Pergunta:
Em assentos eclesiásticos, encontramos frases do tipo:
«João de tal, viúvo que ficou de Maria de tal, casou-se com Joana de tal.»
Napoleão Mendes de Almeida, no seu Dicionário de Questões Vernáculas, parece discordar de Vasco Botelho de Amaral quanto à função da conjunção que com valor temporal. Qual a função sintática da conjunção que nesse contexto?
Muito obrigado!
Resposta:
O que se pode aqui apurar não se afasta do que refere o consulente: é uma estrutura de análise não consensual.
Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 2003, p. 525) menciona de algum modo esta estrutura quando fala da construção de particípio passado seguido de que e do verbo ser; ex.:
«Acabado que foi o prazo destinado à revisão, os candidatos continuaram insatisfeitos.»
Bechara assinala que há discordância quanto à natureza deste que posposto ao particípio, e cita dois autores:
– é conjunção (Maximino Maciel), e a oração em que ocorre é um caso especial de oração reduzida de particípio;
– é pronome relativo (Epifânio da Silva Dias, Sintaxe Histórica Portuguesa, §91, c).
Bechara prefere a segunda perspetiva, que parece considerar a possibilidade de que ter como antecedente um adjetivo ou um particípio passado.
É, portanto, uma questão difícil, sem uma resposta inequívoca.