Pergunta:
Gostaria de saber qual é o galicismo existente no trecho abaixo transcrito, extraído da obra Coração, Cabeça e Estômago, de Camilo Castelo Branco (1825-1890):
«Paula fitou-me e coçou a testa com o leque. Noutro intervalo da dança continuei: Por que não respondeu à minha carta? Era impossível. Eu já dei o meu coração. Por delicadeza lhe não devolvi a sua carta, e peço-lhe que me não escreva outra, que me compromete, respondeu ela. Não me soou bem este galicismo dos lábios de Paula. Eu, em todas as situações da minha vida, quando vejo a língua dos Barros e dos Lucenas comprometida, dou razão ao filósofo francês que, à hora da morte, emendava um solecismo da criada, protestando defender até ao último respiro os foros da Língua. E com que admiração eu leio aquilo do gramático Dumarsais, que, em trances finais de vida, exclamava: "Hélas! Je m'en vais... ou je m'en vas... car je crois toujours que l'un et l’autre se dit ou se disent!"»
Muito obrigado pela atenção dispensada.
Resposta:
O verbo comprometer, no sentido de «pôr alguém em risco» ou «levar alguém a uma situação desonrosa», é etimologicamente um galicismo, mas, pelo menos, há perto de 60 anos, já se considerava que era palavra assimilada pela língua, conforme se pode verificar por um comentário de Vasco Botelho de Amaral, no seu Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, de 1958 (mantém-se a ortografia do texto original):
«Comprometer. É galicismo muito vulgarizado, na acepção de: deixar ficar mal, arriscar, deixar a qualquer em má posição, aventurar, pôr a risco, expor a desar a honra, o crédito, ou a reputação de alguém. Com estas dições se variará o estilo, mesmo que o comprometer já não saia, como parece.»