já procurei em vários dicionários e não encontro a definição e sempre vejo e ouço que são designados "finlandeses".

Grato pela ajuda que me possam prestar.

Resposta:

Fino é uma alternativa a finlandês, mas tem pouco uso, a não ser em adjetivos compostos coordenados, como forma curta de finlandês, p. ex., como fino-úgrico ou fino-sueco. Neste tipo de compostos, fino- pode ser substituído pelas formas finlando- e findlândio- (cf. Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Gostaria que fosse esclarecido, por favor, no que concerne à Prosódia que é um ramo da linguística.

O que é a Prosódia? Como se identifica? Que variantes ou modos existem?

Gostaria, igualmente, que me enviassem alguns exemplos práticos relativamente à Prosódia.

Resposta:

A Prosódia (também é possível escrever prosódia) é um ramo da linguística que investiga as propriedades fónicas da cadeia da fala «que contribuem para a interpretação do significado e determinam o ritmo da frase» (M.ª Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 1037), a saber, o tom, o acento (ou seja, o acento tónico) e a duração (ibidem).

No Dicionário Terminológico (domínio B 1.2.) encontra uma definição e exemplos do que é, pelo menos, numa certa perspetiva, uma análise prosódica (mantém-se a ortografia original):

«Prosódia/nível prosódido – Um dos dois níveis de análise fonológica das línguas. No nível prosódico, analisam-se os fenómenos fonéticos e fonológicos que envolvem unidades mais vastas do que os fonemas, como a sílaba, a palavra ou a frase. É no nível prosódico que se estudam os processos entoacionais, rítmicos ou o acento, que muitas vezes se manifestam através de variações de tom, duração e intensidade.

Notas

No âmbito da prosódia, estudam-se, por exemplo, fenómenos como a co-articulação de sons em fronteiras de palavras (como na queda da vogal final de “belo” na sequência “belo artista”) ou o comportamento de palavras sem acento próprio como os pronomes átonos.»

Uma síntese do que são a prosódia e o seu nível de análise encontra-se em M.ª Helena Mira Mateus e Alina Villalva, O Essencial sobre Linguística, Lisboa, Editorial Caminho, 2006, págs. 59-60), obra de que se citam as seguintes passagens  (ibidem; manteve-se a ortografia original):

«Os sons das línguas não possuem apenas as propriedades articulatórias que diferenciam um /a/ de...

Pergunta:

Gostaria de saber a origem de beleléu e das seguintes expressões com a referida palavra: (a) «ir para o beleléu», com o sentido de «morrer»; e (b) «mandar para o beleléu», com o significado de «matar».

Resposta:

Não tenho outra informação que não seja a que se encontra no Dicionário Houaiss, que é muito pouco elucidativa: «origem obscura; às vezes tido como vocábulo expressivo eufemístico».

É possível que se trate de palavra com origem onomatopaica ou expressiva, evocativa de certa linguagem infantil – é uma mera suposição, sem qualquer fonte que a sustente.

Pergunta:

Qual é o significado do provérbio «candeia que vai à frente alumia duas vezes»?

Resposta:

No Dicionário de Provérbios. Francês-Português-Inglês (Lisboa, Contexto, 2000), de Roberto Cortes de Lacerda, Helena R. Cortes de Lacerda e Estela dos Santos Abreu, que recolhem este provérbio e um outro de significado muito próximo – «a candeia que vai adiante é que alumia» –, considera-se que estes dois provérbios significam que, em vida, não se deve deixar nada por fazer. No entanto, outra interpretação é possível, como a proposta por Madeira Grilo, em Dicionário de Provérbios (Município de Pinhel e Madeira Grilo, 2009, pág. 130), que o parafraseia assim: «Se caminharmos na dianteira de alguém, temos melhores possibilidades de atingirmos a nossa meta.» É ainda possível entender este provérbio de outro modo: assim como a candeia ilumina o caminho para a pessoa que a segura e para aqueles que a acompanham, também o espírito de iniciativa de alguns contribui para o proveito de outros.

Pergunta:

Alguém pode "rotar" depois de comer? Será que o correto é arrotar, isto é, emitir gases do estômago pela boca? E o verbo rotar? Existe, ou não?

Grato.

Resposta:

A forma rotar não se encontra atualmente registada nos dicionários como sinónimo de arrotar.¹ No entanto, ela está pressuposta na análise de arrotar e até pode ter existido na história do vocabulário do português, confome se pode concluir pela nota etimológica do Dicionário Houaiss associada ao radical arrot- (abreviaturas desenvolvidas)

«[...] do verbo latino eructāre, ´arrotar; dar golfadas, vomitar´, [...] ou do verbo latino ructāre, ´arrotar; dar golfadas´ (fonte do anterior e de ructus, ´arroto´ – donde o italiano rutto, o friulano rut, o francês, provençal e catalão rot), com a- protético; o primeiro registro atestado no português, já no século XV, é de uma forma arcaica, rotar, o que parece corroborar a segunda hipótese; a cognação vernácula inclui arrotação, arrotado, arrotador, arrotar, arrote, arroto ´eructação´, arroto-choco, arroto-de-gruna; o dicionário (1976) da Academia das Ciências de Lisboa, s.v. arrotar,propõe *eruptare (de eruptus, particípio passado de erumpĕre ´fazer sair bruscamente´) em substituição de eructāre; essa hipótese não leva em conta a forma verbal rotar, que depois se fez arrotar, por influxo do substantivo arroto, do século XIV, não podendo, assim, ser regressivo de uma forma (arrotar) cronologicamente posterior, que sofreu, no a- protético, o influxo de arroto; esta, por sua vez, provinda de ructus (ructu-), deve desde sempre ter emergido sob essa forma, dada a existência, desde o século XI, de roto < ruptu- ´rompido´ [...].»

¹ Contudo, regista-se <...