Pergunta:
Tenho notado que é comum em textos portugueses a construção «tem vindo a» + infinitivo para designar ações iniciadas no passado e que chegam ao presente, como na frase «o desempenho do Pedro na escola tem vindo a melhorar nos últimos meses». Posso estar enganado, e talvez uma consulta aos corpora das duas variantes mo esclareça, mas me parece que não se usa tal construção no Brasil: eu diria e escreveria, sempre, «o desempenho do Pedro na escola tem melhorado nos últimos meses». Como ambas as construções se usam em Portugal, gostaria de saber se há diferença semântica entre elas ou se se equivalem, e, caso se equivalham, qual delas é mais antiga na língua.
Resposta:
A perífrase formada por «vir a » + infinitivo ocorre com frequência significativa no português de Portugal. O mesmo não se pode afirmar acerca do português do Brasil, como bem observa o consulente.
A perífrase verbal «vir a» + infinitivo é frequente no português de Portugal, tendo especial relevo a sua ocorrência no pretérito perfeito do indicativo:
1. O desempenho dele veio a melhorar mais tarde.
A leitura que se faz desta construção é quase semelhante à do pretérito perfeito do indicativo do verbo principal («melhorou mais tarde»), mas junta muitas vezes um matiz concessivo, próximo do «acabar por» + infinitivo:
2. (apesar de tudo) o desempenho veio a/acabou por melhorar.
O pretérito perfeito composto da perífrase em causa – «tem vindo a melhorar» – é mais uma possibilidade, que junta o referido matiz ao pretérito perfeito composto do verbo principal.
Fazendo uma consulta ao Corpus do Português (de Mark Davies), depressa se conclui que tem fundamento a impressão descrita pelo consulente. Com efeito, são escassas, para não dizer nulas, as ocorrências de «vir a» + infinitivo no pretérito perfeito composto do indicativo que provenham de textos identificados como brasileiros. Os textos recentes não facultam exemplos, a não ser num caso, em que a ocorrência de «tem vindo a» + infinitivo provém afinal da citação de um texto de autor português. Os textos brasileiros mais antigos – do século XIX às primeiras décadas do século XX&#...