Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Há uma freguesia pertencente ao concelho de Braga, cujo nome é Maximinos. Há pessoas que dizem "maksiminos" e outras "massiminos". Como não sei a origem do nome, não sei qual a fonética correta.

Resposta:

Tendo em conta que a pronúncia tradicional de Maximino é com o x a soar como ss, "Massimino", como acontece com máximo (= "mássimo") – consulte-se o Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves –, é totalmente legítimo pronunciar o topónimo Maximinos como "Massiminos". A pronúncia com [ks], não sendo incorreta, talvez constitua o resultado de uma leitura hipercorreta da ortografia.

Quanto à origem deste topónimo, que é o de uma antiga freguesia da cidade de Braga (S. Pedro de Maximinos), há quem considere1 que evoluiu de uma «alusão a pessoas do local com o nome, ou o apelido, Maximino». No entanto, o historiador e toponimista Aníbal de Almeida Fernandes (1917-2002) rejeitava2 esta hipótese (bastante vaga, de resto), defendendo que Maximinos é o resultado da interferência erudita ou eclesiástica num topónimo que, na Idade Média, nas Inquirições de 1220, se atesta sob as formas Meiximios, Meximios, Meiximinos, Me(i)ximinhos, as quais indiciam uma evolução mais consentânea com os fenómenos de evolução fonética ocorridos na tran...

O termo <i>abléfaro</i>
Pálpebras "à grega"

Num programa com popularidade em Portugal – o concurso Joker  na RTP1 –, concorrentes e certamente muito público foram surpreendidos por uma palavra: abléfaro. Sabe-se que é um termo especializado, usado na área da Medicina, mas qual será o seu significado?

Pergunta:

Na introdução da vossa página inicial refere-se que este serviço é gracioso.

Creio contudo que deveria ser dito gratuito em vez de gracioso.



Resposta:

Está correto o uso de gracioso no contexto em causa.

Os registos dicionarísticos deste adjetivo apresentam-no como sinónimo de gratuito, pelo menos, desde 1789:

«Gracioso, adj. Que não custa dinheiro, gratuito [...].» (António de Morais e Silva, Diccionario da lingua portugueza, 1798)

Este registo é confirmado mais tarde por Frei Domingos Vieira, no seu Thesouro da Lingua Portugueza (1871): «[gracioso] Que é de graça, gratuito, que não custa dinheiro. – Serviços graciosos.»

Note-se ainda que gracioso é uma forma sintética, equivalente à locução adverbial «de graça» (como em «ser de graça»).

A expressão «serviço gracioso» tem, portanto, uso já centenário, com mais de 140 anos.

Pergunta:

Ouvia, por vezes, o meu avô Alcino dizer que estava "esgalfo". Pensei sempre que quisesse dizer que estava esfomeado.

A verdade é que agora não encontro o significado da palavra "esgalfo", como se não existisse...

Será que de facto não existe e eu ouvia-a sendo outra a palavra proferida pelo meu avô? Será que me podem esclarecer?

Bem hajam.

Resposta:

Regista-se esgalfado, com o sentido de «faminto», na região de Mogadouro (ver A. M. Pires Cabral, Língua Charra. Regionalismos de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2013). Pode, portanto, supor-se que esgalfo se relacione com o regionalismo transmontano, até porque é seu sinónimo.

Quanto ao uso da palavra esgalfo, exatamente com esta forma, não foi possível achar registo nas fontes impressas disponíveis, mas encontram-se ocorrências em páginas da Internet, por exemplo, em blogues que aludem precisamente à região de Aveiro:

(1) «Era tal o movimento de pessoas e animais, e incertos os horários, que desde logo se percebeu da necessidade de abrir balcão, ali no final da estrada, nas imediações da mota da barca da passagem, para dessedentar os viandantes e lhes aconchegar os estômagos mais esgalfos com um caldo de conduto, ou com um escabeche, em reparo urgente.» ("200 anos da Costa-Nova", 11/05/2008)

Também se encontra esgalfo, ainda que não exatamente com o mesmo significado, em páginas relacionadas com outros pontos da geografia da língua portuguesa:

(2) «Esgalfo – ESGALFO (adj.) – guloso; insaciável (Não há de comer que chegue para esse menino esgalfo).» (...

Pergunta:

Na região do Minho, é comum dizer-se «falar à taxi» (penso ser assim que se escreve) como sinónimo de «falar à toa».

Gostaria de saber qual a origem desta expressão e se se trata, efetivamente, de um regionalismo.

Resposta:

Não foi possível encontrar fontes impressas que refiram o uso mencionado pelo consulente. Na Internet, as ocorrências são praticamente nulas; no entanto, merece registo um caso talvez ilustrativo da locução em apreço, no contexto de uma discussão à volta do Vitória Sport Clube de Guimarães:

(1) «Aqui também assume que fala “à táxi”. Não conhece, mas a nossa é melhor. É como o nosso centro histórico [Guimarães]. É o mais bonito do mundo, ainda que não se conheça outro.» (comentário do blogue D. Afonso Henriques, 25/08/2010)

Da leitura da frase (1) pode inferir-se que quem fala «à táxi» fala do que «não conhece», ou seja, «falar à táxi» será o mesmo que «falar à toa» ou «dizer o (lhe) que apetece». Como o blogue que faculta o exemplo reúne textos de pessoas que manifestam reiteradamente o seu vínculo à cidade de Guimarães, igualmente é lícito supor que a locução seja efetivamente característica do português que se fala no norte de Portugal. Ainda assim, um único exemplo constitui prova escassa, e o mais prudente será considerar que a frase (1) atesta apenas o uso da locução «falar à táxi» no português de Portugal, sem haver certezas quanto a uma distribuição geográfica mais precisa.