Pergunta:
Ouvindo na rádio uma reação ao falecimento da professora Maria Helena Rocha Pereira – por sinal, um dos seus ex-alunos na Universidade de Coimbra –, estranhei que se lhe tenha referido como «a Mestre». Mestre não faz o feminino mestra? Será que estamos aqui também em presença do mesmo tipo de resistência ao feminino poetisa e juíza, por exemplo?
Os meus agradecimentos pelo esclarecimento.
Resposta:
O substantivo mestre tem de facto o feminino mestra, e, em referência a uma mulher, é esta segunda forma que se emprega geral e corretamente. Contudo, pode também tornar-se legítimo usar mestre, por mestra evocar um sentido que pode não ser o mais adequado a certas situações.
Mestra é morfologicamente o vocábulo do género feminino que corresponde a mestre. Querendo encarecer alguém pelo seus ensinamentos em áreas da ciência ou da arte, dir-se-á, portanto, «um Mestre» e «uma Mestra». Contudo, a forma de feminino conheceu ao longo da sua história alguma especialização semântica, levando a fixar aceções como «professora que ensina crianças» e «mulher do mestre (de ofício)» (ver dicionário da Priberam), ainda que também ocorra com o sentido genérico de «professora» (ver dicionário da Porto Editora e dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). Além disso, observa-se que, como designação de um grau académico, se usa mestre para os dois géneros: «ele é mestre em Estudos Clássicos», «ela é mestre em Estudos Clássicos» (cf. dicionário da Porto Editora e Vocabulário Ortográfico do Português). Compreende-se, portanto, que haja falantes que prefiram mestre mesmo quando falam de uma pessoa do sexo femini...